As dificuldades do PT nas eleições de 2024 e o que isso diz sobre 2026

Partido do presidente vai chegar ainda enfraquecido às eleições de 2026 porque não conseguirá vencer eleições nas capitais. Está limitado ao interior.

Publicado em 10/08/2024 às 20:00

O PT foi ao céu e voltou ao purgatório nos últimos 20 anos em eleições municipais. E apesar da disposição de integrantes do partido de fazer isso mudar, as perspectivas não são boas. A sigla até lançou 13 candidatos em capitais do país, cinco deles no Nordeste. Mas as chances são muito pequenas na grande maioria delas. Na região em que Lula é tão forte, só um candidato tem chances reais, em Teresina (PI). Todos os outros são nomes olímpicos, para aproveitar o termo que está na moda, porque devem apenas participar.

É um cenário bem distante do que os petistas sonhavam quando Lula voltou à presidência. A ideia era sair do fundo do poço eleitoral em que o partido se enfiou com os escândalos dos últimos anos, recuperando o crescimento que foi visto entre 2004 e 2012, antes dessas crises.

2004

A primeira eleição municipal depois que o PT assumiu a presidência pela primeira vez aconteceu em 2004, exatamente vinte anos atrás. Na época toda a máquina do Governo Federal foi utilizada. O partido que tinha apenas cerca de 200 prefeituras pelo país dobrou de tamanho nas prefeituras e elegeu 411 prefeitos.

Bom começo

Para começar, foi um sucesso, mesmo que muito dinheiro dos pagadores de impostos tenha sido utilizado. O PT surfava na onda do equilíbrio financeiro e a gestão começava a implementar e ampliar programas sociais. Ninguém questionava os gastos excessivos como acontece hoje e o Banco Central vivia caladinho, porque quem mandava lá também era o presidente.

Para o topo

Quando chegou em 2008, o volume de prefeituras do PT continuou subindo. Ao fim da eleição, já eram 557 prefeituras comandadas pelos petistas. E não parou por aí. Na eleição de 2012, ainda aproveitando um clima bom do governo Dilma Rousseff (PT), os petistas conseguiram eleger 636 prefeitos espalhados pelo Brasil.

Foi o topo do partido. O momento em que eles conseguiram chegar mais longe.

Crise

Aí vieram as manifestações de 2013 e a crise que levou ao impeachment. Em 2016, o número de prefeituras petistas despencou para 261, quando o presidente era Michel Temer (MDB). A situação ainda iria piorar em 2020, com Bolsonaro presidente, Lula preso e uma onda puxando os votos para a direita, o PT conquistou apenas 183 prefeituras de todos os mais de 5,5 mil municípios.

Um fiasco monumental.

Pernambuco

Esse cenário de penúria também pode ser visto em Pernambuco. Os petistas foram encolhendo, ano a ano, até conseguirem vencer as eleições municipais em apenas sete cidades, no ano de 2016. Quando se esperava uma recuperação em 2020, o resultado piorou e o PT ficou com apenas cinco prefeitos em todo o estado.

Por aqui há um motivo bem claro para isso, que é a dificuldade do PT em decidir se consegue sobreviver sem o PSB ou não. Na dúvida, sempre acabam aceitando as imposições dos socialistas e fogem de protagonismos arriscados. Mas no Brasil a redução tem um perfil e um motivo parecido.

E nas capitais?

Diferente do número total de prefeitos petistas, que cresceu entre 2004 e 2012, para despencar somente com as manifestações de 2013, a participação do PT em prefeituras de capitais foi sendo reduzida drasticamente por todo o período. E as quedas aconteciam sempre em momentos de crise, nos quais o PT precisava ceder espaço aos aliados para poder sobreviver.

O que Pernambuco faz até hoje não é exclusividade regional. O PT acostumou-se a ceder prefeituras nos maiores centros urbanos por alianças maiores que mantinham o poder em Brasília.

Baixa contínua

Em 2004, para se ter uma ideia, 9 prefeitos das 26 capitais eram petistas. É mais do que um terço de todas as cidades mais importantes do país.

