Oposição terá mais protagonismo no Recife e até o PT pode atrapalhar João Campos

Embora a vantagem do prefeito ainda seja imensa, com mais de dois terços garantidos na base, a tendência é que já haja uma oposição mais barulhenta.

Publicado em 05/12/2024 às 20:00
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João Campos (PSB) está preparando seu secretariado para o novo governo que se inicia em 2025 na Prefeitura do Recife. E, dessa vez, terá que ser mais pragmático.

Quando formou a equipe para o primeiro mandato havia um pouco mais de idealismo do que realidade. Para quem não lembra, Campos decidiu que a gestão teria paridade de gênero em 2021. Por isso, escolheu o mesmo número de secretários homens e mulheres.

Outra declaração daquela época, quando venceu no segundo turno com grande apoio da direita recifense, era de que o PT não teria espaço em sua gestão.

Paridade

Essas coisas foram se perdendo com o tempo e agora não há promessas do tipo, porque as condições de temperatura e pressão são outras. Começou pela escolha do vice. Nada de paridade na chapa, e o escolhido para substituir Isabella de Roldão (PDT) foi Victor Marques (PCdoB).

Ninguém falou no assunto ainda, mas também não se espera que exista a rigidez anterior para a formação do secretariado. Até porque, com as mudanças durante o atual governo, isso já tinha sido abandonado de qualquer forma.

Formação

A conversa com os partidos também está diferente até agora. Em 2021, Campos pedia aos presidentes das siglas aliadas que enviassem três nomes para que ele escolhesse um, e ao menos um dos nomes tinha que ser feminino.

Esse modelo mais profissional e menos político recebeu elogios, mas demonstrou problemas na prática. Agora as decisões terão que ser mais reais politicamente.

Para se valorizar

Uma das questões é o PT, que não teria espaço na gestão atual mas acabou sendo convidado para compor o governo tempo depois. Ficou difícil sustentar o discurso “não terá PT na prefeitura” depois que Lula voltou à presidência.

Agora para 2025 há, entre os petistas, quem defenda com veemência que o partido não deve aceitar cargos nem com Raquel Lyra (PSDB) e nem com João Campos (PSB), deixando para conversar sobre isso quando estiver mais próximo de 2026.

É a opinião, correta do ponto de vista estratégico, de quem acredita ser necessário pensar o partido no longo prazo.

Como?

Mas quem tem fome tem pressa. E tanto João Campos, que quer amarrar o partido para o futuro, quanto os chamados “socialistas” dentro do PT municipal, que ficaram sem um representante na Câmara, estão ansiosos.

Osmar Ricardo (PT), atual vereador, não foi reeleito por causa de 53 votos. O petista é muito criticado internamente por trabalhar mais pelo PSB do que pelo PT na sigla. A influência dele no grupo municipal é grande. E ele ficará sem mandato.

Os dois lados querem fazer algo para resolver isso. Mas o PT estadual está barrando. E tem suas razões.

Barulho

A aproximação com o PT é importante para João tentar diminuir o risco à esquerda da oposição no legislativo do Recife. Em 2025 haverá 11 vereadores de oposição, a maioria de centro-direita e direita.

Embora a vantagem do prefeito ainda seja imensa, com 26 dos 37 edis representando mais de dois terços garantidos na base socialista, a tendência é que já seja uma oposição mais barulhenta.

Só no PL foram eleitos quatro vereadores, incluindo Gilson Machado Filho (PL), que já se mostrou disposto a chamar a atenção nas redes sociais, um ambiente que o prefeito domina.

Pode complicar

Mas o PT também pode se destacar na oposição, por incrível que pareça. As duas vereadoras eleitas pelo partido, Liana Cirne e Kari Santos, são mais críticas à gestão e não são próximas da ala socialista dentro do Partido dos Trabalhadores, a conexão delas é maior com o senador Humberto Costa (PT) e com o deputado estadual João Paulo (PT).

Em determinadas votações é possível, e até provável, que o PT, sem Osmar Ricardo na Casa, comece a dar trabalho ao PSB. A ver.

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