Cena Política

Quando se fala na Compesa, socialistas dizem que a empresa é um sucesso. Para quem?

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (8/9)

Imagem do autor
Cadastrado por

Igor Maciel

Publicado em 07/09/2023 às 20:00
Análise
X

Não faz muito tempo, então é fácil lembrar. Na campanha de 2022, sempre que alguém falava em privatizar ou fazer concessão na Compesa, parece que saltavam socialistas de todos os lugares, brotavam integrantes do PSB para reclamar que “a Compesa dá lucro” ou que estavam querendo “vender um patrimônio de Pernambuco que é um sucesso”.

Quem mais defendia a privatização, Raquel Lyra (PSDB) e Miguel Coelho (UB), eram os que mais apanhavam.

Vivendo de…

Aí, agora, fica-se sabendo que a Compesa teve que pegar dinheiro emprestado com o Governo de Pernambuco, seu principal acionista, para poder pagar a folha salarial.

E que isso não foi só uma vez, como explicou o colunista deste JC, Fernando Castilho: “a Compesa, que dizia estar fazendo grandes investimentos na ampliação dos seus sistemas, não conseguia pagar as contas do mês e para isso fez uma série de pequenos empréstimos”.

…mesada

É como o garoto que diz não precisar de emprego e se orgulha de uma vida de luxo, mas tem que pedir dinheiro ao pai pra pagar a conta de luz.

A Compesa não entrega água direito, não entrega saneamento direito, pega dinheiro emprestado pra pagar as contas do mês, mas “é um sucesso e não pode ser vendida”.

É um sucesso para quem? A questão fica no ar.

Lula disse

Lula (PT) disse, e causou bastante repercussão, que os votos dos ministros do STF não deveriam ser divulgados: “A sociedade não tem que saber como é que vota um ministro da Suprema Corte. Sabe, eu acho que o cara tem que votar e ninguém precisa saber. Votou a maioria 5 a 4, 6 a 4, 3 a 2. Não precisa ninguém saber foi o Uchôa que votou, foi o Camilo que votou. Aí cada um que perde fica com raiva, cada um que ganha fica feliz”.

Dino disse

Após a declaração do chefe, o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), foi o único que correu para reforçar a ideia e garantir que “concorda”.

Dino, que é candidato a uma vaga no STF, chegou a citar a Suprema Corte Americana como exemplo do que Lula queria dizer e afirmou que é uma “discussão válida”.

E explicou, sobre a Corte Americana: “Ela delibera a partir dos votos individuais e é comunicada a posição da Corte e não a posição individual desse ou daquele ministro”.

Pois bem. Estão errados os dois.

Lula errou

Lula está errado porque não existe democracia sem transparência e reforçar a democracia passa longe de esconder como votam os juízes em cortes superiores, como sugere o presidente da República. Ao contrário, deveríamos estar preocupados era com os votos secretos dentro do Congresso.

Votar escondido, como acontece em alguns casos, é o que deveria ser proibido na Câmara e no Senado, além do STF.

Dino também

Dino está errado, também, porque na Suprema Corte Americana todos sabem, sim, em que tese cada ministro votou.

O que acontece lá é que um ministro (como se fosse o relator) escreve o voto inicial, e, eventualmente, outro elabora o voto dissidente (se houver).

Todos escolhem e a adesão de cada ministro a um dos posicionamentos é divulgada.

Holofote

O que não existe na Suprema Corte Americana, e em outras cortes superiores pelo mundo, é a intensidade de holofotes para alimentar vaidades que existe no Brasil.

O que não existe é um ministro passar meia dúzia de horas lendo um voto, cheio de câmeras e luzes voltadas para si, como se estivesse num programa de auditório.

O que não existe em outras cortes é ministros discutirem abobrinhas pessoais em público durante as sessões.

Há dias e votações em que um Sílvio Santos no meio daquele pleno não soaria estranho.

Mudem

O que tem que ser revisto é o nível de exposição vaidosa dos ministros do STF, não a publicidade de seus votos. É preciso preservar a imagem privada dos ministros e isso se faz com menos exposição pessoal, não com censura à publicidade de suas decisões.

Se querem mudar o sistema, que comecem acabando com os votos lidos por horas em frente à TV, que os juízes comecem a se preservar quando estiverem em público e que diminuam o grau de exposição política em suas vidas sociais.

Tags

Autor