O "entretanto" de João Campos como um chamado à Frente Popular
Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (15)
Poucas coisas são tão explícitas em suas intenções como o “entretanto”. A arte de usar o “entretanto” é dominada por poucos e, entre eles, estão os bons políticos. João Campos (PSB) sabe usar o “entretanto” com bastante habilidade.
Sagaz
A sagacidade no uso do “entretanto” é que você pode excluir uma ideia ou uma pessoa de um planejamento inteiro enquanto verbaliza elogios desmedidos com intenso fervor. Por exemplo, perguntado sobre Isabella de Roldão (PDT) seguir como sua vice na campanha à reeleição, durante a entrevista que concedeu à Rádio Jornal nesta quinta-feira (14), Campos fez tantos elogios à companheira de chapa de 2020 que fizeram ela parecer a parceira dos sonhos de qualquer candidato.
Depois veio o “entretanto”.
O entretanto
"Nada depende exclusivamente de uma pessoa, depende de um grupo. Tem que ter anuência de partidos que estão de frente, e boa parte das decisões são tomadas com validação colegiada. Então você pode até ter uma tese, mas isso depende de um conjunto. É muito na capacidade de convencimento, e isso vai amadurecendo com o tempo", completou o prefeito do Recife sobre a escolha da vice.
Calma aí
A questão importante desse momento é que no palanque de João Campos pela reeleição tudo pode acontecer, inclusive ficar como está. A incerteza ainda é tão grande quanto à participação do PT, por exemplo, que nem com a permanência de uma mulher na chapa o prefeito quis se comprometer.
Perguntado sobre assumir esse compromisso, passou uma resposta inteira falando sobre a importância das mulheres e de como elas são fortes em seu governo (o que é verdade), mas não respondeu a pergunta.
Aliados
O que se viu, em todas as questões políticas que foram colocadas, é que o prefeito está muito consciente da necessidade de ouvir os aliados e dar voz a todos.
Quer evitar o clima de protagonismo exacerbado que pode afastar partidos importantes para a Frente Popular, como o PT, o PDT e o MDB (O PSD já foi).
Entregar e representar
Alguém pode fazer o cálculo pragmático e questionar qual a importância do MDB e do PDT, hoje enfraquecidos no legislativo. “O que eles têm para oferecer?”, repete-se muito.
Acontece que, na vida política, existem aqueles que entregam e existem os que representam. Entregar e representar são fatores diferentes de uma aliança política, mas igualmente importantes. Sem os entregadores, os representantes ficam por fidelidade. Mas, sem os representantes, os entregadores vão embora.
João parece entender muito bem isso.
Zero
Se perder MDB e PDT, além do PSD que já foi, Campos pode não ficar nem um voto mais fraco em sua base. Ele não perde nada palpável. O prejuízo da governabilidade é próximo a zero. São siglas que hoje não têm muito a oferecer no cenário local.
Mas esses partidos representam uma história de confiança, de parcerias e de força política que vem desde Arraes e Eduardo dentro do PSB. Eles servem como referência da Frente Popular.
Guias
Quando os partidos que “representam” abandonam o navio, aqueles outros, os que “entregam”, começam a ficar desconfiados sobre o futuro do capitão. "Se os mais fiéis foram embora, há algo errado".
Todas as respostas do prefeito, do capitão desta Frente Popular de hoje, foram no sentido de fortalecer a união com todos dentro do grupo e demonstrar disposição para a aproximação. E isso, na entrevista, foi notável.
Ensino Médio
O deputado federal Mendonça Filho (UB) conversou com o Passando a Limpo, na Rádio Jornal, e detalhou o projeto do Novo Ensino Médio, do qual é relator.
O tratamento de "urgência" dado pelo governo Lula (PT) ao texto do projeto, que já havia sido idealizado durante o governo de Michel Temer (MDB), quando Mendonça foi ministro da Educação, é bem curioso.
Pressa relativa
Reclamando e querendo modificar o que havia sido definido antes, com Temer, o governo Lula idealizou as mudanças no Ensino Médio e fez um requerimento para que o projeto fosse pautado e votado o mais rápido possível.
Aí, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), indicou o ex-ministro Mendonça Filho para ser o relator.
Imediatamente, a pressa do governo passou. Retiraram o requerimento e começaram a falar na “importância de discutir tudo com calma”.
Lira percebeu, mandou colocar o regime de urgência outra vez, e Mendonça diz esperar a votação ainda este ano.
Uma coisa é certa, até a pressa do PT é relativa.