Uma professora da rede municipal de Taquaritinga do Norte, no Agreste de Pernambuco, precisou se reinventar por causa da pandemia da covid-19. Com as aulas presenciais suspensas, Maria José da Silva, 69 anos, se viu diante de um grande desafio: dar aulas de forma remota, mesmo sem ter habilidades com tecnologias. O risco de contrair o novo coronavírus fez com que ela se refugiasse com as irmãs em um sítio na zona rural de Brejo da Madre de Deus, também no Agreste.
Sem conseguir instalar internet na residência, contou com o apoio de uma vizinha, que cedeu o sinal sem fio. Para não atrapalhar a rotina da casa da moradora, ela decidiu que ficaria do lado de fora. Desta forma, montou uma estrutura improvisada, com uma cadeira de balanço, um toldo e um banco de apoio, próximo a uma árvore, às margens de uma estrada de terra.
A educadora ensina todas as matérias para os alunos do 3º ano do ensino fundamental, que têm entre 7 e 8 anos de idade. A turma é formada por 30 alunos, mas segundo ela, menos da metade realiza as atividades. As aulas ocorrem através do WhatsApp; é pelo aplicativo de mensagens que Maria José envia fotos dos livros, áudios com explicações e tarefas de casa, e depois faz a correção.
Preocupada se daria conta de desempenhar o trabalho através das redes sociais, Maria José, que leciona há quase 20 anos, pensou em desistir e encontrar uma substituta. "No início eu me apavorei muito, cheguei a chorar. Foi difícil para mim, achei que não ia conseguir. Disseram que tinha que ser a professora da sala, que iam me ajudar. Me deram uma força muito grande", relembrou, sobre a Secretaria de Educação do município.
A rotina de Maria José segue das 8h às 12h, horário em que ela fica disponível para conversar com os estudantes, através dos pais e responsáveis, na sala de aula improvisada. Ela lamenta que nem todos os alunos estejam acompanhando o conteúdo, e afirma que tenta atingir a todos: "Minha parte está sendo feita".
Para ela, o ensino à distância faz com que muitos pais fiquem mais próximos dos filhos na hora de acompanhar a aprendizagem. "Não é melhor do que presencial, porque eles precisam brincar, interagir com o coleguinha, da socialização. Mas é válido, sim, basta a gente querer".
A professora se diz emocionada ao perceber que os trabalhos, mesmo com todas as dificuldades, dão resultado. "Me emocionei outro dia, toda vez no fim de uma atividade eu gosto de parabenizar o aluno, mesmo que ele erre, para que ele se sinta feliz [em estar aprendendo]. Ele disse: 'agradeço as suas aulas'. Ouvir isso de uma criança é muito valoroso. É importante a gente ver que abriu caminhos para alguém".
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