Cena Política

As vaquinhas espertas que fizeram refém um presidente vaidoso

Confira a coluna Cena Política desta quarta-feira (20)

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Igor Maciel

Publicado em 19/09/2023 às 15:37 | Atualizado em 19/09/2023 às 15:37
Análise
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A dependência de Lula com o centrão cabe uma analogia. Era uma vez um produtor que tinha várias vaquinhas e vendia o leite ao mercadinho da sua cidade.

Querendo agradar seus clientes, o produtor ofereceu muito mais leite do que tinha em estoque e ficou dependendo das vaquinhas para poder entregar a encomenda.

As vaquinhas, espertas, começaram a cobrar mais ração, mais água e, vendo que sempre eram atendidas pelo desespero do produtor que continuava prometendo aos clientes mais do que tinha em estoque, passaram a exigir todo tipo de luxo antes de liberarem o leite.

O produtor virou refém do seu próprio rebanho.

Lisboa

A historinha acima é uma representação que vem à mente após ler uma análise publicada pelo economista Marcos Lisboa no Brazil Journal. As vaquinhas são o centrão, o produtor é o presidente da República e os clientes são os brasileiros que esperam a realização de promessas feitas durante a campanha.

Tudo o que se promete tem custo. E esse governo está gastando demais, sem qualquer garantia de que haverá dinheiro para pagar.

Leite que nem existe

Lisboa alerta, por exemplo, para a maneira como foi construído o orçamento do governo Lula. “Foram incluídas receitas que se espera advir de medidas ainda não aprovadas no Congresso, e abusou-se do otimismo na fixação da despesa”, explica.

Antes de existir

Para que dê tudo certo, como o planejado, o orçamento está contando com R$ 168 bilhões de receitas que ainda dependem da boa vontade de deputados e senadores. Esse dinheiro, que já tem até destino, só vai existir mediante projetos aprovados pelos parlamentares.

O leite já está negociado, vendido e vai ter que aparecer de qualquer jeito. O problema é que as vaquinhas sabem disso.

Reféns

Bolsonaro (PL) ficou refém do centrão quando esteve ameaçado de impeachment. Com popularidade em franca decadência no meio da pandemia, o então presidente olhou para o Congresso e se viu com uma base que não passava de 50 mirrados apoiadores. Precisou lotear o poder para sobreviver.

Lula já tinha uma base de sobrevivência, mas prometeu tanto, mais do que seu grupo podia entregar no prazo curto, e agora também está refém do centrão.

Admirado

Os ministérios e a Caixa Econômica são apenas o começo do problema.

Lula tende a ser benevolente com a possibilidade de ser admirado, mesmo que isso venha a quebrar o país depois que ele não for mais presidente e puder jogar tudo no colo de um sucessor.

Ele vai continuar vendendo o que não tem para ser bem quisto, mesmo que a “empresa” quebre.

Já aconteceu antes, com o mesmo Lula, então há motivos para preocupação.

Colômbia

Nos próximos dias, o deputado André Ferreira (PL), num grupo com outros cinco deputados, fará uma viagem à cidade de Medellín, na Colômbia. Vão lá para conhecer ações que fizeram a cidade modelo em segurança pública.

A história…

Há uma empolgação, até meio ingênua, quando se fala na transformação de Medellin de um barril de pólvora em berço de segurança. Muitos parecem acreditar na ideia de que bastou a polícia guardar suas armas e combater traficantes com ações de cidadania e desenvolvimento urbano para que os traficantes “desaparecessem”. Não foi assim.

Isso é só a parte bonitinha da história.

…completa

Precisou ter muito sangue e as forças policiais chegaram a se equiparar em violência aos criminosos para que as políticas de cidadania fizessem efeito depois.

Antes, os policiais tiveram muita estrutura para trabalhar, armamento pesado foi utilizado na guerra contra os traficantes e um investimento pesado, em parte bancado pelos EUA, foi alocado na repressão ao estado paralelo que mandava na região.

Polícia

Medellin é exemplo para o mundo, sim, e até merece a visita de todas as comissões que já foram à cidade aprender sobre as ações realizadas por lá. Mas é preciso absorver e replicar deles a lição completa, não só a parte bonita.

O primeiro investimento precisa ser no efetivo e na inteligência policial para tornar o crime um negócio arriscado.

Onde não há policiais suficientes e eles estão mal aparelhados os bandidos atuam tranquilos. E aí não tem ação de cidadania que resolva.

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