É preciso pedir paz todos os dias, mas é preciso entender Israel também
Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (3)
Numa guerra, a primeira vítima é a verdade. E foi percebendo isso que o governo de Israel começou a apresentar vídeos que demonstram a crueldade e a frieza com as quais terroristas agiram nos ataques realizados mês passado.
Em todo o mundo, jornalistas foram convidados para assistir imagens nunca divulgadas dos ataques que o grupo terrorista Hamas planejou e executou dentro do território de Israel no último dia 7/10.
O resultado é algo estarrecedor.
Na sala
O colunista do Passando a Limpo, na Rádio Jornal, Felipe Moura Brasil, foi um desses profissionais de imprensa. E o relato que ele fez durante o programa da última quinta-feira (2) é chocante. As imagens foram exibidas, mas não puderam ser registradas pelos presentes, porque mostram um grau de violência absurdo.
Na primeira exibição, para jornalistas que estão no local da guerra, alguns dos espectadores passaram mal e precisaram sair da sala.
Segundo Moura Brasil, que estava na exibição local, a forma desumana com a qual os terroristas agiram contra famílias inteiras é perturbadora. Há uma decapitação feita com uma pá, por exemplo.
Granada
Em outro momento, narra o colunista da Rádio Jornal, é possível ver pela câmera de uma residência um pai tentando esconder os filhos quando é encontrado por um terrorista.
O membro do Hamas usa uma granada para matá-lo, deixa os filhos agonizando, feridos, e vai procurar algo para comer na geladeira. Em meio aos gritos dos jovens, uma criança e um pré-adolescente, o assassino tira um refrigerante para beber tranquilamente.
Captadas
Essas e muitas outras imagens apresentadas aos jornalistas foram captadas pelas casas das vítimas, em câmeras de segurança, e também dos dispositivos encontrados nas fardas dos terroristas. Quando alguns foram capturados ou mortos depois, esses equipamentos foram encontrados nas fardas deles. Eles usavam para transmitir as mortes dos israelenses depois.
“Orgulho”
E, sim, os membros do Hamas que cometeram o massacre contra judeus no dia 7/10 gravaram os assassinatos para guardar com orgulho a “recordação” também. O serviço de inteligência de Israel chegou a captar ligações feitas por um terrorista, após o massacre, para os próprios pais, em que contava com orgulho o que tinha feito e “quantos judeus havia matado”, além de detalhes sobre a reação das vítimas.
Proporção e…
Na vida, e na guerra, proporcionalidade e reciprocidade são palavras importantes para a convivência entre os povos. É tratar o outro como gostaria de ser tratado e reagir quando não o for, desde que proporcionalmente. É impossível, após tamanha violência, esperar que o exército israelense queira ouvir falar em paz ou perdão. E, honestamente, pode-se até pedir isso deles, todos os dias, mas não é justo ignorar sua dor para exigir que eles fiquem passivos.
Biden ter começado, finalmente, a falar em “pausa para libertar os reféns” é um grande alento. Mas é algo que precisa ser feito com cuidado e compreensão.
Civilidade
É preciso, sim, exigir que o Estado de Israel respeite códigos de guerra e não desça ao nível dos terroristas, colocando colapso ainda mais cruel à vida já comprometida dos civis usados como escudo pelos terroristas. Esses civis já são vítimas, é preciso preservá-los como for possível. É preciso ser civilizado para combater a barbárie. Caso contrário não haverá combate, mas apenas o horror da morte desordenada, sem propósito e sem futuro.
É preciso, porém, não deixar de combater a barbárie. Ou também não teremos propósito e nem futuro para a humanidade.
Em seu lugar
Israel não pode confundir os palestinos com os terroristas do Hamas, mas o resto do mundo que hoje critica Israel também não pode confundir aquilo que é preciso proteger com aquilo que é preciso eliminar.
Porque disso também depende o futuro da humanidade neste planeta.
Um pouco de…
E, sobre proporcionalidade em guerras, um pouco de História: vale lembrar um outro conflito que começou com um ataque cruel, covarde e sanguinário entre vizinhos e terminou em massacre.
Foi em 26 de dezembro de 1864, quando o Paraguai, reagindo à interferência brasileira nas eleições do Uruguai, invadiu o Mato Grosso (hoje “do Sul”), com um exército de 7,7 mil soldados e matou todos os homens, mulheres e crianças que encontraram pela frente, em chacinas que horrorizaram o Império Brasileiro na época e também o mundo todo.
…História
A resposta do Brasil aconteceu ao longo dos quase seis anos seguintes. Mas até que isso ocorresse, ao todo, cerca de 95% da população masculina do Paraguai foi dizimada pelos esforços militares do Brasil, junto com Argentina e Uruguai.
Como resposta ao ataque do Mato Grosso, o Brasil exterminou a população masculina de um país inteiro. Hoje é possível dizer que o Brasil foi desproporcional, principalmente porque estendeu a guerra e lutou mesmo contra crianças, já tendo o Paraguai “de joelhos”, até encontrar e matar o, naquela altura, já deposto Solano López.
Todo mundo perde
A Guerra do Paraguai foi ruim para todos. Destruiu um país, e transformou completamente e para sempre todos os outros envolvidos.
Para ter uma ideia dessas consequências por aqui, menos de 20 anos depois, o Império brasileiro caiu pressionado por uma elite militar que se fortaleceu em popularidade durante as batalhas contra os paraguaios. Cerca de 50 mil brasileiros e 30 mil argentinos morreram, mesmo vencendo a disputa.
A Guerra do Paraguai é uma lição importante.