Dani Portela e a eleição em que mais convenceu do que pediu votos

Foi uma dificuldade para ela, por exemplo, convencer que era oposição sem forçar a barra e acabar se assemelhando ao bolsonarista Gilson Machado (PL)

Publicado em 12/11/2024 às 20:00

Quando esta legislatura começou, em janeiro de 2023, a Alepe estava numa indefinição imensa. O único grupo para o qual se poderia olhar e dizer que era certamente oposição era o dos deputados socialistas, do PSB. Era natural que a liderança da oposição acabasse com alguém do partido de João Campos (PSB).

Mas tinha um problema sério, que era a conexão entre o PSB e João Campos, entre Paulo Câmara e o PSB.

Sempre que fosse provocado sobre a “herança maldita”, sobre os problemas encontrados no estado, o líder da oposição que também fosse do partido que governou Pernambuco entre 2007 e 2022 teria que defender a gestão socialista passada. Imediatamente, o governo Paulo Câmara, finalizado com uma rejeição altíssima, seria relacionado a João Campos, já que foram aliados e correligionários. Não dava. Precisava ser alguém de outra sigla.

Foi aí que encontraram a solução em Dani Portela (PSOL).

Liderança

Toda liderança tem seu ônus e seu bônus. A deputada teve a oportunidade de se destacar e aparecer para um público que vai além do seu eleitorado habitual. Cresceu como uma representante de esquerda em Pernambuco e não apenas como uma liderança do PSOL.

Hoje Dani Portela ultrapassa as fronteiras do próprio partido e ser líder da oposição ajudou, embora suas candidaturas majoritárias sejam marcantes nisso, em 2018 ao governo e em 2024 à prefeitura do Recife. Mas tudo tem seu preço.

Difícil

O ônus é ter servido ao propósito do PSB e acabar ficando marcada por isso, inclusive na última campanha pelo comando da capital. Em 2024 Dani teve dificuldade para atrair o eleitor da esquerda, porque muitos desses eleitores, embora gostassem dela, a encaravam como “extensão de João Campos”.

Foi uma dificuldade para ela convencer que era oposição sem forçar a barra e acabar se assemelhando ao bolsonarista Gilson Machado (PL). O mérito de tentar equilibrar o tom da fala enquanto não se pode parar de falar é grande. Ela conseguiu e ainda terminou com um excelente terceiro lugar. 

Fogo amigo

A vitória de Dani Portela é ainda mais significativa se você considerar que ela teve fogo amigo até de onde nem imaginava. De um companheiro.

Túlio Gadêlha, deputado federal que integra a Rede, federada com o PSOL, queria ser candidato e fez tudo o que podia para isso. Apelou para a nacional e para a ministra Marina Silva (Rede), que tentou forçar a retirada da deputada estadual para emplacar seu aliado.

Até o PDT, antigo partido de Gadêlha, entrou na história, com o ministro e presidente nacional Carlos Lupi fazendo pressão. Prevaleceu Portela, que foi pra urna.

Mas demorou tanto nessa novela para se confirmar que terminou prejudicada.

Aposta

Em campanhas eleitorais, quando você tem que explicar muito, convencer muito, já perdeu tempo de pedir votos. Prejudica. Dani precisou garantir que seria candidata e depois precisou explicar e convencer de que não era uma linha auxiliar do PSB.

Finda a eleição, o que se diz nos bastidores é que ela não deve voltar ao posto de líder da oposição. O PSB vai ter que decidir sozinho se defende Paulo Câmara ou finge que ele nunca existiu como é desde janeiro de 2023. Alguém aposta?

Lula não está Maduro

O Brasil já recebeu mais de 600 mil venezuelanos em seu território desde o início da crise na Venezuela. Atualmente, cerca de metade desses homens, mulheres e crianças vivem no país. Lula dizer que o ditador Nicolás Maduro “é um problema da Venezuela e não do Brasil” acaba sendo uma mudança importante na ideia de liderança que os assessores internacionais lulistas queriam vender como uma marca da gestão petista.

Líder de quem

Lula quis se meter até na Ucrânia, onde não foi chamado, mas ao ser cobrado para tomar atitudes em relação à Venezuela, que faz fronteira com o país e de quem parte da energia elétrica de Roraima depende, o silêncio obsequioso e covarde com a ditadura é o melhor remédio.

A tal liderança regional do maior país da América do Sul é construída lavando as mãos quando o problema fica difícil. Bela estratégia.

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