Se é para discutir os sindicatos, que tal acabar com a unicidade e exigir eficiência?
Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (21)
É preciso ficar atento ao discurso conjunto de Lula (PT) e Joe Biden, presidentes do Brasil e dos EUA, sobre o sindicalismo e a valorização do trabalhador. Os sindicatos americanos funcionam num modelo diferente (e muito melhor) em relação ao sistema brasileiro. As leis trabalhistas são diferentes.
É preciso ter cuidado para não parecer que, de repente, dar dinheiro aos sindicatos, como pretende o ministério do Trabalho daqui, é o “normal”. Como se fosse algo que o mundo inteiro faz, até os EUA.
Obrigatório
Os dois líderes defenderam a importância de direitos trabalhistas e de melhores condições para os trabalhadores de aplicativos, além de anunciarem um esforço conjunto pelo fortalecimento dos sindicatos.
Isso tudo é louvável. Mas o Brasil está, hoje, em plena negociação no Congresso sobre o retorno da contribuição sindical obrigatória. Chegou-se a cogitar um percentual do trabalho anual que seria descontado para os sindicatos, independente de você estar filiado ou não.
Ineficiência
Se isso acontecer por aqui, seria um prêmio pago com o suor do trabalhador à ineficiência da representatividade sindical.
Sim, porque se é para entrar no mérito da importância dos sindicatos, eles precisam comprovar isso com ações e não com discurso político vazio e raso, de cunho partidário, como é comum.
Era ruim sem dinheiro
Há muitos sindicatos que reclamam das dificuldades para trabalhar por não estarem recebendo recursos como recebiam antes de a contribuição sindical ter sido modificada na reforma trabalhista, em 2018.
Mas antes mesmo de terem cortado os recursos, esses sindicatos já eram extremamente ineficientes e carentes de representatividade.
Unicidade
Os sindicatos precisam existir, sim, e precisam ser fortes. Mas o modelo precisa ser completamente modificado. É preciso discutir a unicidade sindical, por exemplo. Os grupos de sindicalistas estariam dispostos a algo assim?
Por que somente pode haver uma representação para cada categoria? E se os trabalhadores pudessem escolher a qual sindicato se filiar de acordo com a eficiência das conquistas de cada um desses grupos.
E se esses sindicatos fossem remunerados de acordo com o sucesso de suas lutas, e não apenas por terem sido os primeiros a se estabelecerem?
Quando eles conseguirem um aumento acima da inflação, os filiados dão sua contribuição, por exemplo. Que tal?
Lá é assim
Sabe onde isso já é regra? Nos EUA, o tal imperialista, esse mesmo de Joe Biden de quem Lula agora resolveu ser amigo. Seria bom que Lula trouxesse isso para cá.
Nos EUA, cada empresa tem o seu sindicato, não a categoria. Isso faz com que os filiados e a diretoria do grupo tenham plena vivência da rotina de seus integrantes e lutem por direitos específicos para o dia-a-dia daquele ambiente, respeitando a realidade de cada empregador na hora de negociar.
Ter um sindicato para cada empresa ajuda os acordos a serem mais justos para o patrão e mais vantajosos para os empregados.
Justo?
No Brasil, o sindicato negocia o mesmo percentual de aumento no salário dos trabalhadores de uma empresa com boa saúde financeira e também dos empregados de uma empresa à beira da falência.
Toda a categoria sai prejudicada com esse sistema, mas o sindicato, no modelo que está para voltar por ordem do ministro do Trabalho, recebe sua parte financeira mesmo assim.
É justo?