Uma geração que representa 30% do eleitorado e que não é entendida pelas pautas políticas
Confira a coluna Cena Política deste domingo (3)
Nós somos a informação que consumimos, pela maneira que o recebemos e pelo conteúdo que absorvemos. É importante entender isso para olhar a Geração Z, que nasceu de meados dos anos 1990 até por volta de 2010, com mais atenção.
Eles cresceram com a internet disseminada. Mesmo quem não tinha acesso em casa, conseguia acessá-la. Todos tiveram contato com um volume muito maior de informação do que seus antecessores que dependiam de meios analógicos.
A velocidade com a qual essa informação chega até eles é absurdamente maior do que era antes.
Os partidos políticos não entenderam isso e não entenderam que essa geração forma um grande número de eleitores agora. Esse grupo vota.
Alerta
O alerta precisa ser feito porque o partido que hoje comanda a presidência da República deixou o poder em 2016. Nesse tempo, o mundo mudou e uma pandemia mudou o “mundo mudado” de uma forma nunca vista antes.
Mesmo assim, há ministros da gestão Lula (PT) trabalhando em pautas que eram comuns nos anos 1980, como o fortalecimento dos sindicatos e a regressão da legislação trabalhista para um patamar de economia que já foi ultrapassado há anos.
Propósito
Pra começo de conversa, a Geração Z não quer estabilidade no emprego. Há pesquisas mostrando que esse perfil etário do trabalhador passa em média três meses em cada função e logo já começa a buscar algo diferente.
A ideia de sacrifício para ser promovido é vista como perda de tempo, porque essa geração fica entediada com muita facilidade.
O trabalho, para boa parte deles, precisa ter algum propósito.
Estética
As lutas sindicais até se encaixariam nisso, se os sindicatos fossem atualizados para essa dinâmica, de imbuir propósito na rotina das empresas e, assim, atrair e agradar os colaboradores.
Mas o movimento sindical ainda é tomado por partidos políticos entrincheirados em revoluções vazias e utópicas, com direcionamento ideológico pouco objetivo e, o principal, uma estética voltada mais para o velho marxismo mal interpretado da esquerda latino-americana. Um horror.
Diferente também
Você pode até dizer que esta análise é referente aos jovens da geração Z mais abastados e que não dependem de salário mínimo para comer. Tudo bem.
Mas quando falamos daquela parcela maior da população, que trabalha por extrema necessidade de sobrevivência, estamos falando, por exemplo, do entregador em plataformas de aplicativo ou do motorista?
Pois com eles o governo petista também quer mexer, para exigir que tenham direitos trabalhistas adequados à CLT. A questão é que eles não querem isso.
Sem luta
Todos querem maior valorização por parte das plataformas, todos querem que as leis lhes sejam mais favoráveis. Querem garantias e seguranças, lógico. Mas, não no modelo que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT) propõe, equiparando o trabalho deles a um trabalho formal na indústria.
Isso, para eles, não serve. Marinho foi sindicalista, metalúrgico. Não deve ser fácil para ele entender que essas pessoas não querem “lutar contra os patrões”, como antigamente. Querem apenas melhores condições para seguir trabalhando com liberdade, sem vínculos sindicais ou grandes amarras formais com o governo.
Nó
Não querer ter como inimigo aquele que lhe proporciona o sustento deve dar um nó na cabeça dos petistas. Mas é assim que essa geração enxerga o trabalho. Independente de estar na base ou no topo da pirâmide dos salários.
Agora, o que isso tem a ver com a eleição de 2024? É que não adianta nada ter o controle do Governo Federal se a perspectiva de ação para o desenvolvimento do país estiver amarrada a tamanha desatualização geracional e se as pautas não dialogam com essas pessoas.
Impacto
Em outras palavras, as ações do governo federal vão ter muito menos impacto na vida das pessoas a tempo de ajudar os candidatos aliados a transformarem isso em votos. Os futuros candidatos que hoje estão confiando apenas no apoio de Lula para impulsionar suas campanhas terão dificuldade se não conseguirem escutar e interpretar essa geração que não está interessada em estabilidade, muda de opinião com muita rapidez e não se identifica com partidos e nem com a figura do atual presidente ou de qualquer outra persona política por suas posições ideológicas ou histórico.
João
Para dar um exemplo bem próximo. A ameaça de que o PT não apoie João Campos (PSB) em sua campanha de reeleição na capital pode não ser uma ameaça tão grande assim.
Campos se conecta com esse público da Geração Z com uma habilidade que nem todos os integrantes do PT de Pernambuco, juntos, irão conseguir por toda a vida.
O eleitorado dessa faixa etária representa cerca de 30% do total, no Recife. Precisa dizer mais alguma coisa?