Os médicos dizem que Lula está bem, mas a comunicação dele ninguém salva
Se a comunicação do governo está morta, que a declarem logo dessa forma e a deixem ser substituída. Improviso não combina com momentos críticos.
Até onde os médicos dizem, a saúde de Lula (PT) está evoluindo bem e o presidente deve ter alta na próxima semana, como estava previsto. O que já não tem mais salvação e profissional da medicina nenhum poderá salvar é a Comunicação da Presidência da República. Para esta, há carros funerários às portas da UTI, calculando o lucro do caixão.
A falta de coordenação e o caos gerado pela ausência de estratégia do governo na comunicação, num momento tão difícil como sempre será uma crise na saúde do chefe do Executivo, é educativa sobre o que não fazer. A ingerência da primeira-dama e do presidente na estratégia de comunicação é preocupante.
A informação é que os ministros do governo só ficaram sabendo que o presidente faria um novo procedimento, um cateterismo, pela imprensa.
A estratégia de comunicação sobre o estado de saúde de Lula, o representante maior de uma instituição com mais de 130 anos, é realizada pela primeira-dama, Rosângela da Silva, que nem é médica e nem entende de comunicação. Há algo muito errado nisso.
Kalil
A cena que resume o resultado dessa bagunça é que mostrou o médico do presidente, Roberto Kalil Filho, dando uma entrevista coletiva sem nenhum tipo de preparação.
A entrevista foi improvisada na calçada do hospital, para dezenas de jornalistas que se engalfinharam tentando captar alguma explicação depois que a nota indicando novo procedimento provocou confusão.
O profissional de saúde levou microfonadas, empurrões, quase não conseguiu ficar de pé no meio do tumulto, e a maior preocupação era tentar explicar como um boletim médico ao meio-dia dizia que estava tudo bem, outro boletim, quatro horas depois, dizia que um novo procedimento seria feito na cabeça do presidente e, ainda assim, “tudo estava dentro do esperado”.
O problema da comunicação mal feita é que, mesmo estando tudo bem de verdade, sempre vai ter alguém que desconfia.
Decisão de Janja e Lula
O doutor Kalil é seguro e passa confiança quando fala sobre o estado de saúde do paciente, não é diferente com Lula. Mas no meio da entrevista ele deu uma informação importante para entender a maluquice que se tornou a comunicação oficial do governo.
Segundo ele, a decisão dos médicos era de não divulgar nada na quarta-feira (11) e só comentar sobre o novo procedimento a ser feito durante uma coletiva que aconteceria nesta quinta-feira (12).
A ideia dos médicos, correta, era que por não ser uma nova cirurgia e sim um procedimento simples, seria bom ter mais tempo e calma para explicar, evitando especulações.
Ele contou, entretanto, que Janja e Lula decidiram que deveria ser divulgado logo. Foi quando deu-se o caos e as especulações começaram.
Ouvi falar
Muitos na comunicação do Palácio do Planalto ficaram sabendo da informação pelo Instagram do presidente que, pelo visto, é a primeira-dama quem comanda. Alguns souberam pela imprensa, através de informações divulgadas à jornalistas mais próximos de Janja.
Perdeu-se a institucionalidade da comunicação e isso é um risco muito grande não apenas pela ausência de estratégia discutida e pela falta de diálogo sobre as consequências de cada palavra e ação, mas também pelo balaio de especulações que isso pode produzir.
Bastou a nota ser divulgada sem maiores explicações e logo já havia gente questionando nas redes sociais quem assumiria a presidência com a “morte de Lula”.
Troca logo
Se o presidente perdeu a confiança em sua equipe de comunicação e está disposto a mudar todo mundo, que faça isso o mais rápido possível. Ou que o ministro Paulo Pimenta (PT), ciente da finitude de seu período no cargo, entregue-o de vez como ato honroso.
O que não é possível é ter a primeira-dama que já se envolveu na economia e nas relações internacionais do país, agora também se envolvendo na comunicação e provocando esse caos.
Se a comunicação do governo está morta, que a declarem logo dessa forma e a deixem ser substituída. Improviso não combina com momentos críticos como a internação de um presidente.