Cena Política

O saldo das desincompatibilizações mirando a prefeitura do Recife

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (7)

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Igor Maciel

Publicado em 06/06/2024 às 20:00
Análise

O PT ainda tem esperanças de que vai conseguir a vice de João Campos (PSB). O espírito quixotesco petista é atributo mais comum do que se imagina.

Há uma coisa sobre Dom Quixote que precisa ser ressaltada nesse caso: lutar contra os moinhos de vento, como se fossem monstros terríveis, é a solução que a mente encontra quando não é possível aceitar a realidade constrangedora da finitude e das limitações que lhe são impostas.

João Campos quer o PT como um acessório chamativo, não como companheiro. Entender isso é que está difícil para o PT do Recife. E não há Sancho Pança que resolva.

Quem será

Dos dois auxiliares exonerados pelo prefeito do Recife para, possivelmente, integrarem seu projeto de reeleição, fala-se que o mais provável para ser escolhido é Vitor Marques, recentemente filiado ao PCdoB com esse objetivo. Mas pode ser muito cedo para apontar qualquer um dos dois. Depende da conjuntura dos adversários.

Marília Dantas, que também foi filiada recentemente mas ao MDB, é uma opção no caso de a chapa precisar colocar uma mulher para se contrapor aos adversários. Pesquisas estão sendo feitas pelo PSB para definir alguns detalhes e a decisão será tomada baseando-se nisso. Não é só uma questão de preferência.

Calculado

Há mesmo um risco de João Campos perder um certo percentual de votos por não colocar o PT na vice. Tem petista que não vai votar nele por causa da vice e até, acredite, pelo PSB ter votado a favor do impeachment de Dilma em 2016, ainda. Os moinhos de vento sempre estarão por lá.

Mas com a vantagem que Campos tem até aqui, isso é pouco considerado por quem cuida da estratégia da campanha. A questão importante é de fluxo migratório e de matemática.

É verdade que a militância petista tende a votar em Dani Portela no primeiro turno, por causa da recusa do socialista. Mas, daí em diante, há um roteiro bem traçado e monitorado.

Migração

Se o voto duro do PT, da militância, migrar totalmente para Dani Portela como candidata da esquerda, ainda não será suficiente para que ela vá ao segundo turno e tire o prefeito.

Daí haverá duas opções: ou esse fluxo não será grande o suficiente e Campos vence logo no primeiro turno ou ele será considerável e levará a eleição a uma segunda etapa. 

Nesta última hipótese, a tendência é que os eleitores retornem para João numa votação contra Daniel Coelho (PSD) ou contra Gilson Machado (PL). Quem vota em Dani não votará em Gilson ou em Daniel com muita facilidade.

Por isso, a candidata do PSOL é vista por alguns dentro do PSB como uma “poupança de votos” que, num segundo turno, poderá ser utilizada a favor de Campos.

Desafio

Do outro lado, não houve surpresa na desincompatibilização de Daniel Coelho da secretaria de Turismo. Ele será o candidato do Palácio do Campo das Princesas pela prefeitura do Recife. E sua missão é difícil.

A governadora começou a recuperar popularidade pelo interior do estado e estabiliza os índices no Recife, mas ainda tem dificuldades para chegar ao ponto de desequilibrar o jogo na capital. Sua rejeição aqui ainda é um obstáculo, apesar das boas notícias nos últimos dias na habitação e na segurança.

Começo

Honestamente, isso não é nada alarmante. É bom lembrar que nem Eduardo Campos, eleito governador em 2006 e que virou uma "unanimidade" posteriormente, teve força para se impor contra João Paulo (PT) em 2008 quando o petista resolveu que iria lançar João da Costa (PT) para a prefeitura em sua sucessão.

Poucos lembram disso, porque Eduardo era aliado do PT. Mas se tivesse o socialista pai de João Campos, com menos de dois anos na cadeira (igual a Raquel agora), lançado um candidato contra o PT do Recife naquele ano, teria sido derrotado facilmente.

Mulheres

A novidade das desincompatibilizações foi a secretária da Mulher, Mariana Melo (PSDB). Ela, provavelmente, será a candidata a vice-prefeita, na chapa com Daniel Coelho.

Isso ainda não está completamente fechado porque depende também da movimentação dos adversários, mas a exoneração foi feita com esse objetivo. Pode ser ela, inclusive, o motivo de Campos ter mantido a possibilidade de escolher uma mulher para a vice, e não o seu amigo e chefe de gabinete, como vinha sendo especulado. A ver.

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