O desafio da eleição no Recife será fugir do óbvio quando só a surpresa salva
Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (29)
Há pouca graça em cortejar o óbvio, mesmo quando ele é necessário. O óbvio é pobre em resultados também. É preciso encarar a realidade com olhar criativo para que valha a pena abrir os olhos todos os dias. E se você está em busca de votos, é preciso ter algo diferente para oferecer aos que lhe assistem e podem lhe escolher.
Daniel Coelho (Cidadania) ainda não teve sua candidatura lançada, mas terá em breve. O candidato Daniel já não é uma novidade. O eleitor recifense já o teve em disputa por duas eleições.
2012
Seu melhor resultado foi em 2012, quando perdeu no primeiro turno para Geraldo Julio (PSB), mas conseguiu manter-se como segunda força na cidade, chegando a 27,6%, numa campanha em que Humberto Costa também era candidato pelo PT que governava a cidade naquela época.
2016
Depois, Daniel foi novamente uma das opções, dessa vez no pleito de 2016 no qual disputou votos com Priscila Krause, atual vice-governadora, e exatamente por isso perdeu a chance de ir ao segundo turno. Acabou com 18,5%. Priscila teve 5,4%. Se estivessem juntos havia a chance de terem ocupado a segunda posição e desbancado João Paulo (PT) que teve 23,7%.
2020
Em 2020, Daniel poderia ter feito uma composição com Mendonça Filho (UB). Até havia um pré-acerto sobre isso, mas quando as pesquisas indicaram que Mendonça era quem tinha a preferência para ser o cabeça da chapa, Daniel se afastou e lançou uma concorrente, na mesma faixa outra vez, a “Delegada Patrícia”.
Briga
O movimento, desagregador, pode ter decidido a eleição. A votação dos dois, se estivessem juntos, poderia ter chegado a mais de 300 mil votos no primeiro turno. Passariam à segunda fase, em primeiro, talvez.
Ao invés disso, o ex-governador e ex-ministro da Educação ficou com 200 mil votos e por causa de dois pontos percentuais não foi ao segundo turno. A delegada teve 100 mil votos.
João Campos (PSB), naquela disputa, ficou em primeiro com 233 mil votos e Marília Arraes (ainda pelo PT) ficou em segundo com 223 mil. Os dois foram ao segundo turno.
Fantasma das…
Na eleição de 2012, Coelho representava o “novo” e tinha um discurso de renovação no meio de um ambiente mofado entre o PT e o antigo PFL (já sendo chamado de DEM). Na eleição de 2016 não houve briga, mas ele dividiu votos por causa de uma estratégia equivocada com Priscila. Na eleição de 2020 ele dividiu votos por causa de um atrito com Mendonça.
…eleições passadas
Daniel não é mais o “novo” como foi em 2012, não pode mais errar a estratégia, como aconteceu em 2016, e muito menos brigar com os aliados, como ocorreu em 2020.
Mas como já tentou muitas vezes e nunca teve sucesso, o atual secretário de Turismo do Estado tem muito mais dificuldade para fazer qualquer coisa numa campanha eleitoral sem cair no lugar comum de campanhas passadas.
É muito mais difícil para ele ter um novo discurso.
Reinvenção
João Campos é favorito, tem grande vantagem nas pesquisas. O óbvio, também, é que ele ganhe e seja reeleito no Recife. Mas se há uma coisa certa é que o único elemento capaz de quebrar uma obviedade seria a surpresa.
A pergunta é: com tanta bagagem eleitoral e tantas oportunidades já gastas nos últimos anos, Daniel ainda é capaz de surpreender?
Só o apoio do Palácio pode não ser suficiente sem uma boa dose de reinvenção de imagem. Isso já está sendo feito? Isso vai ser feito em algum momento?