Cena Política

O grupo de Marília Arraes e os espaços dentro do governo do PT

Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (30)

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Igor Maciel

Publicado em 29/01/2024 às 20:00
Análise
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Nos bastidores, o que se conta sobre o afastamento de Lula (PT) e Marília Arraes (SD) tem a ver com uma conversa ocorrida antes da eleição de 2022. Na época, o então pré-candidato à presidência teve uma reunião com a neta do ex-governador Miguel Arraes para acertar a participação dela na chapa de Danilo Cabral (PSB).

Contexto 1

É bom lembrar o contexto do episódio. Marília havia sido do PSB e, ainda quando Eduardo Campos era vivo, brigou com o primo. Ela queria espaços na sigla que não lhe foram dados. Depois disso, e de muitas outras brigas, deixou o partido e migrou ao PT para ser candidata à Câmara Federal em 2018. Conseguiu a segunda maior votação do Estado, o que a alçou para disputar a Prefeitura do Recife. Ela conseguiu chegar ao segundo turno na eleição municipal, mas foi derrotada por João Campos.

Contexto 2

Os problemas de Marília com o PT, sim, já havia problemas, intensificaram-se quando ela teria ignorado uma orientação partidária e resolveu bater chapa numa eleição interna para a Mesa Diretora da Câmara em 2021. A teimosia a deixou em maus lençóis com Gleisi Hoffmann. A presidente nacional do PT passou a criticá-la publicamente e, em Pernambuco, a então deputada também se desentendeu com o senador Humberto Costa (PT).

Conversa

Depois de muita briga, bastante desgastada, Marília se movimentou para ser candidata à governadora em 2022, mas ficou claro que o PT não iria bancar suas intenções e o acordo com o PSB já estava encaminhado. Marília, então, resolveu migrar para o Solidariedade e assumiu o partido no estado. Foi aí, segundo contam, que aconteceu a conversa com Lula.

Garantia

O atual presidente lhe fez a seguinte proposta: Marília voltaria ao PT e todas as mágoas seriam esquecidas. Ela teria o apoio dele para ser a candidata do PT ao Senado, na chapa de Danilo Cabral. Não ficou claro, mas a ideia era que Teresa Leitão (PT), com essa formação de chapa, fosse candidata à deputada federal e tivesse ajuda de Marília com a votação em alguns municípios. Toda a bancada petista seria beneficiada. A conversa acabou sem uma solução, por causa de uma frase dita pela neta de Arraes: “quem vai garantir isso?”.

“Sou eu”

Acontece que Lula estava ali, em pessoa, garantindo. O próprio Lula fez a proposta e não ficou muito feliz quando ela questionou a segurança do acordo. Sentiu-se desprestigiado. Daí em diante, a mágoa de Gleisi estendeu-se para ele, que passou a ter uma relação mais formal e distante com Marília. É um dos motivos de ela, mesmo sem nenhum cargo, ter sido excluída de qualquer indicação quando Lula foi eleito.

Apoio tímido

O apoio no segundo turno da eleição, inclusive, foi difícil porque ele precisava de um palanque em Pernambuco, mas Raquel Lyra (PSDB) não podia declarar voto nele, por ter bolsonaristas em seu palanque. Houve recados com o seguinte teor: se Raquel declarar voto em mim, minha candidata é ela. O que não aconteceu naquele momento.

Voltando?

Agora, parece ter havido algum distensionamento na relação. Marília tem feito suas articulações nos municípios e, nessas conversas municipais, dependendo do local, há aproximações e distanciamentos do seu Solidariedade com o PT.

A irmã, Maria Arraes (SD), é deputada federal e há alguns dias recebeu o direito de indicar um nome para uma diretoria da Hemobras. O movimento chamou a atenção para uma possibilidade de reaproximação de Marília com o núcleo petista. No PT, nega-se a possibilidade. Mas há indícios de um recomeço. 

Nada como uma eleição depois da outra, com muitas nomeações no meio, para resolver qualquer problema na política brasileira.

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