A perspectiva dos números e a consolidação de um favoritismo
Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (05)
Para começar esta coluna com muita honestidade, é imprescindível lembrar que ainda falta um ano até a eleição de prefeito na capital. Se há uma verdade no mundo a ser respeitada é a da capacidade que a realidade tem para ser transformada pelos acontecimentos.
Mas é impossível ignorar que, após quase três anos de gestão, o prefeito João Campos (PSB) não aparece em nenhum cenário realista com menos do que 60% em votos válidos.
É cedo para falar de eleição ganha, mas já é tarde para esperar que ele vá cometer tantos erros em 12 meses ao ponto de não seguir como o grande favorito na disputa até as urnas. Resultado, é outra história.
Realidade
O grande problema para a oposição ao atual prefeito é a falta de opositores que tenham consistência eleitoral traduzida em intenção de voto. Uma pesquisa não pode ser feita para que a fauna política descubra se tem chance fora de suas pequenas bolhas. Ela deve atender à realidade e usando o mundo real como limite, daqueles que realmente se colocam no jogo, não se encontra ninguém que ameace o atual prefeito.
Fato novo
Em 2022, por exemplo, por algumas semanas houve uma expectativa sobre a possibilidade de José Múcio ou Ana Arraes irem para a eleição. Eles poderiam mudar o cenário caso decidissem disputar, mas não aconteceu.
Para a prefeitura do Recife, nem isso existe. Nenhum nome natural, fora dessa pesquisa, existe com potencial para interferir no cenário. Seja quem for, precisa de uma construção que não é fácil de fazer em 12 meses. Possível, é. O tempo é que é muito curto.
Consistência
A tendência é de consolidação dos números do prefeito.
A evolução da pesquisa JC/Ipespe mostra um dado interessante em relação à avaliação do governo municipal. Em maio, 45% consideravam a gestão ótima e boa. Hoje, esse índice de ótimo e bom passou para 55%. É um crescimento de 10 pontos percentuais em 5 meses. Quando você observa o gráfico do levantamento, percebe que todos as outras opções perderam pontos em proporções diferentes.
De onde veio
O índice dos que achavam o governo regular caiu 7 p.p.. O índice dos que consideram o governo Campos ruim caiu 2 p.p. e o índice dos que não sabem avaliar caiu 1 p.p..
Quando somados, chega-se exatamente nos 10 pontos percentuais. Em níveis diferentes, o prefeito está ganhando adeptos entre os desconfiados (regular), os que fazem a oposição (ruim e péssimo) e até entre os indecisos (Não sabe).
Não é um movimento aleatório de opinião pública. É algo consistente.
Análise
Em entrevista à Rádio Jornal, o cientista político Antonio Lavareda analisou os números da pesquisa JC/Ipespe e, além dos resultados de João Campos, destacou João Paulo (PT) e Priscila Krause (Cidadania).
É preciso observar os dados nos diferentes cenários e eles, mesmo com a vantagem do atual prefeito, destacam-se nisso.
Outro João
De fato, fora o líder Campos, o petista é o melhor colocado em qualquer cenário do qual participa. Sua pontuação varia entre 14% e 20%, alcançando o melhor resultado no cenário em que Daniel Coelho (Cidadania) e Túlio Gadêlha (Rede) são retirados da lista.
Priscila Krause (Cidadania) tem seu melhor resultado no cenário em que os nomes de Túlio, Daniel e João Paulo são retirados, chegando a 10%.
Krause e Coelho
Daniel Coelho e Priscila Krause são do mesmo partido e ambos fazem parte da gestão de Raquel Lyra no governo do Estado. Por isso é de se supor que apenas um será candidato, se for.
A pesquisa aponta vantagem numérica de Daniel, que chega a 11% em seu melhor cenário, contra 10% de Priscila.
Mas há outras coisas a se observar.
Coelho e Krause
Por exemplo, no cenário de votos válidos, excluídos os indecisos, e quando todos os nomes são colocados, Daniel tem 9% e Priscila tem 6%.
Mas quando se exclui o secretário de Turismo, Krause ganha 3 pontos percentuais e sobe para 9%.
Já quando o nome da vice-governadora é excluído, o percentual de Daniel não se altera. Ele não cresce. Quem sobe com a saída de Priscila é João Campos e Gilson Machado (PL).
Quem vota em Daniel também vota em Priscila, mas o contrário não acontece.
Entrevista
João Campos (PSB) conversou com a Rádio Jornal, no programa Passando a Limpo, pouco depois da divulgação da pesquisa. Foi questionado sobre os problemas da cidade por mais de 30 minutos e conseguiu apresentar planos para cada uma das questões apresentadas.
Está aí, talvez, um dos segredos dos bons resultados nas pesquisas: o prefeito não tem dificuldade em admitir problemas na cidade, e tem trabalhado em projetos para resolvê-los.
Toda a conversa e os temas tratados na entrevista estão bem detalhados nesta edição do JC.
Caiu
A pesquisa JC/Ipespe também avaliou as gestões Raquel Lyra (PSDB) e Lula (PT) entre os eleitores recifenses. E a governadora não está bem.
A aprovação do governo estadual caiu 11 pontos percentuais em relação à última pesquisa, realizada em maio. Antes, 55% aprovavam o governo Raquel e agora são 44%. A desaprovação que era de 36% subiu para 47%.
Precisa
O resultado coloca em xeque a força da governadora para lançar um nome que venha a disputar a prefeitura da capital em 2024. Daniel Coelho, Priscila Krause ou até Túlio Gadêlha que também já foi apontado como possibilidade, largam mal nos números e o apoio de Raquel pode não ajudar caso a aprovação do governo não melhore na Região Metropolitana.
Dilema
Raquel está diante de um dilema que precisará ser resolvido com rapidez. Se lançar um candidato que seja derrotado com grande vantagem, carregará a derrota como sua. E, se não lançar ninguém, permitirá que o atual prefeito tenha votação tão estrondosa, talvez a maior da História, ao ponto de sair da urna como seu adversário natural para 2026.
Não é razoável para o Palácio, em nenhum aspecto, ignorar a eleição do Recife.
“Luquel”?
A solução política para a governadora pode passar por Lula e pelo PT. O presidente da República está com seu maior índice de aprovação da História no Recife, chegando a 67% de menções positivas. O nome com a melhor colocação contra João Campos, hoje, é o de um petista. Raquel não teria problemas em caminhar num projeto local com Lula, se isso trouxer vantagem para o estado, mas faria isso numa eleição?
E o eleitor
Se ela fizer, pode abalar a candidatura do atual prefeito. Só tem um detalhe: hoje, o PT está com João Campos, com o PSB, e até tem cargos na prefeitura.
Sem falar no trabalho que daria para explicar tudo isso ao eleitor.