Cena Política

Maior parte dos jovens quer deixar o Brasil. Lula e Bolsonaro têm culpa

Confira a coluna Cena Política deste domingo (28)

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Cadastrado por

Igor Maciel

Publicado em 27/04/2024 às 20:00
Análise

Uma gradação importante que deveria estar na mente de todo gestor público comprometido com o trabalho em benefício coletivo e não apenas com seus votos: pior do que a rejeição é a decepção. E pior do que a decepção é a desesperança.

O sujeito que rejeita ainda está suscetível às mudanças que podem acontecer. Aquele que se decepciona demora mais para voltar a confiar. Mas o que é tomado por desesperança, deixa de esperar algo do futuro. Este é quase impossível de recuperar. E contamina todo o humor social do país com o tempo.

Essa reflexão vem após os resultados de uma pesquisa Real Time Big Data, divulgada esta semana, apontando que 67% dos brasileiros entre 18 e 35 anos sairiam do Brasil, se pudessem.

É a desesperança acenando.

Jovens importam

Basta abrir alguma rede social e você vai encontrar políticos, inclusive pernambucanos como Marília Arraes (SD) e João Campos (PSB), mostrando suas fotos quando eram jovens e incentivando os que têm 16 anos a tirarem o título de eleitor para a disputa que vem por aí em outubro.

Em 2022, houve também um grande alistamento eleitoral de jovens, incentivados por lideranças políticas de esquerda, sabedores que a penetração de Bolsonaro (PL) era maior no público mais velho. Funcionou, porque entre janeiro e abril daquele ano o país ganhou 2 milhões de novos eleitores entre 16 e 18 anos, um aumento de 47,2% em relação ao mesmo período em 2018, no pleito anterior.

Importam muito

Lógico, esses jovens não votaram todos em Lula (PT), lógico que isso apenas não decidiu a eleição, mas só para fazer uma observação, sabe qual foi a diferença do vencedor para o derrotado, no segundo turno? Isso, 2 milhões de votos separaram Lula de Bolsonaro no fim da apuração daquele ano.

Os jovens que tinham 16 anos e tiraram o título para votar naquele ano são um número importante e podem ter sido essenciais no resultado.

Tchau

Mas a quantidade de jovens que gostariam de deixar o país cresceu no governo Lula. Poucos querem ficar.

Esse levantamento atual, mostrando que 67% dos brasileiros entre 18 e 35 anos querem ir embora do país, foi feito para o jornal Estadão, esta semana. No governo Bolsonaro uma outra pesquisa com esse questionamento foi realizada. Na época o número já era muito elevado, mas era menor: 55%.

Uma olhada rápida pode fazer parecer que o problema foi ter mudado o governo. Não foi isso. Não é porque os jovens gostam mais de um do que de outro. Eles não gostam é do Brasil atual.

É apartidário

Na época da pesquisa anterior, em 2022, os brasileiros que queriam deixar o país eram eleitores de Lula e de Bolsonaro. Quem estava no poder não importava para eles. Agora, também, há eleitores de Lula e de Bolsonaro entre os que não veem futuro no Brasil.

Decepção e desesperança não têm um incompetente de estimação. Eles acham que o Brasil não tem futuro, independente de o bumbum sentado na cadeira de presidente estar mais à esquerda ou à direita.

O problema é o futuro do país não ser discutido e estar perdido nos jogos de poder e ideologia barata dos cretinos de um lado e de outro governando o país.

Não são ricos

Tem outro dado da pesquisa que chama a atenção: a maior parte dos jovens que desejam ir embora do Brasil não são os que têm boas condições financeiras e pretendem explorar seus próprios horizontes. São indivíduos das classes C1 e C2, principalmente, que querem ir a países onde possam trabalhar sem precisar de diploma universitário, apesar do preconceito e da xenofobia.

Estes são os desesperançados.

Ficar nisso?

Para eles, é melhor ter uma vida mais dura, num país que tem perspectivas, do que aproveitar as oportunidades no Brasil em que só se discute picuinha ideológica, modos de distribuir dinheiro dos cofres públicos em acordos políticos e os casamentos desfeitos dos últimos integrantes do Big Brother.

 

Melhorou mesmo?

Muito da rejeição que Lula experimenta agora vem dos que votaram nele imaginando que as tensões políticas seriam reduzidas e haveria melhoria na economia, e que isso se daria mais rápido. Quem votou em Lula esperava afastar o "ex-presidente raivoso" e virar a página da última década de brigas.

Alguns dados econômicos são bons, a inflação está controlada, o desemprego foi reduzido, mas não é o que se imaginava e não é suficiente, porque 71% dos entrevistados dizem não ter sentido qualquer melhora em suas vidas financeiras.

Para completar, Lula e o PT nunca aceitaram virar página, não param de falar em Bolsonaro, não esquecem os que os atacaram no passado e perdem tempo entre mágoas e vinganças pessoais, esquecendo pelo que foram colocados para uma nova chance no poder.

Caos permanente

Basta abrir o noticiário para ver discursos de Lula contra Bolsonaro e respostas de Bolsonaro a Lula. Crise entre poderes, o STF que não quer largar o osso do poder quase ilimitado que outorgou a si mesmo.

É como se o Brasil vivesse uma eleição tensa que nunca termina e que já dura uma década. Os que disputam o poder como cães raivosos não percebem que de tanto lutarem para provar que estão certos, estão sufocando o país em suas “certezas”.

Patrimônio

A popularidade de Lula, alguém deveria avisá-lo, é o menor dos problemas dele. Aliás, também deveria preocupar Bolsonaro, porque pode não sobrar muita coisa para o sonho dele de um dia voltar a ter o poder que teve.

Rejeição acontece e se reverte. Os brasileiros estão já na fase da decepção com o país, isso é perigoso. 

Mas se chegarem em maioria à desesperança, talvez voltemos a um clima social anterior à criação do Real, lá nos anos 1980 e 1990, quando o pessimismo com o futuro era quase um patrimônio cultural nacional.

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