O PT se vende como oposto de Bolsonaro, mas só trabalha para desconstruir Michel Temer
Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (26)
É curioso que os petistas vivam baseando sua própria necessidade de existir e ter poder no contraponto direto ao governo Bolsonaro. É como se o futuro do Brasil dependesse deles estarem a postos para defender a democracia contra o ex-presidente.
Mas, na verdade, o que parece ser prioridade para a gestão atual é desmontar o que foi feito no governo de Michel Temer (MDB), não no de Bolsonaro. Basta olhar um pouco para este santo ano de 2023.
Mudou?
Erros fundamentais do bolsonarismo seguem sendo cometidos nesta gestão. A relação clientelista da era bolsonarista com o centrão continua a mesma com Lula. A interferência nas empresas com participação federal continua nos mesmos moldes da que era praticada pelos antecessores. O discurso populista é igual. As declarações enviesadas sobre temas internacionais, mesmo mudando de lado, seguem causando polêmica.
Alvo é Temer
Nos planos deste governo, perto de completar um ano, parece haver uma prioridade diferente. A preocupação verdadeira dos petistas é imobilizar ou destruir todo o trabalho de moralização das relações institucionais que foi realizado por Michel Temer no governo que sucedeu Dilma Rousseff (PT). É como se fosse preciso mostrar que tudo o que foi feito logo após o impeachment foi errado e que foi o impeachment que causou todas as dificuldades do país.
O que atrapalha
Mais que isso, é como se os mecanismos de controle implantados para dificultar a corrupção dos mensalões e petrolões da vida, precisassem ser desmontados com a máxima urgência no governo petista.
Alguém sabe dizer o motivo? Dizem que o que você se esforça para destruir diz muito sobre o seu objetivo principal. E isso preocupa muito no governo Lula.
Bolsonaro?
O inimigo era Bolsonaro, mas a pressa (e a energia) dos petistas nesses primeiros 10 meses foi para inutilizar o Teto de Gastos, suspender a Reforma do Ensino Médio e destruir a Lei das Estatais.
Não é coincidência que todas foram medidas da gestão Temer.
Corrupção
E aqui é importante colocar o governo Temer no contexto histórico. Foi uma gestão que assumiu, após o impedimento da presidente petista, sob a pressão da sociedade para fechar os buracos na legislação que permitiram escândalos de corrupção imensos na primeira era PT.
Temer não é nenhum santo, mas foi obrigado a construir um sistema anticorrupção e de eficiência do poder público. Coisa que os petistas tentam agora demolir.
Dívida menor
O Teto de Gastos foi uma medida para evitar que o governo gastasse mais do que arrecadava. Foi uma forma de controlar a despesa pública para equilibrar a economia e conter a inflação. O teto foi visto como essencial para o Brasil dizer ao mundo que estava moralizando a economia e que agia com responsabilidade.
O Teto foi derrubado ainda no período de transição de Bolsonaro para Lula, no fim do ano passado.
Eficiência
A Reforma do Ensino Médio foi elaborada para modernizar a educação no país, torná-la mais atrativa para os estudantes e adequá-la aos currículos internacionais.
O texto, elaborado na época em que o pernambucano Mendonça Filho (UB) foi ministro da Educação, é elogiado por especialistas reconhecidos dentro e fora do país.
Mas não agradou aos sindicatos da categoria e, quando os petistas assumiram, trataram de congelar as mudanças.
Obsessão
Mas o que causa mais espanto é a obsessão do petismo no poder para acabar o mais rápido possível com a Lei das Estatais. A presidente nacional do Partido fala nisso publicamente desde junho de 2022.
No início do ano, Lula condicionou indicações para cargos no BNDES, BNB e Petrobras às mudanças na Lei. Queria indicar ex-dirigentes partidários para os postos e só podia fazê-lo se a legislação caísse.
Uma parte dela acabou sendo flexibilizada, baseada numa decisão monocrática do ex-ministro Ricardo Lewandowski, já aposentado. O presidente indicou quem quis, mas o assunto nunca foi para o plenário do STF. Ainda é algo provisório.
Prejuízo milionário
Agora, antes mesmo de uma decisão colegiada do SUpremo, o conselho da Petrobras comandada por um petista começou a se movimentar para mudar o estatuto da empresa, tentando não chamar muita atenção, liberando a indicação de políticos na empresa, exatamente o que a Lei dificulta.
Não passou despercebido, o barulho foi grande e a empresa precisou correr para sanear a crise.
A notícia de que o governo iria mudar o estatuto da Petrobras rendeu um prejuízo de R$ 32 milhões em poucas horas. O presidente da empresa, Jean Paul Prates, indicado por Lula, garantiu que vai continuar seguindo a lei e jurou que foi tudo uma “falha de comunicação”.
Os acionistas ficaram preocupados. Ninguém engoliu a explicação.
Prejuízo bilionário
A Lei das Estatais, que entre outras coisas profissionaliza a gestão das empresas dificultando a indicação de políticos, foi criada depois que a Petrobras acabou lesada em mais de R$ 40 bilhões num esquema promovido por indicados do PT e do PP que dominavam a empresa e cobravam 30% de propina em cima de contratos fechados com empreiteiras.
O dinheiro abasteceu o bolso deles e serviu para reforçar os cofres paralelos de partidos em campanhas eleitorais.
As perguntas a serem feitas: quem tem uma lei dessas como inimiga, está querendo o que? Qual o objetivo de quem trabalha para derrubar legislações de controle de corrupção?