Cena Política

O uso interessado das fake news e o "Janonismo" capaz de constranger malandro

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (30)

Imagem do autor
Cadastrado por

Igor Maciel

Publicado em 29/11/2023 às 20:00
Análise
X

Duas lições importantes, daquelas que ouvimos dos nossos avós e não prestamos atenção direito. Uma delas é: quando apontar um dedo para alguém, lembre que outros três, de sua própria mão, estarão apontando para você. E a outra: o que entregamos de falso ao mundo, hoje, sempre volta para assombrar a gente um dia. Dito isto, vamos falar sobre André Janones (Avante-MG).

Guru

O deputado federal mineiro foi essencial para a vitória de Lula (PT) em 2022, principalmente porque era o único na esquerda a entender com exatidão o combo de conteúdos rasos, intelectualidade pueril e simplicidade fabricada que formavam a essência das redes sociais naquele momento e que, pouco antes, elegeram Bolsonaro (PL).

O problema de Janones, cuja vaidade não atende a qualquer mineirice conhecida, é que ele começou a acreditar que era do tamanho de sua sombra.

De constranger malandro

E aí entram as “lições de avó”. Primeiro sobre a falsidade. O “guru” das redes sociais petistas, recentemente, contou em livro que inventou várias mentiras durante a campanha para tentar gerar engajamento nas redes contra Bolsonaro.

O deputado admite, com orgulho de constranger malandro, que espalhou várias “fake news” durante a disputa eleitoral. Uma delas era sobre “Fernando Collor estar acertado para ser ministro de um segundo governo Bolsonaro”, na época, e outra sobre estar em posse do celular de um ex-auxiliar bolsonarista “que incriminaria o então presidente”.

Janonismo

Era tudo mentira, dentro do que ele chama, no livro, de “estratégia de guerrilha digital”. A própria “obra literária” é um exemplo direto do quanto o parlamentar acredita ser do tamanho de seu espectro projetado e se perdeu em vaidade.

O livro se chama “Janonismo Cultural”. E agora a publicação é uma das bases para a iniciativa de alguns deputados que querem cassá-lo. E motivos não faltam.

E depois?

Quem votou em Lula pode até pensar que os fins justificam os meios. O importante é que Bolsonaro perdeu? Tudo bem.

Mas, ao normalizar isso, estará tudo bem quando, no futuro, o mesmo método for usado para entronizar outra vez seus inimigos? E se, pior, essas mentiras ajudarem a justificar ditaduras ou terrorismo no futuro? Ainda estará tudo bem.

O que entregamos de falso ao mundo, hoje, sempre volta para assombrar a gente um dia. É a sociedade guiada pelo “Janonismo Cultural” que se quer deixar para filhos e netos?

Segunda lição

A outra lição: quando se aponta o dedo para alguém, outros três se voltam para você. Janones arranjou um problema ainda maior do que as mentiras deliberadas que admitiu em livro.

Esta semana ele teve áudios vazados nos quais dizia aos funcionários de seu gabinete que iria precisar que eles devolvessem parte do salário para pagar dívidas de campanha pendentes.

O nome disso, se você não sabe ainda, é “rachadinha”.

Mentira

Sim, rachadinha é a mais frequente acusação, que sempre foi feita contra a família bolsonaro. Agora, adivinhe qual foi a resposta imediata do parlamentar mineiro, acompanhado e apoiado de imediato pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann: é tudo “fake news”.

Fake

A petista entrou na história para defender o seu “guru” cultural de internet com o mesmo argumento utilizado por figuras como Donald Trump para fugir de suas responsabilidades em crimes.

Quem não lembra do ex-presidente americano repetindo, com aquela expressão de maracujá azedo, “fake news, fake news”, a qualquer questionamento que lhe fosse feito, para depois ir sendo desmascarado pelos fatos, aos pedacinhos?

Fato

Pois agora, acontece o mesmo. Ex-assessores de Janones começaram a aparecer, deram entrevistas e confirmaram que devolveram a ele, em dinheiro, parte dos salários que recebiam. Eles dizem que o esquema de rachadinha acontecia no gabinete do deputado, pelo menos, desde 2019.

Gleisi vai seguir repetindo, “fake news, fake news”.

Dama

Não foi apenas com Janones. A mesma justificativa foi usada com as visitas da “Dama do Tráfico”, a esposa condenada do maior traficante do Amazonas, a dois ministérios lulistas para falar sobre Direitos Humanos.

Mesmo depois que o governo admitiu as visitas, deu explicações e mudou protocolos, os petistas usaram a expressão “fake news” para tentar diminuir a crise e salvar a imagem de Flávio Dino, da Justiça, que estava para ser indicado ao STF, como foi.

Quase

Os integrantes desse governo e de seu entorno estão fazendo, inclusive, o mesmo que faziam Trump e Bolsonaro, atacando pessoalmente a jornalista que assina a reportagem sobre as visitas da “Dama do Tráfico” (toda confirmada pelo próprio governo).

Agora, com a rachadinha do Janones, os ataques não foram pessoais, mas Gleisi afirmou que as “fake news” eram da “extrema-direita”.

Vindo do pessoal que defendia liberdade de imprensa e respeito à democracia, quase surpreende.

Deve ser coisa do “Janonismo Cultural”.

Tags

Autor