O dilema sobre a visita de Lula em Olinda e os efeitos na campanha

Lula tem poder para transferir eleitores de Mirella para Castello, mas pode não ser suficiente. E ela absorveria mais votos da direita no processo

Publicado em 08/10/2024 às 20:00

Eduardo Paes (PSD), reeleito em primeiro turno na eleição de prefeito do Rio de Janeiro, fez um sincero agradecimento ao presidente Lula (PT) ao falar sobre a vitória expressiva que obteve sobre um candidato bolsonarista, exatamente no ambiente em que Bolsonaro é visto como mais forte.

Lula não apareceu na campanha, não foi a eventos de Paes na cidade e mesmo assim o agradecimento é sincero. Porque a ausência, muitas vezes, é remédio. Em pesquisas, Paes liderava até em votos de bolsonaristas. Com Lula lhe segurando o braço, a chance de ganhar no primeiro turno, como ganhou, diminuiria.

O PT apoiou Paes, mas nem conseguiu indicar um vice para não chamar muita atenção.

Recife

Aconteceu o mesmo no Recife. João Campos (PSB) não aceitou ter um vice do PT, agradeceu o apoio de Lula, mas não fez alarde nenhum com os petistas para não turvar a água da reeleição certa. Nas pesquisas, dava para identificar um voto considerável dos bolsonaristas no prefeito da capital, ampliando até o resultado de 2020 quando teve bastante apoio da direita por ter ido ao segundo turno contra o PT.

Lula fez o que era melhor para Campos e não pisou em Pernambuco, nem mesmo para dar apoio em cidades vizinhas, onde havia candidatos petistas.

Campos também pode agradecer Lula pela ausência. E tende a ser sincero, porque o ajudou muito.

Olinda

Agora, os olhos apontam para a cidade de Olinda, onde um candidato petista passou ao segundo turno na primeira colocação. Vinicius Castello (PT) disputa a prefeitura com a candidata apoiada pelo atual prefeito Lupércio, Mirella (PSD).

A senadora Teresa Leitão (PT), que tem trabalhado muito para tentar trazer o presidente ao estado, chegou a dizer, nos microfones da Rádio Jornal, que vai se empenhar para que Lula coloque a cidade em sua agenda. Mas garantia não há. E alguns fatores pesam nessas horas.

Bolsonaristas

Mirella, em Olinda, tem o apoio de Raquel Lyra (PSDB) e de Marília Arraes (SD), as duas são aliadas do presidente Lula. Além disso, o partido da candidata, o PSD de Gilberto Kassab e de André de Paula, faz parte da base de apoio lulista. André, inclusive, é ministro no Planalto.

Mas isso nem importa muito, porque sendo um candidato do PT a visita de Lula estaria plenamente justificada. Nenhuma das duas, Marília e Raquel, se importaria. Kassab e André de Paula também entendem perfeitamente a questão.

O problema são, outra vez, os eleitores bolsonaristas.

Matemática

Vinicius Castello, petista, terminou o primeiro turno com 80,4 mil votos. Mirella, em um partido de centro, terminou a primeira fase da eleição com 62,2 mil votos. Agora, eles precisam buscar os eleitores dos outros candidatos, que não passaram de fase. São cerca de 65 mil votos para serem distribuídos.

O grande problema para o petista é que a maioria, 51,5 mil desses eleitores, no primeiro turno, votaram em Izabel Urquiza (PL), candidata bolsonarista na cidade. Teoricamente é mais fácil que eles procurem um candidato mais ao centro e evitem votar em alguém do PT.

Castello está descartado para esses olindenses? Não necessariamente, porque há “atenuantes”.

Quem sabe

Esses eleitores bolsonaristas podem votar em Vinicius se considerarem que ele tem mais preparo para fazer mudanças que acham importantes para a cidade. É bom lembrar que Mirella é a candidata do atual prefeito Lupércio (PSD). Se no primeiro turno não votaram nela é porque acreditam ser necessário mudar.

O fato de Mirella ter batido muito em Izabel nos programas eleitorais, acreditando na época que iria enfrentar ela no segundo turno, é outro ponto que pode levar os votos bolsonaristas para Castello.

Outro ponto que pode ajudar é ter João Campos na campanha, já que os eleitores do Recife, de direita, votaram nele, porque isso não pode acontecer em Olinda?

Ir o não ir

Mas todos esses atenuantes podem não servir de absolutamente nada caso o presidente Lula visite Olinda e faça um grande ato com o candidato.

Lula tem poder político para arrastar alguns eleitores de Mirella para Castello, é verdade. Mas pode não ser suficiente. E ela absorveria muito mais votos de Izabel no processo, crescendo e embolando tudo.

Até agora, o presidente só confirmou que vai até Fortaleza, aproveitando uma agenda presidencial para também fazer campanha. Lá a eleição é polarizada entre esquerda e direita, PT x PL, a presença lulista ajuda mais do que atrapalha.

Em Olinda, é preciso calcular.

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