Mas entre a eleição de 2004 e a de 2008 aconteceu o episódio conhecido como Mensalão. Para sobreviver e ter chances de reeleição, Lula precisou fazer um grande acordo com outros partidos adversários em 2006. Resultado é que na eleição municipal de 2008 o PT só fez 6 prefeitos de capitais.

Dilma

Em 2012, o problema aumentou. Dilma já era presidente e a situação com quase dois anos de gestão não era das melhores. Era preciso conseguir apoio mais sólido no Congresso Nacional e isso foi buscado junto aos partidos aliados. Em troca, o PT abriu ainda mais espaço nas capitais e foi minguando. Caiu para 4 prefeituras, em 26 capitais.

Esse número iria diminuir mais uma vez, após o impeachment de Dilma, com o PT destruído por mais denúncias de corrupção. O partido fez apenas um prefeito em capital, no país inteiro, na cidade de Rio Branco (AC).

Total de zero

O fundo do poço foi a eleição de 2020. Entre tentativas de sobrevivência através de acordos com aliados e uma onda da direita capitaneada por Jair Bolsonaro (PL) na presidência, o PT viu o resultado das urnas trazerem o incrível registro de nenhum prefeito eleito pelo partido, em nenhuma capital brasileira.

O PT só tinha pouco mais de 180 prefeitos e todos estavam afastados dos grandes centros, no interior, com menos visibilidade e recursos limitados.

Milagre

É baseado nesse cenário que se deu toda a discussão dos últimos 18 meses na articulação interna do governo Lula. Ter outra vez a chave do cofre federal é uma oportunidade que os petistas dirigentes nacionais viram como um milagre realizado.

Com a força da máquina pública seria possível recuperar as bases do partido, ter força para eleger um grande número de prefeitos nas capitais e voltar a um protagonismo de base política que a sigla viu definhar.

Aí deu tudo errado.

Fatores importantes

Esses dirigentes não contavam, ou menosprezavam, dois fatores que limitaram o tão sonhado uso da máquina pública para interesses do partido. Um era a independência do Banco Central e o outro eram as emendas Pix, base do maior protagonismo financeiro do Legislativo.

O PT precisava que os juros baixassem, a economia aquecesse com velocidade e o dinheiro circulasse mais para poder vender uma rápida melhoria na vida das pessoas em campanhas municipais. Isso foi barrado pelo BC porque aquecimento descontrolado gera inflação. E depois o país inteiro pagaria o prejuízo.

Protagonismo

Ainda por cima, o PT foi obrigado, mais uma vez, a fazer acordos políticos nas capitais com partidos aliados em troca de apoio no Congresso. Como não pode mais controlar as votações abrindo e fechando a torneira financeira das emendas parlamentares, o governo teve que negociar com siglas que também desejam comandar as principais cidades do país e o PT acabou obrigado a ceder para não inviabilizar projetos governistas no Congresso.

Não precisam

Para fechar esse cenário ruim, cidades nas quais Lula tem boa avaliação e poderia arrastar votos, como Recife e Rio de Janeiro, estão com prefeitos já muito populares de reeleição bem encaminhada. Lula não era uma necessidade, mas um acessório.

Por isso, o mapa eleitoral das eleições de 2024 marcam um PT que, possivelmente, vai crescer, mas não conseguirá chegar aos grandes centros ainda.

Cenário ruim

O partido do presidente da República vai continuar fazendo algumas poucas prefeituras mais pelo interior e chegará em 2026 ainda mais dependente de partidos da centro-esquerda e da centro-direita que têm cargos no governo, como o União Brasil, o MDB, o PSB e, principalmente, o PSD, para continuar no Palácio do Planalto.

São partidos que têm divisões internas e nos quais se estuda a possibilidade de lançar algum representante para presidente. Lula vai chegar em 2026 muito dependente de um cenário alheio ao PT, que ele não pode controlar. O ambiente de 2024 está avisando que não será fácil.

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