Cena Política

O extraordinário Jarbas Vasconcelos e o rico legado que um currículo é capaz de deixar

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Igor Maciel

Publicado em 05/09/2023 às 17:39 | Atualizado em 05/09/2023 às 17:51
Análise
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O ex-governador Jarbas Vasconcelos (MDB), que agora interrompe sua trajetória ocupando cargos públicos, após o anúncio de sua aposentadoria nesta terça-feira (5), é um dos "sopros" que Nelson Rodrigues costumava citar.

Nelson dizia que havia um gênio para cada 10 milhões de cretinos fundamentais. O escritor afirmava que a mediocridade é uma constante, interrompida por sopros de sensatez e originalidade. Jarbas está entre os gênios.

Populismo

Em eleições, ninguém rezava para ele como santo, como acontece com os populistas mais baratos e comuns. Calado, sisudo, tímido até, Jarbas nunca levou jeito para ser populista e nunca nem admitiu sustentar alguma demagogia para ganhar voto.

Mas era autêntico de uma forma tão natural e justa que nunca deixou de ser eleito por essas questões.

Sem atraso

É por isso que todo mundo que andava com ele em campanhas acabava cheio de histórias Em 2018, quando foi candidato ao Senado pela última vez, foram várias as situações. Em uma delas, atrasaram o comício, esperando um dos candidatos.

Jarbas, que estava no local desde a hora marcada, esperou pacientemente o quanto deu. No meio do evento, Humberto Costa (PT), também candidato na chapa, anunciou o colega e ninguém subiu ao palco. O ex-governador tinha ido embora. Nunca tolerou atrasos e não ia tolerar agora pra fingir que estava tudo bem.

Ainda assim, terminou eleito.

Pelo Sport

Outra vez, numa eleição anterior, começou uma caminhada com o candidato ao governo, foi andando na frente da multidão e perderam ele de vista, ninguém via mais Jarbas. Já bem adiante, com a caminhada no fim, foram encontrá-lo num fiteiro.

Parou para assistir a um jogo do Sport e lá mesmo ficou.

Naquele ano, também foi eleito.

Currículo

Em sua vida de disputas eleitorais, Jarbas só não foi vereador e presidente da República, mas passou pela Prefeitura do Recife, pela Assembleia Legislativa, pela Câmara Federal, Governo de Pernambuco e Senado. Nunca conseguiu um voto apoiado apenas em construções míticas e ilusões messiânicas, sempre apresentou um currículo de trabalho e propostas consistentes antes de disputar um cargo.

Melhor

Esse currículo, aliás, virou uma obsessão. Quando era prefeito, era “o melhor do Brasil”, quando era governador, era “o melhor do Brasil”. Teve o cuidado de construir uma história baseada na aprovação dos eleitores que lhe confiavam o voto.

E assim foi alcançando degraus cada vez mais elevados.

Saber sair

Grandes homens, aqueles que mais se distanciam dos cretinos fundamentais, entram na vida pública com o suor do próprio trabalho e se mantêm nessa vida com sucesso a partir dos resultados que apresentam.

Mas o que difere os grandes homens ordinários daqueles realmente extraordinários é saber o momento em que precisam se distanciar, por já terem cumprido sua trajetória.

Aplausos

Não há atitude mais digna para um homem público do que olhar para o próprio currículo, ter consciência de suas realizações e de seu legado, avaliar que conseguiu dar sua contribuição e saber se afastar com honra e respeito dos que continuam sua lida, como exemplo para os que virão.

Jarbas Vasconcelos merece muito os aplausos que, certamente, sempre virão.

Legado

E ao senador que assume, agora oficialmente, Fernando Dueire (MDB), boa sorte e bom trabalho.

Porque ser o portador de um legado desses é uma responsabilidade imensa que não se carrega com as mãos, mas com o espírito.

 

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