O recado das urnas americanas também vale para Lula no Brasil em 2026

Trump trabalhou com o mote da campanha de Reagan em 1984: "você está melhor do que há quatro anos?". Nos EUA a resposta foi "não". Como será aqui?

Publicado em 06/11/2024 às 20:00

Donald Trump venceu a eleição de uma forma que não havia conseguido vencer em 2016 e com a vantagem que nem Biden conseguiu alcançar em 2020. Aliás, ninguém conseguia há décadas. Nos EUA, quando um presidente vence a eleição em todas as suas instâncias se diz que ele conseguiu um “mandato”.

A expressão, por mais que pareça óbvia, tem um sentido mais forte, é como se fosse uma “outorga ampla” para fazer tudo o que quiser fazer. Para conseguir essa outorga é preciso vencer no voto popular, no colégio eleitoral, fazer maioria na Câmara, ter o controle do Senado e ainda estar em sintonia com a maioria da Suprema Corte. Trump terá tudo isso em 2025.

Faz tempo

Ele sabe a importância dessa conquista. Em seu discurso da vitória, disse que tinha agora “um mandato poderoso e sem precedentes”. É realmente muito poderoso, embora não seja tão sem precedentes assim. Faz tempo, foi nos anos 1960, no governo de Lyndon Johnson (1963-1969).

O poder que essa vitória completa dá a um presidente ficou comprovado na época. Foi no governo de Johnson que aconteceu a aprovação das reformas dos direitos civis, com o fim da política de segregação racial nos EUA. Johnson era democrata. Quem assume o poder com essa garantia de apoio institucional pode fazer as reformas que bem entender.

Temor

Essa é a maior esperança dos apoiadores de Trump e também o maior temor do resto do mundo. A campanha republicana foi feita sobre uma plataforma de ideias voltadas para a economia interna, com redução de impostos e o propósito de construir um dólar muito mais forte do que temos hoje.

Assim que a vitória foi alcançada, os mercados abriram com a moeda americana em alta. No Brasil, a cotação chegou a ultrapassar os R$ 5,86 para depois cair e entrar em estabilidade, por volta de R$ 5,77.

Fechar o país

Durante a campanha, Trump prometeu taxar produtos importados com percentuais que vão de 20% (países aliados) até 60% ( para a China). Isso pode fazer com que a inflação suba, o Banco Central Americano aumente a taxa de juros e as pessoas apostem no dólar para terem mais lucro. Muita gente já começou a comprar para se garantir.

Os efeitos negativos devem atingir a Europa, principalmente, e países que são aliados e têm muitos negócios com a China, como o Brasil.

Por isso a decisão de Lula (PT), que declarou apoio a Kamala Harris na reta final da eleição americana, é vista como um erro básico dos assessores internacionais do Palácio do Planalto. Mais um pra grande lista dos últimos dois anos.

Biden e Lula

Outro alerta que surge nessa eleição dos EUA e que assombra o atual governo brasileiro é que os fatores principais da vitória republicana também estão presentes aqui.

O eleitor americano permitiu o retorno de Trump porque estava decepcionado com Biden. O cientista político Antônio Lavareda, durante participação no quadro Eleição Americana, durante o "Passando a Limpo", da Rádio Jornal, lembrou o mote da campanha de Ronald Reagan em 1984: “Você está melhor do que há quatro anos?”. A resposta dos americanos foi um sonoro “não”.

A questão é que essa pergunta será feita em 2026 quando Lula estiver (talvez) tentando a reeleição.

E por aqui?

O pensamento sobre essa frase, relembrada pelo professor Lavareda, chega ao Brasil embalado pela eleição americana bem no dia em que se discutia internamente o aumento no preço das carnes bovinas e a informação de que os brasileiros estavam consumindo menos proteína bovina e trocando por ovos e peixes.

Para quem não lembra, Lula foi eleito em 2022 falando em picanha mais barata para todos, após um período em que o preço da carne havia aumentado e as notícias durante o governo Bolsonaro apresentavam pessoas comendo menos carne bovina.

O candidato da oposição, seja ele quem for, perguntará aos brasileiros, ao lado de Lula em um debate: “você está melhor do que há quatro anos?”.

Se não melhorar muito a governança, o equilíbrio fiscal e os serviços básicos à população, todo mundo no Palácio do Planalto já sabe qual será a resposta.

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