Sobre a noção de grandeza de César e a ausência em debates eleitorais
A ausência em debates imprime nos candidatos a imagem de alguém que não está disposto ao confronto de ideias. Fica por covarde, não por pragmático
Com o debate da TV Jornal que se aproxima, tanto em Recife quanto em Caruaru, começam as discussões sobre candidatos que podem comparecer ou não aos programas para encarar os adversários. Sobre isso, conto uma história bem recente.
Em 2022, Marília Arraes (SD) era favorita ao Governo do Estado. Ela aparecia com grande vantagem e manteve essa liderança ao longo de quase todo o primeiro turno.
Estratégia
Havia um consenso entre todos os estrategistas políticos de que a única forma de ela perder a eleição era se a adversária, no segundo turno, fosse Raquel Lyra (PSDB).
Mas isso não era muito considerado, porque a ausência de uma base com grandes partidos fazia de Raquel um nome que, provavelmente, derreteria na fase final da campanha.
Cenários
A campanha de Marília trabalhava com dois cenários mais prováveis: em um ela enfrentaria um candidato mais à direita, que naquele momento estava representada em Anderson Ferreira (PL).
No outro cenário o adversário seria Danilo Cabral (PSB), o nome do então governador Paulo Câmara. Campanhas de segundo turno são mais diretas e têm o fator rejeição como fundamental para o resultado.
Quanto maior a rejeição, mais difícil é para o candidato absorver votos quando eles são redistribuídos nesse novo cenário.
Era certa
A vitória de Marília, para parte da sua equipe, estaria sacramentada porque Anderson absorveria a rejeição de Bolsonaro (PL) em Pernambuco e Danilo sofreria com a rejeição de Paulo Câmara. Ambas eram altíssimas. Bastava não cometer erros.
O problema é que a equipe da candidata entendeu errado o conselho sobre não cometer erros e ela deixou de comparecer aos debates em todo o primeiro turno. A justificativa é que ela não ia lá para ser atacada por todos.
César
Há uma belíssima frase de Shakespeare na peça “A tragédia de Júlio César”. Em determinado momento, a mulher de César, Calpúrnia, tenta convencê-lo a não sair de casa porque estava com o pressentimento de que uma tragédia iria acontecer.
O imperador responde com firmeza: “Muito antes de morrer, morre o covarde. Mas só uma vez o homem forte prova a morte”.
César morreu, é verdade. Mas, não fosse pela coragem, nunca teria virado uma peça de Shakespeare. A coragem imortalizou César.
Caso tivesse ficado escondido em casa, seria um déspota quase anônimo como tantos outros que ocuparam o cargo dele.
Coragem faltou
Marília Arraes não estava entre a “faca de Brutus” e a covardia que mata como rotina, mas perdeu a oportunidade de se fortalecer enfrentando seus algozes nos debates do primeiro turno. Perdeu a oportunidade de ter oportunidades para reagir.
Ao ignorar todos os debates do primeiro turno, Marília escolheu o pragmatismo da vantagem e abandonou a construção da imagem corajosa e resiliente de quem resiste aos adversários com altivez.
Quem sabe, sendo mais ousada, poderia ter liquidado a eleição no primeiro turno. Muitos acontecimentos alteraram os rumos da eleição. Mas, o fato é que foi ao segundo turno a única candidata por quem Marília poderia ser derrotada.
Hoje, Raquel é governadora. Marília não.
Recife
No Recife, João Campos (PSB) tem dito que comparecerá ao debate da TV Jornal que acontece na próxima terça-feira (1º), mesmo tendo uma vantagem avassaladora sobre os adversários. Está corretíssimo. É esperado que cumpra.
Caruaru
O candidato à reeleição em Caruaru vai no caminho contrário. Rodrigo Pinheiro (PSDB) chegou a dizer durante uma entrevista que não iria a nenhum debate no primeiro turno. E olha que lá as pesquisas mostram ele empatado na margem de erro com José Queiroz (PDT). Não é uma eleição muito fácil.
Na Capital do Agreste, o debate será na quarta-feira (2). Aguardemos.
Paulista
O advogado Francisco Padilha, candidato do PDT à Prefeitura de Paulista, enfrenta uma eleição duríssima. Mesmo em desvantagem nas pesquisas, aposta que, num provável segundo turno, o jogo fique mais claro e tem suado para tentar chegar na segunda fase da campanha. Quem lidera a corrida são os candidatos Júnior Matuto (PSB) e Severino Ramos (PSDB).
Padilha chamou a atenção por estar defendendo uma integração metropolitana. É um assunto que a coluna tem cobrado e que costuma ser ignorado pelos gestores municipais.