Cena Política

O frevo da eleição de 2024 na capital pernambucana, até pra quem não dança

Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (13)

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Igor Maciel

Publicado em 12/02/2024 às 20:00
Análise
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Não existe sisudez que resista a um frevo. O mestre Claudionor Germano diz que quando toca um frevo até o sujeito mais sério do mundo bate o calcanhar discretamente. E ele tem décadas de experiência para dizer isso. Quando o batedor de calcanhar é político e se o ano for de eleição, aí é que ele precisa mexer.

Daniel

Desde os primeiros dias do carnaval, a movimentação de possíveis candidatos às prefeituras foi grande. Um deles foi Daniel Coelho (Cidadania) que deve mesmo disputar a prefeitura do Recife. Seu nome deve ser lançado após a folia de Momo. Daniel circulou muito, principalmente por ser Secretário de Turismo de Pernambuco. O ex-deputado será o nome de Raquel Lyra (PSDB) para a disputa na capital pernambucana.

Antes

Em 2020, é bom lembrar, Daniel disputou com Mendonça Filho (UB) a indicação para ser o candidato da oposição contra João Campos (PSB) e Marília Arraes (na época, pelo PT). Havia um acordo entre eles, para que o melhor colocado nas pesquisas fosse para a disputa e recebesse o apoio do outro. Acabou não dando certo.

Confusão

Os dois brigaram, Mendonça foi candidato e Daniel não aceitou dar seu apoio, o que dividiu o grupo. Além disso, a situação ficou pior porque Daniel lançou a candidatura da delegada Patrícia Domingos, dividindo os votos da direita e da centro-direita. Depois disso, a confusão virou tragédia eleitoral.

Bobagens

A candidata delegada fez uma bobagem atrás da outra, teve falas preconceituosas contra o Recife encontradas em suas redes sociais e a campanha se perdeu. Na reta final, quando já se sabia que ela não teria chance e Mendonça estava disputando para ir ao segundo turno, Patrícia anunciou o apoio do presidente Jair Bolsonaro e tirou votos de Mendonça. Acabou garantindo o segundo turno entre Marília e João. O resto é História.

Momentos distintos

É difícil fazer o exercício de “como teria sido”, mas a história da eleição mudou completamente ali. Política é desprendimento e sacrifício também. Um passo atrás hoje que garanta dois à frente na sequência. João Campos é prefeito desde então. E Daniel agora vai, finalmente, brigar pela cadeira. Com uma grande vantagem: terá o apoio do Palácio do Campo das Princesas, coisa que a oposição não tinha em 2020. Mas também com uma enorme desvantagem: é que, naquela época, a administração municipal do PSB vinha desgastada, não era uma disputa por reeleição e a esquerda estava dividida entre o PT e o PSB.

Oportunidade

Dessa vez, João pode acabar com mais de 70% de aprovação no seu primeiro mandato e partir para uma das campanhas mais tranquilas que já se viu em Pernambuco desde a eleição de Arraes a governador em 1986. Fim da linha para Daniel? Pelo contrário. O maior beneficiado com a vitória de Arraes em 1986 foi o candidato derrotado: José Múcio Monteiro.

Atrás

A coluna já contou isso aqui. A derrota era tão certa que o fato de ter feito tudo direito, ter sido correto com o próprio grupo político e ainda ter sido competitivo (alcançou 40% dos votos), alavancou a carreira do atual ministro da Defesa, que já foi líder na Câmara Federal e presidente do Tribunal de Contas da União.

Calcanhar

Se Daniel souber dançar o frevo direito e agir de forma coerente com seu próprio grupo político e com os aliados, pode experimentar algo parecido. O único risco é ser competitivo, tentar provocar um segundo turno, dependendo da conjuntura, até vencer. Se souber trabalhar, mesmo que fique só batendo o calcanhar ao som da orquestra pode fazer uma festa e tanto.

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