Sobre o preço e o valor de uma visita como a de Bolsonaro a Pernambuco
É possível que a visita de Bolsonaro a PE termine com alguma multa da Justiça Eleitoral por antecipação. Mas, quem pode dizer que não vale a pena?
Preço e valor obedecem à bases conceituais diferentes, dependendo da situação. Vender uma garrafa de água ao lado de uma fonte natural com água limpa tem um preço muito mais baixo do que vender essa mesma garrafinha no deserto. A necessidade sobe o preço porque o valor é ampliado. O valor sempre precisa ser avaliado antes de se definir o que é caro e o que é barato.
Por exemplo, qual o valor de uma visita de Jair Bolsonaro (PL) arrastando multidões pelas ruas do Recife e de outras várias cidades do estado para candidatos que ainda não conseguiram mostrar um protagonismo considerável nas pesquisas?
Alto
Esse valor é tão alto que ninguém está preocupado com as multas que podem ser aplicadas por antecipação de campanha eleitoral. Sim, os eventos de Bolsonaro no Recife e em Caruaru podem ser enquadrados como antecipação de campanha porque o período eleitoral só começa de verdade em 16 de agosto.
Mas ter o ex-presidente aqui é como encontrar água no deserto para os bolsonaristas que ainda não decolaram na pré-campanha e podem se beneficiar da vinculação.
Não é caro
Antecipação de campanha, aliás, é algo tão subjetivo que os pré-candidatos precisariam ficar escondidos em casa, dentro do quarto e embaixo de um cobertor se não quisessem correr nenhum mínimo risco de acusação. Imagine quando carreatas e discursos são feitos.
E foi o caso dos bolsonaristas nestes dias. A multa que pode ser aplicada por campanha antecipada, cerca de R$ 25 mil no máximo, só seria realmente cara se as ruas estivessem vazias de apoiadores. E se as ruas estivessem vazias, não seria crime, nem antecipação de campanha.
Lógico
Eis o paradoxo da punição eleitoral: Se juntar muita gente gera valor e sai barato para quem comete a irregularidade. Mas se não juntar ninguém, não é crime. Ninguém sabe se Jair Bolsonaro estará disponível para visitar Recife e Caruaru novamente antes da eleição.
Neste início de caminhada, quando ainda nem seria permitido fazer carreata ou discurso de campanha, apareceu um espaço na agenda do ex-presidente. É claro que Gilson Machado (PL), no Recife, e Fernando Rodolfo (PL), em Caruaru, precisavam aproveitar.
Valor
O que são R$ 25 mil para um partido como o PL que terá R$ 886 milhões para gastar nesta eleição? Ainda mais quando os dois candidatos ainda patinam nas pesquisas, com percentuais que ainda estão longe dos dois dígitos e distantes do protagonismo que se esperava após os bons resultados legislativos em 2022.
Lula
Lula também andou fazendo isso, e até já foi condenado pela Justiça Eleitoral neste santo ano de 2024. Por pedir votos para Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo, antes mesmo da eleição, recebeu uma censura pública e foi obrigado a pagar R$ 20 mil. Boulos pagou R$ 15 mil.
O PT, é bom dizer ainda, recebeu quase R$ 800 mil no fundão eleitoral. A multa de R$ 20 mil é uma gota do oceano de verbas que os partidos arrecadam do pagador de impostos.
Mimados
O problema desse paradoxo da Justiça Eleitoral envolvendo o valor do ato e o preço da multa é que fica parecendo aquela mãe de criança mimada, que perante as falhas de um filho se resume a dizer um “ai, ai, ai”, entre o riso e a censura, para em seguida o garoto voltar a cometer o mesmo ato.
Milhares de Km
O período de eleições municipais é importante também para os deputados estaduais e federais que pretendem reforçar as bases para a disputa de 2026. Quanto mais vereadores e prefeitos você consegue ajudar a eleger, mais votos terá no seu próprio pleito e menos recursos precisará gastar.
Entre convenções partidárias e reuniões políticas nas últimas semanas, por exemplo, a deputada estadual Debora Almeida (PSDB), que tem base na região de São Bento do Una, já percorreu cerca de 26 municípios, totalizando mais de 5 mil km rodados. A parlamentar está visitando bases na Região Metropolitana, Zona da Mata, Agreste Meridional, Agreste Central e Sertão.