As chances e os desafios de Gilson Machado que oficializa candidatura neste domingo

Bolsonarista terá dificuldade porque a polarização entre esquerda e direita enfraqueceu desde 2022. E João Campos não é visto como lulista.

Publicado em 26/07/2024 às 20:00

Neste domingo (28) será oficializada a candidatura de Gilson Machado (PL) à prefeitura do Recife. Amigo pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), coube ao ex-ministro do Turismo ser o representante bolsonarista numa cidade em que o bolsonarismo tem rejeição muito alta.

Ainda assim, é bom voltar a 2022 para entender o tamanho da direita na capital pernambucana. Não é pequeno. Lula (PT) foi majoritário na votação, como era o esperado, teve 538 mil votos. Mas Bolsonaro conseguiu 390 mil votos no Recife.

Números altos

Significa que há 390 mil eleitores potenciais para Gilson Machado por aqui. Todos vão votar nele? Não. O próprio candidato a prefeito, quando disputou o Senado, conseguiu 323 mil votos apenas entre os eleitores recifenses. Todos vão votar nele outra vez? Não. Mas são números expressivos.

É muito, sim

Para entender a proporção desses números, vale lembrar que em 2020 João Campos (PSB) passou do primeiro para o segundo turno na liderança com 233 mil votos. Marília Arraes (na época pelo PT), teve pouco mais de 220 mil votos.

No total, Recife costuma ter em torno de 800 mil votos válidos. Significa que 200 mil votos já representam 25% da votação total. E, em 2022 para o Senado, Gilson teve mais de 320 mil.

Polarização esfriou

Mas a conjuntura é a mesma de 2020? Nem de longe. A identificação de Gilson com Bolsonaro era mais ampla, de conhecimento geral e estava fresca na cabeça das pessoas, porque o então ministro do Turismo vivia colado no então presidente. Hoje isso não é mais a realidade.

Outra dificuldade para Gilson é que ele depende em termos vitais da polarização entre esquerda e direita. A maioria dos eleitores votou “contra Lula” e não em Bolsonaro.

Campos e Lula

Mas essa polarização está adormecida, seja por causa dos escândalos que envolvem o ex-presidente com a Justiça, seja por causa da tentativa de golpe que culminou nos ataques aos três poderes em 8 de janeiro de 2023, seja porque João Campos não é identificado pelo eleitor como um “lulista”, mesmo tendo o apoio expressivo de Lula atualmente.

E aí não tem polarização.

Outra faixa

Por mais que seja apoiado pelo PT, Campos é visto pelo eleitor recifense como antagonista de Raquel Lyra (PSDB), não de de Bolsonaro. A projeção mental do ambiente político de Pernambuco enxerga João como adversário da governadora.

A verdade é que, desde a eleição de 2020, quando contou com votos da direita para ser eleito, o prefeito do Recife evita atacar Bolsonaro diretamente, como fazia enquanto era deputado federal.

Dois dígitos

Gilson Machado já terá uma vitória imensa, conseguindo ultrapassar dois dígitos no resultado das urnas. Com um resultado (já espetacular) entre 10% e 20% no Recife, mais alguma articulação no interior e o bolsonarismo minimamente estável no cenário nacional, o ex-ministro do Turismo pode se tornar um dos deputados mais votados de Pernambuco em 2026.

É lá que ele vai mirar, no fim das contas.

A escada…

Por falar em João Campos, pesquisas que mostram o candidato socialista com 75% das intenções de voto são muito boas para assustar os oponentes e reafirmar aprovação do próprio trabalho, ainda mais numa campanha de reeleição, mas carregam um risco para quem tem planos de já ser candidato ao governo. Se fosse para escolher, seria muito melhor começar a campanha com 50% e terminar com 75%.

…do teto

O problema é que, ao chegar no teto, toda escada aponta para baixo. Quando você já começa no topo, o movimento mais provável é um ajuste para baixo, porque o número de eleitores é limitado e a rejeição é pequena, mas existe.

Começar a campanha com 75% e terminar com 51%, por exemplo, cumpre o objetivo, elege o PSB no primeiro turno, consolida João como candidato ao governo, mas fica feio no gráfico.

E o gráfico de queda será usado para 2026.

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