O isolamento que pode sair pela culatra e um silêncio estranho sobre as armas
Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (07)
Uma fonte com bom trânsito dentro do Palácio do Planalto confirmou o que se comenta há bastante tempo nos bastidores sobre a relação entre o presidente Lula (PT) e a governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB): o bom relacionamento entre eles tem a ver com a inapetência dos petistas para a campanha de João Campos (PSB) no Recife.
Mas a antipatia de Lula pelo prefeito da capital vai além da mágoa com a eleição de 2020, quando o socialista usou a corrupção dos petistas como argumento de campanha.
Confiança
Lula e os petistas também ficaram chateados com as negociações por cargos do PSB no Governo Federal há um ano. A maneira como Paulo Câmara e Danilo Cabral foram tratados por João é um exemplo. Ambos estão trabalhando na gestão federal, mas precisaram entrar nas cotas pessoais petistas para ter espaço. Foram abandonados pelo próprio partido.
Há uma regra implícita no ambiente político que constrói boas relações partidárias e transpassa gestões: “juntos na vitória, juntos na derrota”. Quem não respeita isso, passa a ser visto como “pouco confiável”.
Rui
Parte dessas informações sobre a relação entre o PT e o PSB teria como origem, segundo fontes da coluna, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). É dele também a confirmação de uma ordem dada por Lula aos principais ministros: “Raquel Lyra deve ser atendida”. A intenção é fazer com que um grupo de oposição ao atual prefeito se fortaleça pela união entre o Planalto e o Campo das Princesas.
O ministro da Casa Civil tem reclamado, porém, que a governadora vai a Brasília mas não leva projetos. “Dificulta”, desabafou.
Desidratar
Em princípio, ninguém conta muito com a possibilidade de derrotar Campos, mas a campanha será utilizada para fazê-lo “sangrar” politicamente, abrindo arestas em seu palanque para o futuro.
Dessas arestas estão saindo alguns grupos como o PSD e o MDB da base socialista e buscando abrigo junto à governadora.
O primeiro partido já saiu e os emedebistas estariam de malas prontas para a mudança. Aos poucos, a ideia é desidratar a campanha de reeleição socialista. João vence, mas fica isolado.
Risco
A estratégia de “deixar ganhar, mas impor isolamento” tem um grande risco e, por isso, há quem não concorde com ela. É que a prefeitura do Recife não é pouca coisa, o prefeito tem feito um bom trabalho e terá muito dinheiro para gastar dos empréstimos que conseguiu. Isolar ele pode lhe dar uma liberdade que o fortalece, vai deixá-lo muito popular, num ambiente no qual ele não precisará dividir os méritos com ninguém.
Se, no futuro, o PT não precisar do PSB, tudo bem. Mas, se tiver que buscar o PSB outra vez, o preço será muito mais alto.
Isolado
Nessa relação do MDB com o PSB no Recife, há algo que precisa ser observado e tem a ver com a polêmica sobre a Guarda Municipal utilizar armas de fogo ou não. O tema tomou conta do noticiário nos últimos dias, o vereador Paulo Muniz (SD) defende que a Guarda utilize o armamento e defende isso com bastante energia. Numa entrevista à Rádio Jornal, chegou a desafiar o secretário municipal de Segurança Cidadã, Murilo Cavalcanti (MDB), e dizer que vai responsabilizá-lo pessoalmente se algo acontecer a algum guarda desarmado.
Alguém percebeu que, na prefeitura, ninguém mais se pronunciou além do secretário?
É a gestão?
O vereador atacou pessoalmente o auxiliar de João e questionou com muita ênfase o fato de Recife ser a única capital do Nordeste a não utilizar armas em sua Guarda, mas Murilo ficou sozinho para dizer que “a gestão é contra o uso de arma de fogo”. Alguém percebeu que o prefeito não se pronunciou?
A impressão é que ninguém na prefeitura moveu uma palha para ajudar o secretário. Chegou ao ponto de criar uma dúvida: a gestão é contra o uso de armas pela Guarda Municipal ou isso é uma convicção isolada do secretário?
Motivo
E, ainda nesse assunto da Guarda, o silêncio do restante da prefeitura, em relação ao uso de arma de fogo, tem a ver com o afastamento do MDB que se aproxima do Palácio do Campo das Princesa e deixa João Campos ou é um movimento do prefeito para não ficar mal com a direita recifense, da qual poderá precisar em 2024?
Ou seriam as duas coisas?