A música e a arquitetura nas escolhas de Lula para economia e política
O presidente Lula está sendo avisado desde que assumiu sobre a necessidade de organizar as contas para dar uma base sólida à economia. Não o fez.
O produtor musical mais famoso e de maior sucesso no mundo morreu esta semana, aos 91 anos. Quincy Jones produziu e participou dos arranjos em três discos de Michael Jackson, incluindo Thriller, que ultrapassou 100 milhões de cópias e se tornou o álbum mais vendido de todos os tempos no mundo. Ele foi indicado ao Grammy 79 vezes e levou 27 prêmios para casa, já ganhou um Oscar e um Emmy.
Mas o que o lendário produtor está fazendo numa coluna de política? É que tem uma frase dele que se adapta muito bem ao momento que o Brasil vive no cenário político.
Jones adaptou uma frase de Goethe, com um complemento. O escritor alemão dizia que “arquitetura é música congelada”. Jones dizia que “música é arquitetura líquida”. Essa percepção entre as duas frases resume o governo Lula com seus muitos programas sociais e nenhum ajuste fiscal.
Um musical…
O presidente Lula está sendo avisado desde que assumiu em 2023 sobre a necessidade de organizar as contas para dar uma base sólida à economia. Ao invés disso, para não desagradar os integrantes do PT que esperavam ter vantagens eleitorais em 2024, resolveu fazer música através de programas que são bons, mas se perdem no ar.
As medidas anunciadas nos últimos 22 meses são muito importantes. Programas sociais são necessários, Pé de Meia, Bolsa Família ampliado, Desenrola, Minha Casa Minha Vida são essenciais para dar dinamismo à realidade difícil de muitos brasileiros. O problema é a plataforma.
…sem palco
Juntos, bem encenados, todos esses programas comporiam com primor um musical sobre combate à desigualdade. Mas, hoje, ele seria encenado no meio do mato, com as pessoas sentadas no chão, porque o governo Lula nunca se preocupou em construir um teatro.
Não tem arquitetura no governo petista, porque a arquitetura é controlar os gastos, organizar o caixa e sanear as contas públicas. É cuidar da base do sistema. Música é algo bom, mas é caro para produzir e se perde pelo ar se não estiver dentro de um contexto sólido. Se não houver base fiscal, os programas do governo evaporam.
Gênio
Quincy Jones era genial porque sabia encaixar suas produções na realidade que os consumidores viviam em cada momento. Foi assim quando produziu Frank Sinatra em 1964 e fez ele regravar uma música de pouco sucesso chamada “In Other Words”, de 10 anos antes.
Jones mudou o arranjo e o título, explicou como Sinatra deveria cantar e a transformou num dos maiores sucessos do cantor e da história da indústria musical: “Fly me to the Moon”.
Desigualdade
Os programas do governo Lula são caros, mesmo sendo um sopro de alívio para um certo número de pessoas por um tempo curto. Exatamente por ser mais fluída, a música (ou um programa social) é a ferramenta mais adequada para melhorar a popularidade e dá pra entender a escolha da gestão.
Mas é que o combate à desigualdade, de verdade, com começo, meio e fim, se faz melhorando a economia com arquitetura e engenharia, não somente com música.
Sem resultado
Combate à desigualdade se faz dando segurança para investidores que podem apostar na economia brasileira, desenvolver infraestrutura, gerar empregos e estabilidade social.
Lula quer ser mais Quincy Jones do que Goethe, porque a música traz resultados mais rápidos que a arquitetura. O problema é que o presidente brasileiro não tem a genialidade de um e nem a profundidade do outro.
Não por acaso, nem a própria popularidade ele conseguiu destravar até hoje com essa estratégia. E agora está angustiado precisando fazer entregas mais sólidas antes que chegue a eleição daqui a menos de dois anos.
Nada fechado…
Sobre a mudança de partido da governadora Raquel Lyra (PSDB), a verdade é que ela não tem nada acertado com o PSD ainda. A coluna já havia trazido a informação de que uma negociação estava acontecendo e o status não mudou, ainda.
Essa conversa segue acontecendo entre a gestora estadual e Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. Mas acerto mesmo, até agora, nenhum.
…ainda
Uma fonte com acesso direto à governadora garantiu que ela nem conversou nada mais aprofundado ainda com o PSDB e nem acertou a ida para o outro partido definitivamente. Ainda há muita discussão sobre o destino dos tucanos, que podem fazer federação com outros partidos.
Há também uma conversa que precisa acontecer com prefeitos do PSDB e do PSD, ao todo foram mais de 50 eleitos em 2024 sob os dois partidos e apoio de Raquel.
Martelo
A mudança da governadora para o PSD é um dos movimentos mais naturais do contexto político em Pernambuco. É um partido em ascensão, que integra a base do governo Lula e que serve de ponte com os deputados do PT na Assembleia. Estes, praticamente, já fazem parte da base governista.
Pouca coisa faz tanto sentido quanto esta mudança por aqui. Mas o martelo ainda não foi batido.