O enfraquecimento dos partidos políticos em Pernambuco e o dilema dos reis
Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (15)
Atente, caro leitor, para uma reflexão sobre os partidos políticos que precisa ser feita em Pernambuco: um partido ou grupo político só é forte de verdade se ele puder ser partido, dividido, separado em grupos menores. E, ainda assim, continuar sendo forte.
Cartório
É uma questão de amplitude da representatividade. Sem isso, o partido é apenas uma agremiação ancorada em cartório e na Justiça Eleitoral, com um proprietário formal. Infelizmente, estes são a maioria hoje.
Arraes
Há alguns bons exemplo pernambucanos para entender a questão. O grupo de Miguel Arraes foi um deles. Arraes era a maior liderança do estado, no PSB ou no MDB, mas havia vários grupos de interesse político, econômico e geográfico que o seguiam. Jarbas comandava um desses grupos.
Mesmo quando se afastou do líder, ambos seguiram fortes.
Jarbas
O próprio Jarbas, quando criou a União por Pernambuco, tornou-se líder de um grupo com vários líderes que iam de Marco Maciel, passando por José Mendonça e Sérgio Guerra, até Inocêncio Oliveira e Fernando Bezerra Coelho.
Eduardo
Depois, alguns desses grupos foram incorporados por Eduardo Campos em seu PSB. Uma base que reuniu com exemplar competência quase toda a fauna política do estado e garantiu 16 anos de domínio no Palácio do Campo das Princesas para os socialistas.
Sem que Eduardo nunca perdesse o protagonismo.
O rei
Qual grupo ou partido em Pernambuco, hoje, pode dizer que tem essa estrutura e esse funcionamento ancorado em várias forças?
Hoje, os nomes mais importantes em seus partidos têm trabalhado é para enfraquecer qualquer aliado regional que possa ter algum protagonismo. Isso é ruim para a democracia e para o desenvolvimento do estado. É ruim para eles próprios, como líderes.
O rei mais poderoso é o que tem aliados poderosos como súditos. Um rei que só tem empregados, nem é rei de verdade. É verdade que isso gera um dilema. Um rei que tem aliados poderosos precisa conviver com a ameaça deles tentando tomar o trono o tempo todo.
Mas que rei ele será e o que construirá, se viver isolado em seu trono?
Bateu e levou
Durante o julgamento de um dos réus pelos atos de 8/1, o advogado de defesa criticou os ministros do Supremo Tribunal Federal dizendo que eles eram “odiados pela população”.
Não adiantou para nada, não sensibilizou os magistrados e o réu foi condenado a 17 anos de prisão por cinco crimes.
Em seu voto, a ministra Carmen Lúcia deu uma resposta. Disse que a declaração do advogado só tinha sido possível porque o Brasil ainda é uma democracia, apesar da tentativa do réu em janeiro.
Para pensar
O resultado do julgamento, com a condenação, foi tido como um necessário exemplo aos futuros “manifestantes” políticos e se espera que forme uma jurisprudência ampla.
Há um exercício de questões que é interessante de se fazer: havendo o entendimento que se forma hoje sobre essas manifestações violentas com viés de atentado ao Estado Democrático de Direito, como seriam tratados os protestos violentos contra o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2015 e 2016?
Aqueles que cobriam o rosto, quebravam patrimônio e avançavam sobre a imprensa, como aconteceu até o dia em que a então presidente deixou o Palácio do Planalto, estariam presos?
No futuro, todos serão?
Muda pra não mudar
O Congresso Nacional caminha para aprovar uma reforma eleitoral que, mais uma vez, beneficia políticos com mandato, dificulta a renovação do Legislativo e limita ainda mais a entrada de mulheres na política. Isso acontece num país cujo número de eleitoras é maior do que o de eleitores, o que demonstra a ausência de sintonia entre os parlamentares e a população que garante seu acesso aos cargos que ocupam.
Quase escondidos
As discussões sobre as mudanças que já devem valer para a eleição de 2024 foram quase escondidas do grande público. Pouco se falou no assunto, pouco se divulgou e, não fosse por alguns estudiosos do assunto que alertavam sobre os problemas nas últimas semanas, como foi o caso do professor Maurício Romão, que deu entrevista esta semana à Rádio Jornal, muita gente só ia descobrir que a regra mudou às vésperas da eleição.