João Campos e o benefício do fim de campanha para o Recife

É possível, na entrevista do prefeito, notar o exato momento em que ele se desconecta do invólucro eleitoral e assume posição de executor novamente.

Publicado em 10/10/2024 às 20:00

Prefeito reeleito, João Campos (PSB) começou a entrevista com ar mais sério, concentrado em cada palavra e no impacto que elas possuem na cabeça do eleitor. Falando sobre a nova orla do Recife, com a reforma anunciada e cujas obras ainda não começaram efetivamente, pousava os olhos num ponto fixo enquanto falava para ter certeza que não se comprometeria com nenhum anúncio infundado.

Foi nessa resposta, ainda no início da entrevista exclusiva que concedeu ao Sistema Jornal do Commercio nesta quinta-feira (10), que o percentual de 78% dos votos lhe chegou à mente e o gestor municipal deve ter lembrado que a eleição já havia passado. Percebeu que podia falar como ocupante do cargo, não como pretendente que ainda não deve se comprometer com o futuro fora do campo das promessas.

Momento exato

Para quem assistiu a entrevista ao vivo ou puder conferir depois, é possível notar o exato momento em que Campos se desconecta do invólucro eleitoral e assume a posição de fazedor novamente, de executor.

Foi no instante em que trouxe uma informação mais concreta para o debate sobre a orla, com o cronograma das intervenções que serão concluídas em fases, com entregas a cada quatro meses num período de um ano e meio próximo.

As mãos começaram a se mover no ar e ele relaxou. Libertou-se ali e relaxou.

Café expresso e voto

Eleições são momentos tão tensos para os candidatos, até para os de vitória certa, que se desligar do personagem eleitoral é uma tarefa demorada. Se não tiver cuidado, uma semana depois da campanha o candidato está pedindo um café expresso ao garçom e terminando a frase em “conto com seu voto”.

No restante da entrevista, conduzida pela jornalista Anne Barreto e por este colunista que vos escreve, Campos falou sem qualquer tipo de barreira eleitoral, fez observações importantes sobre Saúde e Educação, inclusive admitindo algumas deficiências nos sistemas e já apontando soluções que estão sendo implementadas.

Não se exasperou com o delicado assunto das mortes de ciclistas que aconteceram nos últimos dias, solidarizando-se com as vítimas e contando que já determinou investimento imediato em monitoramento e fiscalização nas ciclovias. Finalizou o assunto pedindo o respeito dos motoristas e motociclistas às pessoas que se locomovem em bicicletas.

Liberto

Para um gestor que tenta a reeleição, o melhor momento que existe, libertador, é quando a eleição acaba e ele pode voltar a tratar a vida como ela é, com justiça e sem a preocupação de perder votos por fazer o que precisa ser feito.

Ele entende, por exemplo, que o interesse sobre o seu vice, Vitor Marques, um assunto tratado como delicado no período eleitoral, é natural diante da possibilidade de uma candidatura ao Governo de Pernambuco, para a qual Campos teria que deixar o cargo recém renovado em pouco mais de um ano.

Vice e Lyra

Na falta, ainda, de uma entrevista com o vice, o prefeito do Recife fez questão de garantir sua capacidade para assumir a cidade, caso seja necessário, provisória ou permanentemente.

Admitiu ainda que recebeu uma ligação da governadora Raquel Lyra (PSDB) parabenizando pelo resultado após a eleição e se colocou à disposição, caso seja convidado, para se reunir com ela e outros prefeitos no evento que deve ser realizado em 22 de novembro, conforme Lyra anunciou durante entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, esta semana.

Reeleição

O Recife tem muitos desafios e a impressão foi de que quanto mais a campanha demorasse, mais iria demorar para que os mais melindrosos assuntos tivessem encaminhamento.

A busca por voto imobiliza temporariamente gestores em exercício, incluindo mais um elemento para a discussão sobre o fim da reeleição, algo que já defendemos tanto nestas páginas.

Seria melhor termos mandatos de oito anos do que duas partes de quatro, como acontece hoje, com uma eleição no meio. Mas isso é assunto para outra coluna.

Bom

Ao fim da entrevista, o próprio prefeito agradeceu, comentando que o momento foi bom e pareceu uma sabatina. Para logo em seguida completar a própria observação: “a diferença é que a eleição já está resolvida”. O prefeito tem razão. E isso ajuda muito o que importa e interessa ao recifense que é a cidade. Se era para ser, que bom que passou rápido.

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