A eleição deste domingo e a "Guerra Fria" pernambucana

Não é o caso de aliados ficarem alheios a 2026, mas é necessário não mergulhar em batalhas que só fazem sentido no antagonismo entre João e Raquel.

Publicado em 25/10/2024 às 20:00

O segundo turno em Pernambuco, para além do óbvio e imprescindível interesse dos cidadãos de Olinda e Paulista, serviu para que a governadora Raquel Lyra (PSDB) fornecesse mostras de que sabe fazer política e está disposta a praticar também esta atividade enquanto governa o estado.

Interlocutores palacianos relatam que ela se envolveu diretamente nas campanhas de Ramos (PSDB), em Paulista, e de Mirella Almeida (PSD), em Olinda. E não estamos falando aqui apenas na participação em carreatas. Há pessoas ligadas à governadora, que fizeram a campanha dela em 2022, atuando na estratégia dos aliados dessas cidades.

Não é apenas uma questão de gravar vídeo e mandar. A atuação é muito mais intensa do que parece nas imagens.

Disposta

Isso é importante, porque aliados e adversários comentavam a indisposição de Raquel para a articulação, enquanto ela dizia que sua prioridade era organizar o estado que pegou bagunçado. A coluna soube que ela pergunta sobre números em Olinda e Paulista todos os dias e se coloca à disposição para ajudar da maneira que for possível. Está convicta de que a política será muito necessária daqui pra frente e não vai descansar.

Na disputa que está mais tranquila até o momento, em Paulista, onde Ramos tem pesquisas apontando 75% das intenções de voto, avisa à equipe todos os dias que ninguém pode descansar até que o resultado saia. O mesmo acontece com a cidade patrimônio. Ela está no jogo.

João

Do outro lado dessa rivalidade criada nos últimos tempos, João Campos (PSB) também tem se mostrado disposto a tudo para eleger seus nomes das duas cidades. Em Paulista, o ímpeto inicial foi tão grande que foi preciso desmentir um boato de que ele estaria “alugando uma casa no bairro do Janga” para fazer campanha. Era algo absurdo e não fazia sentido, lógico, mas dá uma ideia do nível de expectativa com a participação dele na campanha de Júnior Matuto (PSB).

Ele participou de eventos com o correligionário, fez vídeos, pediu votos para ele e não o abandonou mesmo após as pesquisas mostrarem um cenário ruim. Decidiu que vai apoiá-lo até o resultado, seja qual for.

Olinda

O mesmo empenho se dá em Olinda, onde Campos apoia o candidato Vinicius Castello (PT). A parceria é muito intensa. A coluna acompanhou que o prefeito do Recife também mobilizou pessoas de sua confiança e que fazem parte de sua equipe no PSB para dar suporte de todo o tipo ao petista que disputa a prefeitura de Olinda.

A ajuda, da mesma forma que acontece com a governadora, vai muito além de gravar vídeos e participar de caminhadas. Há socialistas do Recife mais do que empenhados em arrancar uma vitória na cidade irmã da capital.

Guerra…

Tanto a governadora quanto o prefeito estão deixando clara sua disposição para o embate em território externo. Isso chama atenção desde o primeiro turno. Caruaru foi um ponto de batalha, vencido por ela. Recife era outro ponto, vencido por ele.

No geral, com um número muito mais expressivo de prefeitos, Raquel Lyra venceu. Campos venceu quando o assunto são as vitórias por número de habitantes (só o Recife já soma 1,5 milhão). Existem muitas formas de analisar os resultados e os vitoriosos, sob cada ponto de vista.

Ao que isso se assemelha?

…Fria

Os que têm mais de 40 anos vão lembrar da Guerra Fria, travada entre EUA e URSS. O paralelo é bem interessante, não importando quem são os comunistas e quem são os capitalistas.

Tratou-se de um formato de conflito em que EUA e União Soviética, verdadeiramente, nunca se enfrentaram diretamente. As batalhas sempre aconteciam em ambiente externo às duas nações, no Vietnã, na Coréia, no Afeganistão. Cada um de uma lado, fornecia armas, equipamentos, dinheiro e treinamento.

Mas quem morria de verdade nem era soviético e nem americano.

Atentos

Talvez seja o caso de os aliados, tanto de João Campos quanto de Raquel Lyra, ficarem bastante atentos para não se engalfinharem em nome deles de forma definitiva e acabarem se prejudicando para sempre. Hoje, a Coreia do Sul e o Vietnã estão mais equilibrados, mas sofreram por anos os resultados das guerras que travaram pelos outros. A Coreia do Norte é uma tragédia e o Afeganistão também nunca se recuperou.

Não é o caso de ficarem alheios à disputa de forças que deve acontecer em 2026, mas é necessário ter o cuidado de não mergulhar em batalhas que só fazem sentido dentro do antagonismo entre os dois. Sob risco de prejuízo para a população.

Exemplo

A BR 232 foi duplicada durante o governo Jarbas (MDB), por ser uma marca da gestão de um adversário, foi abandonada nas gestões do PSB, pessoas morreram em acidentes causados pela má conservação da pista ao longo dos anos.

No fim, os grupos políticos fizeram as pazes e a rodovia está aí, tendo que ser recuperada a um custo altíssimo por causa do abandono. Quem ficou com o prejuízo no fim?

E se nunca?

Ah! Como foi dito, EUA e URSS nunca se enfrentaram diretamente. Nem uma bala foi disparada entre eles em ato de guerra direta.

Pensemos, então. É tão certo assim que João Campos será mesmo candidato ao governo em 2026, diretamente, tendo que largar a prefeitura para enfrentar uma gestora que pode estar muito bem avaliada daqui até lá?

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