A barraca que Haddad precisa ter para ganhar vantagem sobre adversários internos
Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (2)
O ministro Fernando Haddad (PT) precisa alugar um motorhome. Mas para economizar e não comprometer a meta fiscal, pode arranjar uma barraca, bem mais barata, e armar seu teto improvisado o mais próximo possível do Palácio do Planalto. Esse talvez seja o problema de seus problemas recentes com Lula.
A distribuição dos ministérios é uma dificuldade para qualquer auxiliar que cuida da Fazenda e uma desvantagem muito grande para a pasta que deveria ser a mais importante num país que precisa recuperar sua economia. O ministério que comanda a equipe econômica fica longe das primeiras horas presidenciais. E isso é um problema.
Bom dia, presidente
Quando o presidente dá “bom dia”, chegando ao trabalho, encontra o ministro da Casa Civil ao pé da porta. Rui Costa (PT) só precisa descer um pequeno lance de escadas, ou fazer uma curta viagem de elevador. Em menos de um minuto estará perguntando ao presidente Lula “como foi a noite dele”, entre outras amenidades. Tem mais chances, também, para encher os ouvidos do chefe petista com suas ideias.
E foi assim que virou o “pai do PAC”. E é assim que ele, comenta-se, passa longos minutos convencendo Lula de que Haddad está mais comprometido com o mercado (esse “ganancioso”) do que com a popularidade lulista.
Distância crucial
Enquanto isso, lembrou recentemente o jornalista José Roberto de Toledo, Haddad trabalha num prédio que fica distante um quilômetro do Planalto, precisa descer cinco andares para chegar à rua, enfrentar vários porteiros e a imprensa fazendo perguntas no caminho, até chegar ao Palácio do Planalto, enfrentar mais alguns porteiros, subir três andares e aguardar um encaixe na agenda do presidente.
Isso para discutir os labirintos da economia de um país com 200 milhões de almas que dependem da estabilidade financeira da máquina pública para arranjar emprego e conquistar o pão de cada dia.
Quem pode garantir estabilidade mora longe e quem cria confusões vive à porta.
Estabilidade necessária
Haddad precisa encomendar uma barraca, improvisar um fogãozinho e começar a dormir na calçada do Planalto. Se não for assim, se Lula não ouvir mais o ministro da Fazenda e menos os enchedores de orelhas com pretensões políticas baseadas em desgraça alheia, vai ser difícil encontrar nesse governo a estabilidade que se buscava tanto em 2022 ao ponto de, pela primeira vez, um presidente no cargo não ter sido reeleito.
O maior patrimônio que alguém pode oferecer ao povo brasileiro após quatro anos de Bolsonaro é alguma estabilidade política para não atrapalhar a economia.
Se Lula não entender isso, vai ficar difícil.
Paulo político
O ex-governador Paulo Câmara tem chamado a atenção na presidência do Banco do Nordeste por uma desenvoltura política impressionante para quem o observou em oitos anos no Palácio do Campos das Princesas. Paulo tem circulado muito para fazer articulações em benefício do banco e dos estados da área de atuação do BNB.
O ex-governador tem conversado muito com governadores e empresários para viabilizar a atuação do banco.
Distância liberta
Quando estava no governo, reclamava-se muito da dificuldade que havia para o então governador fazer articulações. Ele não fazia política. Era como se não tivesse qualquer aptidão para aquilo. Ou ele aprendeu muito rápido ou foi o PSB que parou de atrapalhar depois que ele deixou o partido.
Tem distância partidária que liberta o indivíduo.
Sem Raquel
Um detalhe é que dos 11 estados de atuação do Banco do Nordeste (os nove do Nordeste e mais ES e MG), dez governadores já tiveram conversas diretamente com Paulo Câmara como presidente do Banco do Nordeste.
A única que ainda não se encontrou com ele foi a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB). Até houve uma articulação entre as duas equipes, mas nunca foi marcada uma data.