Cena Política

Os bastidores da decisão de Mendonça Filho sobre o União Brasil e João Campos

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (30)

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Cadastrado por

Igor Maciel

Publicado em 29/05/2024 às 20:00
Análise

Os bastidores da decisão de Mendonça Filho (UB), que se licenciou da presidência municipal do União Brasil no Recife e vai apoiar Daniel Coelho (PSD) na eleição de outubro, tem nuances que precisam ser detalhadas.

Mesmo lado

Para começar, é bom relembrar, voltando quatro anos no tempo. Quando Mendonça tinha um acordo com Daniel para que um apoiasse o outro que estivesse melhor colocado em pesquisas. Daniel não fez o que havia sido acertado, lançou um nome paralelo e foi bastante criticado, mas os dois nunca brigaram diretamente e estiveram juntos na oposição ao PSB. Mantiveram-se assim em 2022, principalmente no segundo turno.

Estarem juntos agora não causa surpresa nenhuma.

Briga 1

Ainda em 2020, quando o União Brasil (junção do DEM com o PSL) nem existia, Luciano Bivar, então presidente do PSL, havia se comprometido a apoiar Mendonça (na época pelo DEM), mas resolveu lançar um candidato próprio de pouca expressão, na última hora, por causa de um acordo feito com o PSB.

Mendonça sempre foi crítico da relação que Bivar tinha com os socialistas com um pé na direita e outro na esquerda.

Briga 2

Por causa dessas disputas com Bivar, Mendonça foi perseguido durante a campanha de 2022, dentro do próprio partido. O então presidente nacional da sigla, também pernambucano, teria excluído Mendonça dos guias e feito de tudo para que ele não se elegesse. A vitória veio com muita dificuldade dentro da chapa. A família Coelho, de Miguel, Fernando Filho e Antônio também foi prejudicada.

Esses e outros atritos fizeram com que Bivar fosse retirado da presidência do partido.

Lado

O apoio de Mendonça a Raquel Lyra (PSDB) se deu ainda no segundo turno da eleição de 2022. Não é algo que surgiu agora, no calor de algum convite recente. Aliás, a coluna apurou que não houve qualquer convite, nem foi oferecido qualquer espaço no governo a Mendonça antes da decisão atual de apoiar Daniel.

O deputado do União Brasil, aliás, nunca indicou nenhum secretário ao Palácio.

Até 2026

Convites aconteceram, mas da parte do PSB. Nas últimas semanas, Mendonça e João Campos se encontraram mais de uma vez, segundo uma fonte que conversou com a coluna. Várias propostas foram apresentadas por João Campos, incluindo cargos na administração municipal e até possibilidades de espaço político e eleitoral que já incluíam a campanha de 2026, do Governo do Estado.

Após o último desses encontros, como Mendonça, que é presidente municipal do União Brasil, não cedeu, o PSB fez o caminho nacional e usou a eleição da Câmara dos Deputados como trunfo e pressão.

Fator Elmar

Acontece que Elmar Nascimento, líder do União Brasil no Congresso, é candidato à presidência da Câmara Federal, no lugar de Arthur Lira (PP). Para conseguir o apoio do partido na eleição do Recife, João teria prometido a Elmar os 14 votos que o PSB tem na Casa.

O apoio do PSB é importante para o candidato do União Brasil, que disputa com chances de ser eleito um cargo hoje considerado mais importante do que o de um governador, por exemplo.

Rendido

A pressão passou a ser grande demais. A ideia era que Mendonça, cercado por todos os lados e rendido, levasse o partido para João Campos.

Convenhamos, não deveria ser uma decisão difícil de se tomar no mundo político de hoje. Campos tem mais de 70% de aprovação e 60% das intenções de voto. Pode se reeleger com bastante facilidade este ano e já desponta como protagonista para a eleição de 2026 junto com a governadora.

Ainda assim, Mendonça resistiu. A quem conversou com ele sobre o assunto, repetia a mesma frase: “eu tenho lado. E é o oposto do PSB”.

Questão

No fim, o problema estava bem colocado. João Campos queria o União Brasil do Recife por causa do tempo de Rádio e TV. Mendonça que estava na presidência da sigla não iria aderir porque já estava comprometido com Raquel Lyra.

Se continuasse como empecilho local e Elmar Nascimento perdesse a eleição da Câmara Federal, sem os votos nacionais do PSB oferecidos por João Campos, Mendonça poderia ser responsabilizado pela derrota no futuro. Para resolver tudo isso, ele decidiu se licenciar da presidência municipal.

Para todos

Licenciado, o deputado pernambucano ficou livre para apoiar Daniel Coelho, cumprindo sua promessa a Raquel Lyra. João Campos terá o tempo de TV e Rádio do partido que tanto queria. Elmar Nascimento e o União Brasil terão os 14 votos de deputados do PSB para garantir sua ida ao segundo turno da disputa nacional.

E, após o período eleitoral, Mendonça poderá retomar a presidência municipal da sigla.

Exemplo

A resistência de Mendonça, que não mudou de lado apesar de todas as vantagens que poderia ter, é exemplar. Coisa rara na política de escambo tradicional na qual existe até tabela de preços para trocar de partido e para subir ou descer em palanque.

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Poucas horas depois que Mendonça anunciou que estava se licenciando da presidência, o União Brasil e o PSB fizeram um anúncio conjunto de aliança para a eleição de 2024 no Recife e para a eleição da Câmara Federal. Problemas resolvidos, então.

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