Cena Política

Lula para secretário-geral da ONU não é maluquice e faz sentido até para ele

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Igor Maciel

Publicado em 27/10/2023 às 20:00
Análise
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Vamos fazer um exercício de especulações aqui. Nos bastidores da ONU, um dos assuntos mais comuns é sobre quem vai assumir a secretaria-geral do grupo após a saída do português António Guterres, que tem perdido força. Pergunta-se: e se for o presidente do Brasil, Lula (PT)?

Maluquice?

A ideia é vista como uma maluquice completa para alguns, mas faz sentido do ponto de vista político-eleitoral no Brasil e também pela ótica do legado do petista, daquilo que ficará impresso em seu currículo para os livros de História.

É real

Primeiro é preciso dizer que não é algo que surgiu de uma mesa de bar, numa conversa entre petistas, mas que realmente chegou a ser ventilado nos corredores das Nações Unidas. O atual secretário não pode ser reconduzido mais uma vez. Ele assumiu o cargo em 2016, foi reconduzido para mais cinco anos entre 2020 e 2021. O mandato termina no fim de 2026. Igual ao atual mandato de Lula. E o que se comenta é que o próximo a ocupar o cargo será da América Latina. O último da região a ocupar o posto foi Pérez de Cuéllar, do Peru, entre 1982 e 1992.

Nomes

Durante sua participação no Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o professor e especialista em Geopolítica João Correia confirmou que o nome de Michelle Bachelet seria o favorito. Ele também confirmou que há especulações sobre o nome de Lula, quando se fala em um brasileiro para a cadeira principal das Nações Unidas.

Bachelet desgastada

Ex-presidente do Chile, Bachelet é muito próxima do atual secretário, Guterres, e o desgaste dele pode prejudicar sensivelmente a indicação dela. Bachelet, que já ocupou cargos na ONU, também não é bem vista pelos EUA e por parte dos países europeus. O mais perto que o Brasil chegou de assumir a ONU foi com Sérgio Vieira de Mello, que acabou morto num atentado em Bagdá. Ele era o sucessor de Kofi Annan, então secretário-geral. Na época, em 2003, os terroristas da Al Qaeda assumiram a autoria do ataque e afirmaram que o alvo principal era mesmo o brasileiro.

Contexto

É nesse contexto que diplomatas brasileiros trabalham para criar condições a um brasileiro comandando a ONU em 2027. Do ponto de vista eleitoral faz sentido para o atual presidente brasileiro, já que ele teria uma reeleição relativamente fácil em 2026?

Faz

Faz sentido porque a reeleição de Lula não é exatamente fácil, com um “antipetismo” e um “antilulismo” ainda presentes, é preciso que a economia esteja muito bem para ter uma vitória mais ou menos garantida. A (baita) vantagem do petista é estar no cargo. E isso conta muito, mas eleição no Brasil nunca é fácil. Nem custa pouco rodar o Brasil. É preciso considerar também que ele estará com mais de 80 anos.

Sem Bolsonaro

Outro fator é que será uma eleição sem Bolsonaro, impedido pela Justiça até 2030. Isso é essencial no planejamento da esquerda brasileira. Talvez, o melhor momento para o PT enterrar o bolsonarismo de vez, se é que eles querem isso, seja ter Lula na cadeira de presidente, com a força do cargo, apoiando um nome novo numa eleição na qual o ex-presidente do PL não poderá estar. Uma opção seria Haddad, com a vice sendo ocupada por alguém do Nordeste. Lula reeleito vai levar o eleitorado a querer uma mudança em 2030. E Bolsonaro pode ser liberado até lá.

E tem o status

Do ponto de vista de legado e currículo lulista, a questão é bem mais simples. Para quem já foi presidente da República por três vezes, um quarto mandato é só um número perdido numa folha, com uma carga de problemas imensa para resolver em quatro anos. Ser três vezes presidente do Brasil e terminar a carreira como secretário-geral da ONU é muito mais impactante para os livros de História.

Figurante

Alguns podem dizer que a ONU é apenas uma entidade figurativa e não tem influência nenhuma nas decisões mundiais. É verdade. Convenhamos, a ONU se transformou num palco sem grande interferência e influência nas questões realmente importantes e nos conflitos cada vez mais agudos do cenário internacional. Mas se a ONU não pode parar guerras, também não pode provocá-las. Talvez seja muito melhor ter Lula na ONU do que na presidência do Brasil.

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