Mais um grão de açúcar para ser disputado na confusão das formigas aliadas
Confira a coluna Cena Política deste sábado (9)
A saída de Flávio Dino (PSB) para o Supremo Tribunal Federal, que deve ser oficializada na próxima quarta-feira (13) com uma sabatina no Senado, só acontecerá em 2024. A vaga dele já é disputada de agora. E, quando existem muitas formigas no ambiente, qualquer grão de açúcar gera tumulto.
O da vez está entre o PT e o PSB. E também envolve Pernambuco.
PSB tem nome
Olhando superficialmente, Flávio Dino sendo, hoje, filiado ao PSB, seria natural que a vaga atendesse à distribuição entre os aliados e continuasse com os socialistas. O líder principal do partido, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), mandaria um nome para o presidente da República, Lula aceita ou não, e fica tudo resolvido.
O PSB já tem até um escolhido, seria Ricardo Capelli, atual secretário-executivo da pasta. O próprio Flávio Dino pediu que o auxiliar fosse aproveitado.
Interino
Capelli é filiado ao PSB. Virou socialista para a eleição de 2022, quando seu chefe, Dino, fez o mesmo caminho, saindo do PCdoB. Nos últimos tempos, foi aproveitado em “posições interinas”. Na crise após os ataques de 8/1, assumiu a segurança do DF interinamente, com o afastamento do governador, por exemplo.
Lula sinalizou que vai testá-lo como interino antes de decidir, mas já há polêmica com o PT.
Cota pessoal
É que o Ministério da Justiça está com alguém filiado ao PSB, mas não é do PSB. Nunca foi. Flávio Dino é uma indicação da cota pessoal de Lula.
Não é só o PT quem diz isso. Os próprios socialistas afirmaram, na época da composição partidária, durante as negociações, que gostariam de assumir um novo ministério, porque Dino foi escolha do presidente e não deles.
Foi assim que insistiram para encaixar Márcio França (PSB) na equipe e ele acabou ministro.
Agora quer?
O argumento do PT é que a reivindicação do PSB não tem lógica, já que eles mesmos nunca admitiram ter o controle sobre o Ministério da Justiça. O PT quer dividir a pasta em duas, criando uma de Segurança Pública, para indicar um dos nomes e defende que o nome da Justiça, que precisa estar em sintonia com o presidente da República, seja da cota pessoal de Lula.
O ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski é o favorito do presidente. Mas, dizem que ele não quer.
Recife
E o que isso tem a ver com o Recife? A relação entre petistas e socialistas não é das melhores. Lula tem dado demonstrações cada vez mais robustas de que pretende fortalecer Raquel Lyra (PSDB) por aqui para se opor ao prefeito da capital.
O PT municipal, que quer apoiar a reeleição de Campos, tem sido desautorizado com mais frequência do que o costume. E já houve, na composição do ministério e dos cargos estratégicos do governo, indisposições entre o PSB de Pernambuco e o PT nacional.
Indicações
Para relembrar apenas dois exemplos pernambucanos. Lula queria indicar Paulo Câmara para um ministério e o PSB vetou, por disputas internas. O PT estadual tentou indicar Danilo Cabral (PSB) para a Codevasf e o PSB vetou. Foi outro problema.
A movimentação dos socialistas tentando determinar quem será o próximo ministro da Justiça pode trazer novos problemas nessa relação. Os petistas não se entendem bem com os socialistas pernambucanos desde a eleição de 2018. E a situação piorou em 2020.
Bloqueio
A principal consequência pode vir na eleição municipal de 2024. O apoio do PT é bom para a reeleição de Campos, mas não é imprescindível. A vantagem do atual prefeito, caso as pesquisas de hoje se confirmem nas urnas, é muito larga para que o PT consiga evitar a reeleição.
Mas os petistas podem bloquear o PSB no restante do estado e promover um isolamento ainda maior dos antigos aliados para as eleições que vêm depois. Isso é um risco no qual o PSB precisa pensar.