O delírio que ainda rende um ganha-pão e afasta a política da realidade

Caso do PSOL alterando o Hino Nacional é mais um episódio do que Mano Brown reclamava ainda na eleição de 2018 sobre comunicação e prioridades.

Publicado em 28/08/2024 às 20:00

Em 2018, o rapper Mano Brown deu um pito histórico e público na esquerda brasileira, quando Bolsonaro já liderava pesquisas e se encaminhava para derrotar Fernando Haddad (PT). Basicamente, Brown deixou claro que a esquerda era incompetente para perceber o que estava fora de sua própria bolha e não conseguia se comunicar com a população de forma geral.

O questionamento era sobre a manutenção de pautas que nada tinham a ver com os dramas imediatos da população. Um exemplo: quanto tempo se perde discutindo linguagem neutra quando a educação ainda é capenga e o analfabetismo funcional ainda é realidade? Quanto tempo se perde atacando a economia liberal, enquanto as pessoas vivem nas ruas sem acesso à moradia?

Nos últimos 22 anos, o PT governou o país por 15 anos e esses problemas mais graves não foram resolvidos.

Hino

Quando, nessa realidade, um partido como o PSOL disputando com boas chances de vitória a prefeitura da maior cidade da América Latina, ainda se envolve em polêmicas com a modificação do Hino Nacional para incluir linguagem neutra na letra, significa que não entenderam Mano Brown.

Prioridade

E essas pessoas estão longe de perceber o mundo ao redor, além da própria bolha. Um mundo real que não considera algo importante trocar “...dos filhos deste solo és mãe gentil…” por “...des filhes…”.

E nem se discute aqui a implicação jurídica do caso, porque é crime federal alterar qualquer vírgula do Hino. Mas num mundo cheio de dificuldades, numa realidade desafiadora ao extremo, isso é realmente prioridade?

Estratégia

Outro fato desse episódio é que a equipe do PSOL também não entende nada de estratégia política e parece viver alheia à maneira como funcionam as redes sociais. Apagar o vídeo depois só amplifica o problema. O material estava circulando dentro do circuito social dos adversários, mas só ganhou grande repercussão quando foi apagado.

A campanha de Boulos terminou sendo o melhor ativo da campanha dos adversários.

Delírio

Quando Mano Brown deu bronca, resolveram ficar com raiva dele. Foi criticado pelos petistas e acusado de expor os colegas de partido. Mas o cantor estava coberto de razão.

O problema, como este colunista já ouviu de um dirigente petista graduado, é que muita gente na esquerda “ainda não conseguiu digerir a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética”. E olha que isso aconteceu há mais de três décadas. Como o delírio de uns é o ganha pão de outros, como esperar mudança?

E o PT…

Também por essa dificuldade para viver a realidade, o PT deve desperdiçar a chance de conquistar prefeituras de capitais, mais uma vez, mesmo tendo o controle do Governo Federal. A coluna mostrou há alguns dias que era grande o risco de o partido não conseguir vencer eleição em nenhuma das capitais brasileiras.

Isso agora se aproxima mais ainda da realidade, com as pesquisas recentes divulgadas. Os petistas lançaram candidatura em 13 capitais e não lidera nenhuma corrida até o momento.

…nas capitais

Os municípios nos quais a sigla ainda tem maior chance, Teresina, Fortaleza e Porto Alegre, os números são preocupantes.

Na capital gaúcha, Maria do Rosário (PT) tem 31%, mas está 5 pontos percentuais atrás do primeiro colocado, o atual prefeito Sebastião Melo (MDB).

Em Teresina, Fábio Novo (PT) chegou a 37%, mas isso significa uma distância de 9 p.p. para o líder, Sílvio Mendes (UB) que tem 46%.

Em Fortaleza a situação é pior e o candidato petista alcançou 14% até agora, contra 31% do líder, Capitão Wagner (UB).

Outra capital que chama atenção, embora o PT não tenha esperanças, é João Pessoa. Cícero Lucena (PP) está com 53% e o petista Luciano Cartaxo é o segundo colocado, mas só tem 12%.

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