Jair Bolsonaro, sua possível prisão e o futuro da direita brasileira

Qual será o interesse do centrão em reabilitar Bolsonaro? Ainda mais sabendo do que quase aconteceu em 2022. Isso vai pressionar a direita a negá-lo.

Publicado em 22/11/2024 às 20:00
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A direita brasileira terá que se divorciar de Jair Bolsonaro (PL), mesmo que ele não queira aceitar. Mesmo que ele diga que ainda a ama, quer tentar de novo e não vai cometer os mesmos erros de antes. Numa entrevista à Rádio Jornal, no programa Passando a Limpo, o cientista político Adriano Oliveira fez uma ponderação sobre isso de forma certeira: “a direita precisa condenar e não depender de Bolsonaro”. O fato é que, nas condições atuais de temperatura e pressão, ele será preso.

E aí entra a orientação do professor. "Estamos conceituando a direita de maneira muito equivocada. A direita não é Bolsonaro. Existe uma direita democrática, uma centro-direita que valoriza a democracia, respeita as liberdades, defende um estado ativo, um liberalismo econômico, uma menor carga tributária. Essa direita precisa aparecer agora e condenar Jair Bolsonaro. Essa direita não pode viver refém do bolsonarismo, precisa dizer que é democrática", afirmou. E tem razão.

Futuro

Adriano Oliveira lembra que o centrão depende da democracia para sobreviver: “A democracia é o oxigênio do centrão”. Para entender a afirmação é importante voltar um pouco e lembrar da articulação política de Lula (PT) na eleição de 2022.

Ele conseguiu atrair as maiores forças do mercado, na época, além de boa parte do centrão que embarcou na sua candidatura contra Jair Bolsonaro, no governo bolsonarista do qual o centrão fazia parte. Isso acontece, reforça Adriano, apontando para o futuro, “porque Lula é confiável e Bolsonaro não”.

Sistema

É preciso entender a palavra confiança colocada aqui. Não significa que Lula é alguém honesto e límpido como a aura de Jesus. Longe disso. A confiança aqui citada é no respeito institucional e na manutenção do sistema político e democrático brasileiro.

Lula foi eleito novamente em 2022 porque era alguém com bom potencial de votos, sem medida autoritária que o desabonasse em seus mandatos anteriores. Isso conta muito quando se busca estabilidade para desenvolver carreiras políticas, partidos e negócios.

Desconfiança…

No fim daquela eleição de 2022, com o resultado confirmado, Bolsonaro chegou a culpar a deputada Carla Zambeli (PL) e o então presidente do PTB Roberto Jefferson por terem se envolvido em polêmicas com armas e bombas nas ruas e terem provocado a derrota na campanha. Foi uma análise correta.

Se os agentes políticos já desconfiavam que o grupo era instável, tiveram certeza ali e ficaram com Lula.

…renovada

Essa desconfiança só aumenta com os relatos e agora o indiciamento por tentativa de golpe de estado após perder aquele pleito.

“Imagine você se - e isso não vai acontecer - o Congresso Nacional desse a anistia a Jair Bolsonaro e ele viesse a vencer o Lula em 2026? Quem garantiria que Bolsonaro não daria um golpe? Que não pressionaria os senadores para promover o impeachment de um ministro do STF?", pontuou Adriano.

Democracia

Hoje, no Brasil, só é possível vencer uma eleição com o centrão. Não existe força bolsonarista ou lulista capaz de levar a disputa se não houver uma boa dose de partidos como PSD, MDB, PP, Republicanos e União Brasil em seu palanque. Agora, esses partidos, que vivem de negociar emendas com o Poder Executivo, só conseguem fazer isso livremente na democracia.

Qual o interesse deles, atualmente, em reabilitar Bolsonaro? Ainda mais sabendo do que quase aconteceu em 2022.

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