Reforma ministerial para conter os gênios de dentro e os geniosos de fora

Vem uma reforma ministerial ampla por aí no governo Lula. Toda reformulação ampliada em uma gestão tem que estar atrelada a uma diretriz. Lula (PT) costuma fazer isso no primeiro ano de seus governos, modificando a estrutura para oxigenar as pastas e aproveitando para dirimir conflitos. Mas a diretriz que vai nortear as mudanças, com poucas exceções, é conter os gênios e os geniosos.

Ambos foram responsáveis por muitas das crises desse primeiro ano.

Gênios

Os gênios, Lula já se referiu diretamente a eles, são os que andam tendo ideias demais e criando polêmicas sem que a própria gestão esteja preparada e avisada para lidar com elas.

É o caso do que aconteceu com Márcio França (PSB), quando ainda estava no Ministério de Portos e Aeroportos e antecipou, sem combinar com ninguém, um programa de passagens aéreas por R$ 200.

Genialidades

Na época, o presidente deu uma entrevista alertando que os ministros guardassem as genialidades e primeiro conversassem com a Casa Civil, a Fazenda e o Planejamento para saber se há condição política e financeira para as ideias deles.

França já caiu “para o lado” e foi designado a uma pasta de Pequenas Empresas que até agora ninguém sabe nem se tem orçamento para existir. Passou.

“Fusca”

Há alguns dias foi a vez de Jean Paul Prates, o presidente da Petrobras, que anunciou a intenção de criar uma subsidiária da empresa no Oriente Médio.

Questionado sobre o assunto, Lula disse que não estava sabendo de nada e respondeu com uma ironia que soou como bronca contra o auxiliar: "Primeiro, você deve fazer essa pergunta para o Jean Paul Prates, porque eu não fui informado de que a gente vai criar uma Petrobras aqui. Como a cabeça dele é muito fértil e ele pensa numa velocidade de Fórmula 1, eu funciono numa velocidade de Volkswagen. Eu preciso aprender o que é isso que ele vai fazer".

Tchau

Foi uma bronca, porque logo depois começou a circular a intenção de que na reforma ministerial de 2024 Prates pode sair e dar lugar a Rui Costa (PT).

O atual ministro da Casa Civil assumiria a estatal brasileira para tentar apaziguar os ânimos dentro do Palácio do Planalto. Lula estaria irritado com as confusões que Costa se envolve com Fernando Haddad (PT) e com alguns deputados e senadores do centrão.

Como respeita muito o ex-governador baiano, quer aproveitá-lo em outra posição importante e estratégica.

Missão

Existe a possibilidade de uma mudança no Ministério da Defesa também. Caso a saída de José Múcio se confirme, o pernambucano estaria deixando o cargo por ter cumprido sua missão.

Múcio foi convocado pelo amigo Lula para ajudar na reaproximação entre o governo petista e as Forças Armadas. O ponto principal dessa missão era garantir que núcleos golpistas entre os militares fossem completamente isolados e anulados. Isso já aconteceu.

Um dos pontos principais é o conjunto de limitações eleitorais imposto aos integrantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e que está em discussão no Congresso no formato de uma PEC.

De olho

Mas a saída de Múcio, caso ocorra, também vai apaziguar os ânimos dos geniosos petistas que clamavam por vingança contra o Exército e se frustraram por tudo ter sido resolvido em paz. É claro que os interessados na saída de Múcio também estavam de olho em ocupar o espaço para controlar os investimentos no setor da Defesa.

Para ter uma ideia, quando explodiu a guerra em Israel, Múcio estava num avião com destino à Suécia, para assinar a compra de novos caças gripen, ao preço de alguns bilhões. Por enquanto, Lula só confiou em Múcio para cuidar disso.

Dino

Outra mudança vai acontecer por causa da saída de Flávio Dino (PSB) do Ministério da Justiça para o STF. Mas a partida de Dino vai conter um gênio e também os geniosos.

É que o ministro, que ficará no cargo até fevereiro quando toma posse no Supremo, vinha sendo criticado por dar declarações sem combinar com o governo, muitas vezes em busca de engajamento nas redes sociais.

Além disso, petistas vinham cobrando que o governo dividisse a pasta de Dino, transformando em duas, para abrigar uma indicação interna. Agora, vai ficar mais fácil.