O prejuízo poético das estatais e o populismo que atrasa o Brasil
Confira a coluna Cena Política deste sábado (25)
Ao menos alguma coisa o governo Lula 3 já está conseguindo fazer igual ao que se fez nas primeiras gestões petistas: garantir que as estatais deem prejuízo.
Foi anunciado esta semana que o conjunto de 22 empresas estatais que dispõem de receitas próprias e não dependem do Tesouro Nacional, mas cujo desempenho é considerado na apuração do resultado fiscal do governo federal, terão déficit de R$ 4,5 bilhões em 2023.
Correios
Entre essas empresas está a dos Correios. E os Correios são um exemplo bem vívido de como o populismo retalha o patrimônio dos brasileiros com má gestão ou corrupção (quando não são os dois juntos).
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos amargou prejuízos bilionários durante os governos do PT. Ficou marcada pelo Mensalão com Lula e depois registrou, de 2013 a 2016, até o impeachment de Dilma (PT), contas no vermelho em quase R$ 4 bilhões.
Lucro
Michel Temer (MDB), aquele de quem se fala tanto mal, mas foi o último presidente com a exata noção do que isso significa nos últimos vinte anos, organizou a administração e fez os Correios darem lucro.
Em 2017, o resultado líquido ficou positivo em R$ 667 milhões. O valor positivo foi de R$ 161 milhões em 2018 e R$ 102 milhões em 2019. Em 2020, o lucro saltou para R$ 1,53 bilhão. E em 2021, um recorde: R$ 3,7 bilhões de saldo positivo.
Nestes últimos anos, vale lembrar, o presidente era Jair Bolsonaro.
Reeleição
O problema é que entre 2021 e 2022, com a pandemia e o fim do mandato, Bolsonaro resolveu chutar o balde e desistiu da máscara do liberalismo e da responsabilidade fiscal com a qual havia sido eleito, carregando Paulo Guedes debaixo do braço como ministro da Fazenda.
Assumiu-se populista e começou a se preocupar menos com a saúde financeira do país e mais com sua própria reeleição. O Brasil é um país em que ser responsável não dá voto.
Resultado é que, em 2022, os Correios saíram do lucro de R$ 3,7 bilhões para um prejuízo de R$ 809 milhões.
Futuro
Agora, com Lula, a tendência é todo mundo voltar a gastar mais do que ganha. Há pouca esperança de melhorar. Aliás, e isso é algo que precisa ser observado, os petistas parecem ficar em êxtase quando alguém lhes diz que uma empresa estatal deu prejuízo.
Não é só que eles gostem de gastar o dinheiro do contribuinte. Isso também, porque não é dinheiro deles. Mas alguns realmente acreditam que o mundo fica melhor quando uma empresa estatal dá prejuízo, por entenderem que o benefício está indo para a população. A empresa existe para servir ao povo, dizem com orgulho, não para dar lucro.
Poesia
A ideia de que as estatais estão ali para servir, e não para dar lucro ao Estado, seria bonito, poético, humano, não fosse pelo motivo desse prejuízo. Não é porque todo mundo paga baratinho nas tarifas.
O maior problema dos Correios é a operação inchada, com muito mais funcionários do que o necessário, a maioria empurrados por aliados políticos do governo da vez.
A maior mudança realizada por Michel Temer para fazer com que o prejuízo virasse lucro foi enxugar a folha salarial e reduzir a influência direta dos partidos na empresa.
Emprego
E nesse ponto você deve estar pensando: “mas gerar emprego não é bom?”.
Sim, é muito bom gerar empregos. Mas quando você gera emprego e isso compromete sua eficiência, significa que o serviço vai ficar mais caro. Para gerar algumas centenas de empregos você deixa o serviço muito mais caro para a população.
Produtos transportados pelos Correios ficam mais caros, serviços postais de empresas ficam mais custosos e, no fim, para gerar algumas centenas de empregos nos Correios, a maioria indicado por partidos políticos, você compromete milhares de postos de trabalho nas empresas que utilizam o serviço no restante do país, com o aumento dos custos de postagem.
Perde-se muito em silêncio, no longo prazo, para ganhar pouco, com muito barulho, no curto prazo. É o segredo das gestões preocupados com o voto da próxima eleição e não com um legado.
Justiça
No livro da realidade econômica de um país, quando a ideia é falar com seriedade sobre o assunto, a poesia não passa do primeiro capítulo.
Estatais não existem para dar prejuízo, mas para serem eficientes, usando o lucro para se tornarem cada vez mais sólidas e oferecerem o menor custo possível ao mercado que atendem.
Isso é justiça social de verdade. Mas ainda é algo difícil de entender no Brasil.