Cena Política

O "complexo de Mastim" que faz Lula dirigir mal a política internacional brasileira

Confira a coluna Cena Política deste sábado (26).

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Cadastrado por

Igor Maciel

Publicado em 25/08/2023 às 20:00
Análise
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A formalização do convite para que Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã ingressem no Brics foi um erro (mais um) estratégico da diplomacia brasileira baseado no complexo de vira-lata ao contrário” que Lula (PT) parece carregar.

É que o próprio presidente disse, há uns dez anos, que o brasileiro tinha complexo de vira-lata. Depois, tornou a usar a expressão na campanha de 2022: “Eu estou convencido que a gente vai consertar. A gente vai readquirir o respeito no mundo. Os americanos vão nos respeitar porque no nosso governo será abolido o complexo de vira-latas”.

Mastim Tibetano

O problema é o exagero. Lula, na verdade, tem complexo de “Mastim Tibetano”. O Mastim Tibetano é a das raça de cachorro mais caras do mundo. Na Asia, são utilizados para fazer a guarda de palácios e protegem ovelhas do ataque de leopardos. Para ter um em casa, é preciso desembolsar alguns milhares de reais.

O complexo de vira-latas seria repreensível, mas o Brasil também está longe de ser um Mastim Tibetano. No mundo dos cachorros, somos um Shih-tzu fofinho, no máximo.

Só o presidente brasileiro parece não aceitar isso.

Perder para…

O Brasil já foi a sexta maior economia do mundo, por um curto período, em 2010, mas terminou o ano de 2022 como a 12ª economia do planeta, atrás de países como Itália, Rússia e Irã. Este último, inclusive, foi convidado a entrar no Brics e quando isso acontecer oficialmente, vai rebaixar o Brasil dentro do grupo do qual é fundador.

E Lula aceitou isso, uma proposta da China e da Rússia, com a promessa, bem vazia, de que pode ter apoio para uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, que hoje só tem Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China.

…não ganhar

O problema é que o Brasil abriu mão de parte do protagonismo em um clube do qual é um dos donos pela promessa de que, “pode ser que um dia”, a China apoie a pretensão brasileira de entrar em outro clube, mais elitizado, com gente mais importante.

É o complexo de Mastim Tibetano de Lula falando mais alto. O mesmo complexo que insistiu em fazer Copa do Mundo e Olimpíada no Brasil, porque “também somos primeiro mundo”. E só tivemos prejuízo.

Japão, não

E por que não vai dar certo? A entrada permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, se acontecer, vai demorar muito. Quando a China, inimiga dos EUA, disser que vai colocar o Brasil no Conselho de Segurança, os americanos vão, imediatamente, contrabalancear indicando o Japão para o mesmo conselho.

Japoneses e Chineses não se entendem apenas há algumas centenas de anos. A relação entre eles, quando é amistosa é só por necessidade, desde Gengis Khan. E a China tem horror à ideia de ter o Japão como membro permanente no conselho.

Limites do STF

Quem conhece o próprio limite, já começa acertando. A frase é importante ao considerar o Supremo Tribunal Federal e sua atuação recente em temas que não deveriam precisar da atuação do Supremo Tribunal Federal. O exemplo mais recente é o julgamento sobre porte de drogas.

Imagine que o maior ponto de discussão entre os ministros da mais alta Corte jurídica do país esta semana foi definir a quantidade de maconha que alguém pode carregar nos bolsos para não ser responsabilizado criminalmente. Nesse ponto, bom para Edson Fachin, o único que lembrou da existência do Congresso Nacional e defendeu que os deputados e senadores se preocupassem com isso.

Quanto?

Longe da intenção desta coluna especular com que autoridades conhecedoras do assunto maconha os magistrados mais importantes do país foram se consultar. Mas, certamente foram perguntar a alguém, porque cada um surgiu com uma quantidade diferente para tipificar crime de tráfico ou não, no caso do porte.

As decisões variaram de 25 gramas, passando por 60 gramas e até 100 gramas. Um detalhe é que Cristiano Zanin divergiu e votou contra a descriminalização, mas concordou em diferenciar o usuário do traficante. E ainda assim deu seu pitaco: 25 gramas.

Legislando

Fachin foi o único a dizer que não tinha segurança para definir a quantidade, que isso precisava de critérios objetivos e deveria ser estudado pelos parlamentares no Poder Legislativo antes de uma definição. Foi voto vencido. Todos os colegas querem decidir quantas gramas fazem um traficante.

Vale lembrar que já há maioria para diferenciar o usuário do traficante, mas a descriminalização ainda não está garantida. Cristiano Zanin, indicado por Lula há algumas semanas, votou contra e o julgamento está 5 x 1. André Mendonça, o “terrivelmente evangélico”, pediu vistas para estudar o caso.

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