COLUNA ENEM E EDUCAÇÃO

Um novo tempo para (re) aprender

Reflexões sobre o primeiro dia de aula, nesta segunda-feira (04), após as férias nas escolas da rede privada de Pernambuco

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 04/05/2020 às 23:18 | Atualizado em 07/05/2020 às 12:23
YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
Escolas, professores, alunos e famílias vivem um novo momento na educação. Desafios ficaram ainda maiores depois da pandemia de covid-19. - FOTO: YACY RIBEIRO/JC IMAGEM

Não queria terminar esta segunda-feira (04) sem colocar aqui algumas reflexões minhas ou que recebi de pais e mães de alunos de escolas particulares de Recife. A primeira é que foi bem difícil, para quem tem filhos pequenos, alunos da educação infantil ou dos anos iniciais do ensino fundamental (o meu caso), cumprir com as atividades do home office enquanto eles tinham aulas remotas. Nós, pais, tivemos que literalmente assistir às aulas com eles pois devido à pouca idade, falta-lhes maturidade para encararem essa tarefa sozinhos. Para os mais velhos, dos anos finais do fundamental e ensino médio, não houve tanto problemas em relação a isso.

Outra constatação é que os grupos de whatsapp foram, especialmente hoje, essenciais para fazer o formato remoto funcionar. Em meio a dúvidas de como acessar às plataformas ou simples sugestões para desligar os microfones durante as aulas, o troca troca de informações entre os pais ajudou a diminuir os percalços da estreia (para boa parte das escolas). Também para desabafar, pós-aula, sobre os problemas enfrentados e como resolvê-los da melhor forma.

Escolas que investiram na comunicação prévia com as famílias tiveram menos dificuldades nesta segunda-feira. Várias realizaram reuniões virtuais, semana passada, para explicar como seria a dinâmica das aulas, responder perguntas dos pais, esclarecer questionamentos, testar as plataformas. Fez toda diferença. Colégios que negligenciaram esse planejamento enfrentaram pais estressados, professores idem e crianças frustradas. Além de terem perdido tempo com ajustes que poderiam ter sido feitos antes.

Se para as escolas a junção de turmas de uma mesma série no mesmo ambiente virtual otimiza a logística, na prática complica para os alunos. Ouvi muitas queixas de adolescentes dos anos finais do fundamental e do ensino médio que não conseguiram interagir com os docentes. Casos de uma escola que juntou quatro turmas do 9º ano, somando mais de 150 estudantes para terem aulas ao mesmo tempo. Bem complicado.

Sobre os professores. Se antes da pandemia já mereciam nosso reconhecimento pelo trabalho que fazem, agora mais ainda. A maioria teve que encurtar as férias e participar de reuniões online ou presenciais nas escolas em que lecionam para planejar, em pouquíssimo tempo, as atividades remotas.

Segundo o sindicato dos docentes da rede privada, foram feitas mais de cem denúncias ao Ministério Público do Trabalho a respeito do descumprimento das leis trabalhistas. Sem falar da quebra do isolamento social. Muitos estão indo para as escolas para ministrarem as aulas virtuais quando a recomendação das autoridades sanitárias é para que fiquem em casa.

Os docentes estão empenhados em fazer o melhor. Estão aprendendo, na marra, a se adaptar à (nova) rotina de atividades remotas. Transformar aulas presenciais em virtuais, mesmo que não tenham a menor experiência nisso. Buscando o melhor, se desdobrando para ensinar do jeito que for preciso. Por isso, pensar em estratégias diferentes, conforme a etapa do ensino, é imperativo.

Porque outra constatação, nesta segunda-feira, que a maioria das famílias da educação infantil temia: não dá para ter aulas à distância com crianças miúdas, com 3, 4 ou 5 anos. Não funciona, mas as coordenações e direção dos colégios insistem pois precisam garantir a oferta do serviço e consequentemente o pagamento das mensalidades.

Já ouvi de muita gente que a pandemia vai nos transformar. Que não seremos os mesmos depois que tudo isso passar. Pois bem. Na educação, essa mudança começou há algumas semanas e neste reinício de ano letivo ficou mais evidente. Se vai dar certo, não sabemos.

O que precisamos é de muita paciência - com a escola, com os professores, com os filhos - para vencer os desafios. Precisamos também que as escolas que escolhemos para nossos filhos se mostrem parceiras, se comuniquem, entendam nossas angústias e encontrem conosco os melhores caminhos. Um dia de cada vez, uma aula e depois outra. Porque o novo coronavírus exige de nós, pais e educadores, um reaprender. E que façamos com leveza, com amor e diálogo, sem complicar tanto.

 

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