A verborragia lulista atrapalha o Itamaraty e dá combustível à cretinice
Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (17)
Mauro Vieira, o ministro das Relações Exteriores, não vai conseguir fazer nada em relação a Israel enquanto o presidente Lula não buscar outra coisa com que se ocupar. Mauro é vendedor na lojinha de seu Luiz há alguns meses. O estabelecimento, essa loja chamada Brazil (assim, com Z, pra ser bem entendido no mercado internacional), é uma daquelas que vende de agulha para costurar roupa de boneca até chaminé de navio e tem como clientes gente de todas as nacionalidades, culturas e credos possíveis.
Por isso, quanto menos ideologizado é o trabalho, mais todo mundo ganha.
Atrapalhador
Nesses meses todos, o vendedor Mauro não conseguiu vender nada a ninguém ainda. Mas quem conhece sabe que não é culpa dele. É que toda vez que o vendedor está negociando algo, usando habilidades conquistadas à base de muito estudo no Itamaraty, seu Luiz fala alguma bobagem em público e atrapalha.
Seu Luiz faria poesia ficando calado, mas não resiste. E o vendedor Mauro é quem fica sem a venda. Aí a loja dá prejuízo.
Ficou chato
O problema do presidente, ao que parece, é que a loja ficou pequena para ele. Depois de ter sido presidente duas vezes, o terceiro mandato soa como “chatisse”. É preciso negociar com deputados, senadores, equilibrar o ego dos ministros, administrar a ambição do próprio partido e de todos os mais de 30 outros partidos do país. Imagine isso 24h por dia, 7 dias por semana.
Depois de um tempo, deve ser insuportável. O presidente não quer mais ser “apenas” o presidente do Brasil, ele quer ser um "protagonista mundial".
Quero ser grande
Esse desejo de Lula não é novidade. Em suas passagens anteriores ele já pensava assim e colocou o Brasil em algumas enrascadas por isso. Quando já havia sido reeleito, correu para garantir o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014.
Depois, quase no fim do segundo mandato, confirmou o país como sede das Olimpíadas.
O Brasil não tinha infraestrutura, não tinha Saúde e Educação, mas resolveu realizar os dois maiores eventos esportivos do planeta em sequência.
Jogou-se o país numa crise política e social que ainda ecoa.
Guerra e paz
Agora, entediado com Brasília, Lula quer ter voz internacional em questões de guerra e paz. Logo o Brasil, cujo maior protagonismo num conflito bélico ocorreu há mais de 150 anos.
E ter voz no mundo conflagrado não é algo simples. Nem Joe Biden, comandando uma nação cuja história se resume a entrar e sair de conflitos, controlando o maior arsenal nuclear da Terra, está conseguindo colocar limites em Netanyahu.
O presidente brasileiro colocou na cabeça que consegue. E tenta fazer isso de maneira extremamente equivocada.
Um por todos
É equivocado porque Lula confunde a parte pelo todo e trata Netanyahu como se fosse Israel. Por não concordar e por não conseguir ser levado a sério pelo primeiro-ministro, o presidente brasileiro consegue ofender toda a comunidade israelita e reforça, mesmo que seja sem querer, os embates entre a islamofobia e o antisemitismo que os cretinos contemporâneos de direita e de esquerda buscam reavivar para faturar politicamente.
Isso é muito perigoso e chega a ser irresponsável.
Estratégia
Além de tudo, a verborragia do presidente é uma tragédia estratégica e colocou em risco a vida de brasileiros que ainda estão em Gaza.
Ao receber os resgatados que estavam na Faixa de Gaza, no início da semana, Lula acreditou que estava tudo resolvido e a diplomacia não era mais tão necessária. Fez, então, um discurso equiparando o terrorismo do Hamas com a contraofensiva de Israel.
"Opa, foi mal"
Logo depois do discurso inflamado se soube que há mais brasileiros em Gaza e que eles podem precisar de resgate. Resultado: na tarde da quinta-feira (16), o presidente brasileiro foi orientado a ligar para o presidente de Israel, Izaac Herzog, para “agradecer pela liberação dos que já vieram”.
Acredita-se que ele vai falar nos que ainda faltam vir também. Vai pedir com jeitinho para facilitar a saída no futuro, se for necessário.
Seu Luiz atrapalha a vida do vendedor Mauro, seu chanceler, e depois tem que buscar desculpa com os clientes. Em diplomacia, isso é muito feio. Pior para a loja Brazil.