Cena Política

Sobre o Recife e quando perder uma eleição é a grande oportunidade de sua vida

Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (16)

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Igor Maciel

Publicado em 15/01/2024 às 20:00
Análise
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O poder de algumas derrotas políticas é tão vigoroso que alavanca o sujeito do desconhecimento à glória e constrói carreiras. É claro que é importante não perder para sempre. Essencial é alcançar alguns sucessos porque fama inconteste de perdedor prejudica. Mas as disputas impossíveis, aquelas que ninguém quer entrar deveriam ser mais valorizadas.

Pernambuco tem um exemplo disso.

Contra o mito

Corria o ano de 1986 quando a maior expectativa para a eleição ao governo de Pernambuco era o tamanho da vitória de Miguel Arraes. O ex-governador, depois de ser deposto pela ditadura militar, retornava como um verdadeiro “mito”.

Naquela época, ser “mito” também era coisa da esquerda, que hoje torce o nariz para a alcunha por causa de Bolsonaro.

Múcio

Depois do tamanho da vitória de Arraes, a única questão da eleição era saber quem aceitaria perder para ele. A previsão era que a derrota seria muito pesada. Então ninguém arriscava.

Foi José Múcio, na época pelo PFL, quem assumiu a chapa e se lançou na eleição perdida. Aqui, aguardando uma grande virada nessa história, você deve estar pensando que ele venceu.

Errado: ele perdeu.

Perder ganhando

A derrota de Múcio chamou muita atenção porque não foi tão feia quanto imaginavam. Para quem estava disputando com um “mito” foi até bonito. Ele conseguiu 40% da votação total.

Miguel Arraes (no PMDB) cumpriu o que se esperava e voltou ao Palácio do Campo das Princesas com 60% dos votos. Mas Arraes vencer não era novidade para ninguém.

Já para Múcio, perder com quase metade dos votos era uma grande vitória.

Sem figuração

Valeu a pena para Múcio? A derrota foi um dos pontos mais importantes de sua carreira política. Perder para Arraes foi essencial para a construção de sua presença no cenário político.

Uma coisa é fazer figuração eleitoral, outra é respeitar a disputa e se entender representante de uma parcela do eleitorado que, embora não seja majoritária, precisa de representação naquele momento.

A cultura brasileira cultiva a ideia de que o segundo lugar é um perdedor igual ao último. É um erro.

Os benefícios da derrota não são entendidos como válidos. Apenas a vitória interessa.

Resultado

Mas Múcio, o derrotado de 1986, foi deputado federal, líder de governo, presidente do Tribunal de Contas da União e hoje é ministro da Defesa. O currículo é o sonho de muita gente na área política.

Um dos principais fatores iniciais para essa carreira tão exitosa foi a notoriedade de, acreditem, perder para Arraes.

João Campos

E qual o motivo de esse tema ser, hoje, importante? O bisneto de Arraes, João Campos (PSB), prefeito do Recife, parte para uma reeleição na qual é tido como franco favorito. Chamar de mito não cai bem, mas é comparável à situação do ex-governador.

Pelas pesquisas, não há muita discussão, hoje, sobre João Campos vencer ou não os adversários, mas sobre quem serão esses derrotados. A situação dos adversários é bem parecida com a de 1986.

O exemplo de Múcio

É aí que essa eleição se apresenta como grande oportunidade para os mais corajosos. A reeleição de João Campos é tão certa que qualquer desafiante capaz de não perder feio, terá grande notoriedade.

Não estamos falando aqui dos nanicos, sem qualquer estrutura, mas daqueles em situação de atacar com algum resultado prático.

Qualquer um que entrar na briga, mesmo para uma derrota certa, pode sair maior de 2024. Olhem o exemplo de sucesso do atual ministro da Defesa. Perder, às vezes, pode ser a maior vitória.

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