O PT só tem maiores chances de vencer em capitais nas disputas com o PL

O PT precisa do PL para crescer e o contrário também é válido. Um precisa da rejeição do outro para se legitimar. E o centrão está de olho no desfecho

Publicado em 24/10/2024 às 20:00

No próximo domingo (27), quando as urnas entregarem a escolha dos eleitores para este segundo turno, será possível saber se o PT conseguirá eleger ao menos um prefeito em capitais. Em 2020 o partido passou em branco.

No primeiro turno já não aconteceu, a sigla não conseguiu nenhuma das 11 prefeituras que terminaram suas eleições em 6 de outubro.

No segundo turno os petistas conseguiram passar em segundo lugar para quatro capitais: Fortaleza, Cuiabá, Porto Alegre e Natal. E as pesquisas têm mostrado que as maiores chances de virada residem nas duas primeiras apenas. Eleger dois prefeitos em cidades importantes já é um aumento de 200% para quem não tinha nada.

Não vai ser suficiente para colocar em boa conta outra vez a figura de Gleisi Hoffmann (PT), já que Lula (PT) continua desejando que ela tome o espumante do fim de ano bem longe da presidência nacional de seu partido, mas dá algo para a propaganda petista trabalhar.

Cenário

O que é curioso nas pesquisas e na possibilidade de viradas petistas em Fortaleza e Cuiabá é que elas só foram mais concretas em cidades nas quais o PT e o PL disputavam diretamente o cargo.

Em Porto Alegre, por exemplo, a candidata petista disputa com um candidato do MDB e não tem chance de virar o jogo.

Em Natal, a situação de Natália Bonavides (PT) é menos impossível que a gaúcha, mas também não é fácil na disputa com um candidato do União Brasil. A tendência é que ela seja derrotada.

Além dessas duas capitais onde tem chance, Fortaleza e Cuiabá, o PT disputa o segundo turno diretamente com o PL em apenas mais uma cidade das 100 que têm os maiores colégios eleitorais do país: Pelotas (RS). E lá um petista está liderando a disputa.

Um precisa do outro

É preciso lembrar que eleição de segundo turno é muito focada na rejeição, mais do que em simpatia. Ganha quem é menos antipatizado. Caso essas vitórias do PT aconteçam apenas nas disputas com o PL, ao contrário do que muitos acreditam, não será por um fator da polarização mas da dependência que PT e PL construíram entre si.

O PT precisa do PL para crescer e o contrário também é válido. Não significa que o PT é um partido muito querido pelos brasileiros, apenas que ele tem maiores chances quando o adversário é o PL. Um precisa da rejeição do outro para se legitimar.

Rejeição

Essa rejeição só é útil quando apenas os dois estão no jogo. Existe algo que analistas políticos precisam começar a entender para a eleição que se aproxima em 2026. É que quem venceu em 2024 não foi o PL e nem o PT, quando se faz a contagem do número de prefeituras (o PL teve quase o dobro).

Os maiores vitoriosos do pleito que está terminando foram aqueles que conseguiram manter uma boa distância tanto dos petistas quanto dos bolsonaristas. Alguns exemplos estão no Rio de Janeiro e no Recife. Não citar muito o PT e nem Bolsonaro foi uma regra que ajudou as vitórias dos candidatos dessas duas capitais a acontecerem na primeira votação.

Rio e Recife

No Rio, Eduardo Paes é do PSD e, no Recife, João Campos é do PSB. Ambos disputaram contra bolsonaristas “de pai e mãe” que carregavam uma medalha do ex-presidente no bolso que vai junto ao coração e terminaram derrotados.

Campos, inclusive, recebeu muitos votos de eleitores à direita. Paes também. Isentos das rejeições, absorveram votos de todos os espectros ideológicos e conseguiram manter a disputa focada em suas gestões.

Sentido

Há uma passagem muito forte de um diálogo entre o Batman e o Coringa, num dos quadrinhos da DC Comics, em que o herói está prestes a abater seu maior inimigo e acaba escutando o adversário lhe dar uma aula sobre antagonismos, rivalidades e dependência mútua em polarizações como a deles.

Em resumo, segundo o vilão eles são obrigados a se amar enquanto exercem ódio mútuo, porque apenas a existência de um é que dá sentido ao outro.

De fato, na história há um período em que o Batman “se aposenta” e o Coringa passa anos catatônico até que o “Homem-morcego” volte à ativa.

Centrão

Quem são os batmans e quem são os coringas na política brasileira? Aí é tema para outra discussão.

Mas é preciso entender que polarizações políticas muito prolongadas costumam ter ao menos três momentos distintos. Há o momento em que um lado tem vantagem. Depois a vantagem muda de lado. E, no fim, ambos são descartados por causa do cansaço que geram no público.

O problema do Brasil é que quando o cansaço da polarização atingir o eleitor brasileiro, teremos apenas o centrão como alternativa.

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