O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou há alguns dias que se não fosse pelo centrão o Brasil já teria virado uma Venezuela. Ele está correto. E isso é péssimo. Lira quer que o centrão seja visto como algo bom para o país, que seja reconhecido como algo positivo. Não é para tanto.
Mas não está errado quando diz que o grupo acaba sendo o fiel da balança nas decisões importantes. O centrão é uma fonte de pragmatismo no meio da maluquice. É um pragmatismo interessado e ambicioso, mas em meio a populistas com pouca noção crítica, ego inflado e inteligência limitada, acaba colocando razão no discurso nacional. Merece elogios por isso?
Elogiar o centrão é mais ou menos como alguém ser assaltado e levar um tiro na perna enquanto se dirigia ao aeroporto para pegar um avião que posteriormente acabou caindo com todos a bordo. A vítima do assalto escapou do desastre maior graças ao tiro do assaltante.
Pela ótica de Lira, o passageiro deveria mandar flores, ou dinheiro, ao ladrão.
Os americanos têm uma expressão mórbida para isso: “Sorte de Kokura”. Em 9 de agosto de 1945, um bombardeiro da Força Aérea dos EUA sobrevoou a cidade de Kokura, no Japão, com o objetivo de soltar uma segunda bomba atômica em solo japonês.
Na lista de cidades que os oficiais tinham em mãos, Hiroshima era a prioridade, depois seria Kokura e a terceira opção era Nagasaki. Em Hiroshima o bombardeio aconteceu. Quando o segundo avião foi bombardear Kokura encontrou o tempo fechado com uma tempestade repentina e, sem visibilidade, a ordem foi seguir para a próxima cidade da lista onde a missão foi cumprida.
“Sorte de Kokura” é uma expressão de extremo mau gosto no Japão. O motivo? É só perguntar aos habitantes de Hiroshima.
É de mau gosto Lira querer que o centrão seja reconhecido como algo bom por evitar uma coisa pior, sendo que o preço da atuação do grupo comandado por ele é alto e pago por todos os contribuintes no fim das contas.
O centrão não ocupa agora, como não ocupava no governo Bolsonaro ou em qualquer outra gestão, espaços públicos com a intenção de desenvolver determinada área. Seus integrantes querem apenas as áreas por onde passam as maiores verbas e de onde se pode celebrar maiores contratos.
Você não vê ninguém brigando pelo Ministério da Pesca, por exemplo, com todo respeito ao pernambucano André de Paula (PSD) que está por lá.
O centrão é um tipo de organismo, como um patógeno oportunista, que se entranhou no sistema político brasileiro, que suga suas energias para sobreviver e ataca quem o ameaça.
Se você tentar ignorar ou se livrar dele, o organismo todo vai sofrer. Collor e Dilma tentaram e não terminaram seus mandatos.
O centrão às vezes salva, é verdade, mas não quer dizer que mereça elogios. É normal e aceitável a convivência com com algumas doenças, mas somente até que um remédio apareça.
Se confirmado o dolo, o crime cometido pelo ex-superintendente da PRF Silvinei Vasques é gravíssimo. Ele teria utilizado a estrutura da instituição tão cara aos brasileiros para tentar interferir no curso de eleições democráticas.
Os fatos são muito graves e só não atrapalharam ainda mais a eleição porque SIlvinei foi chamado à época pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, e recebeu uma ordem expressa para encerrar todas as blitzes que aconteciam no Nordeste com a intenção de evitar que eleitores petistas chegassem às urnas.
Mas estamos falando de algo que aconteceu há nove meses. Era preciso haver algum fato novo para que a prisão acontecesse somente agora. E houve.
Se não foi preso logo depois do crime, se não houvesse um fato novo, se a investigação ainda não terminou e ninguém foi julgado e condenado, por que ele foi preso nove meses depois?
A Polícia Federal descobriu conversas nos telefones de outros policiais rodoviários envolvidos nos bloqueios e o conteúdo chamou a atenção. Eles teriam recebido orientações específicas para atuar em locais onde Lula havia tido votação mais alta.
As ordens teriam partido de Silvinei. Como o ex-superintendente já prestou depoimento sobre o assunto e negou os atos, a atitude é considerada uma interferência nas investigações. Por isso ele foi preso.
O deputado federal Fernando Rodolfo (PL) reagiu, ontem, à declarações do deputado estadual e presidente do PSB, Sileno Guedes, que criticou o atual momento do governo Raquel Lyra. Sileno havia afirmado que este seria "um ano perdido no planejamento da segurança em Pernambuco”.
Para Rodolfo, Sileno "esquece convenientemente que Pernambuco e o Recife passaram oito anos perdidos na área de segurança nos governos do PSB".
O deputado federal esteve recentemente com a governadora Raquel Lyra no Palácio do Campo das Princesas. Rodoldo é cotado pelo partido dele (PL) para ser candidato à prefeitura de Caruaru, no Agreste.