Cena Política

Xadrez de Lula: os riscos de João Campos e Raquel Lyra no tabuleiro do PT

Confira a coluna Cena Política desta quarta-feira (31)

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Igor Maciel

Publicado em 30/01/2024 às 20:00
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O presidente Lula (PT) não quer bloquear nenhuma ponte em Pernambuco para 2026. Mas tem dito que não terá palanque duplo, como aconteceu em 2006 quando apoiou Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos.

Resta então buscar o melhor de dois mundos, aproveitando uma proximidade com o PSB para assumir a prefeitura do Recife no futuro.

Ao mesmo tempo, Lula trabalha a aproximação com Raquel Lyra (PSDB) por um palanque forte no futuro quando ele próprio for tentar a reeleição ou indicar alguém.

Me dá uma vice aí

O presidente sabe o que está fazendo, é preciso reconhecer. No fim, o objetivo é fazer com que tudo fique bem para o PT. As duas eleições, de 2024 e 2026, são pensadas ao mesmo tempo, embora a operação seja de uma jogada por vez. Primeiro o PT tem que garantir a vice de João Campos na reeleição.

A insistência dos petistas em relação ao posto é a mesma que está acontecendo no Rio de Janeiro. Por lá, com Eduardo Paes (PSD) tendo uma reeleição garantida e pretendendo disputar o governo em 2026, Gleisi Hoffmann (PT) também tem dito que só terá apoio dos petistas se entregar a vice.

Fase um

Nessa primeira jogada, o objetivo é ganhar prefeituras de duas capitais importantes, sem gastar muito e pegando carona nos votos dos atuais gestores que, teoricamente, não teriam dificuldade para se reeleger sem o PT, mas podem ser atrapalhados por candidaturas próprias desses petistas, caso não cedam. É verdade que, a priori, João Campos não precisa do PT para ser reeleito.

Mas uma candidatura petista, com Lula vindo à cidade pedir votos, divide o eleitorado da esquerda e pode levar o prefeito para um segundo turno, onde novas negociações precisam ser feitas e o risco se amplia.

Fase dois

Se João Campos ceder e entregar a vice, a próxima jogada será convencê-lo a sair candidato ao governo contra Raquel Lyra (PSDB) em 2026, deixando o PT assumir a prefeitura do Recife. É o cenário que o PT mais deseja nesse momento. Assume a prefeitura com a garantia de quase três anos, sem precisar suar muito por votos em 2024. E, para completar, transforma-se em fiel da balança numa disputa entre João e Raquel.

Politicamente é muito lucrativo, uma jogada de mestre. Só tem que “combinar com os russos”.

Pressão

Sejam russos, recifenses ou caruaruenses, o fato é que é preciso estar bem combinado com um dos lados para que o plano de Lula dê certo. João Campos sabe dos riscos de colocar o PT na vice.

Dez segundos após a vitória em outubro, se ela acontecer, o socialista já estará tendo que lidar com as pressões dos petistas de um jeito que ele não está acostumado, já que teve bastante liberdade para trabalhar no primeiro mandato.

Alerta amarelo

Do outro lado, Raquel pode ter que ceder muito mais ao PT se o partido estiver com a perspectiva de assumir a prefeitura da capital. A tendência é que os petistas prometam apoio a João para que ele saia em 2026, mas depois farão “leilão” pela aliança, negociando espaços junto com a campanha nacional.

A posição da governadora nessa disputa é frágil, porque na última hora a lembrança de que ela não declarou voto em Lula em 2022 será utilizada como trunfo pelos petistas que querem a aliança com o PSB.

Alerta vermelho

Mas a posição de Campos será ainda pior, porque Raquel ainda será governadora, com acesso aos municípios de todo o estado, com a caneta mais poderosa e as chaves do cofre mais importante de Pernambuco. Enquanto João, nessa configuração que o PT imagina, nem será mais prefeito, porque precisa entregar o cargo nove meses antes do pleito.

O jogo está sendo jogado. E bem jogado pelo PT.

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