O secretário honesto, uma caixa de cerveja e a necessidade de mais histórias assim

Da forma que se faz ruído quando um agente público é descoberto em atos de corrupção, é preciso fazer o dobro de barulho quando uma tentativa de corromper um agente público falha.

Aconteceu esta semana em Pernambuco com o secretário da Fazenda do Estado, Wilson de Paula. Um empresário, interessado em conseguir isenção fiscal para uma fábrica, deixou quase R$ 50 mil dentro de uma caixa de cervejas na casa do secretário.

O servidor estadual, exemplarmente probo, discou 190, ligou para a polícia e o sujeito foi preso. Vai responder por corrupção ativa.

Oportunidade

É errada a ideia de que ações assim constrangem quem quer que seja e não devem ser publicizadas. Ações assim, na verdade, são uma grande oportunidade para mostrar a todos os que se relacionam com o poder público que não haverá espaço para esse tipo de iniciativa.

É o momento, não apenas de fazer autopromoção da gestão, mas de mandar um recado bem claro aos que se acostumaram a comprar vantagens indevidas: se já foi assim um dia, os tempos mudaram.

A governadora e a vice-governadora entenderam isso e, imediatamente, contaram a história em suas redes e elogiaram a atitude do secretário. Acertaram.

Republicano

É possível aproveitar oportunidades de relacionamento empresarial com o poder público, ter algum lucro e ser competitivo, desde que tudo seja construído com trabalho duro e dentro de um ambiente de negócios republicanos, desde que a transparência e a honestidade sejam a tônica, com sensatez e não com bolos de notas de dinheiro amassadas dentro de uma caixa de cerveja.

Osso duro

Prefeito por quatro vezes em Caruaru, o ex-deputado José Queiroz (PDT) deve ter pela frente a eleição mais difícil de sua vida na tentativa de chegar ao quinto mandato. Enfrentará um prefeito em exercício buscando a reeleição e apoiado pela governadora. O fato de ser na Capital do Agreste ainda complica mais a situação. Como é a cidade de origem da gestora que comanda o Palácio do Campo das Princesas, é uma prioridade máxima para ela. “Derrotas nos outros 183 municípios seriam ruins para ela, mas perder em Caruaru seria uma tragédia imensa. Por isso, o empenho de Raquel vai ser total”, comenta um palaciano.

PDT

Outra dificuldade para Queiroz pode ser o próprio partido. A relação com Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, foi pacificada. Houve momento recente em que se cogitou a ida do ex-deputado para o PSB, quando um acordo foi feito entre Lupi e Raquel, levando o PDT a ocupar uma secretaria no Palácio e contrariando o grupo de Queiroz. Apesar da promessa de que terá liberdade e estrutura para a campanha, há quem tema algum “corpo mole” do presidente pedetista com o candidato em Caruaru.

Ciro

Um fato interessante é que tanto José Queiroz quanto seu filho, Wolney Queiroz (PDT), foram prejudicados e acabaram não sendo reeleitos em 2022, na Alepe e na Câmara Federal, respectivamente, por causa de Ciro Gomes (PDT), que insistiu numa campanha presidencial fadada ao fracasso e prejudicou candidatos ao Legislativo em todo o país. Foi também por causa de Ciro que o PDT brigou com o PSB no Ceará, com reflexos em Pernambuco, gerando retaliação aqui e o acordo com a governadora. E quem mais tem bancado Ciro no partido, é Lupi.

Histrionismo

Bancar Ciro Gomes, em qualquer esfera da sociedade humana, é sempre um risco. Instável, agressivo e pernóstico como poucos, Ciro costuma implodir o mundo ao seu redor com a afetação de políticos polemistas dos anos 1950. Mas Lupi insiste. Em dezembro de 2023, chegou a articular para que o ex-governador do Ceará entrasse no governo Lula (PT). O próprio Lupi é ministro de Lula e vinha apelando para o bom senso dos dois lados, tentando uma aproximação. Na primeira oportunidade, Ciro deu uma entrevista descascando a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, numa polêmica pontual da gestão. A ideia de Lupi morreu antes mesmo de nascer.

Situação

Queiroz, em Caruaru, portanto, enfrenta um adversário fortalecido, contra a governadora do estado, sem grande segurança dentro do próprio partido e suscetível aos histrionismos de Ciro Gomes. Não será fácil.