De nada vai servir a autorização do governo para a retomada das aulas presenciais, em escolas públicas e privadas, se o principal responsável pelo ensino não estiver nelas. Não adianta protocolo, organização dos espaços e alunos nas salas se o professor não comparecer para lecionar. Em Pernambuco, as atividades nos colégios podem recomeçar, gradativamente, a partir do dia 6 de outubro, apenas para o ensino médio. Para as famílias há a opção de manter os filhos em casa, caso não se sintam seguras para mandá-los à escola por causa da pandemia de covid-19. Para a maioria dos docentes, entretanto, essa alternativa só se dará se fizerem greve ou conseguirem na Justiça a proibição do retorno presencial.
Em todo o País, os mestres estão preocupados com os riscos de contaminação. Pesquisa “Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do coronavírus no Brasil”, realizada pelo Instituto Península com mais de 3.800 docentes de redes públicas e particulares, revela que 86% deles consideram que o principal desafio na volta das aulas presenciais é ter condições sanitárias adequadas para evitar a disseminação do vírus.
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Com 25 anos de magistério, o professor Jairo Andrade, 45 anos, ensina física em quatro colégios, sendo um público (Escola Estadual Dona Leonor Porto, em São Lourenço da Mata, no Grande Recife) e três privados (Damas, Marista e Saber Viver, todos no Recife). Por quatro anos e meio foi o diretor da escola pública. Deixou o cargo em 2017. “São realidades muito diferentes. Acho que a rede privada se preparou e o retorno pode acontecer. Na rede pública é mais difícil. Se falta água num colégio particular, rapidamente o gestor compra um carro-pipa. Na escola pública não é tão simples. Nem sempre dá para resolver, pois falta recurso. Em São Lourenço há um problema sério de abastecimento d’água”, observa Jairo.
“Na Escola Dona Leonor as salas são bem estruturadas. Mas há outras na cidade que não têm condições de manter o distanciamento dos alunos. Têm salas sem janelas e muitas vezes com ventiladores quebrados”, diz o professor. Por ter sofrido um infarto anos atrás, ele integra grupo de risco e permanecerá dando aulas pela web.
Os cerca de 42 mil professores da rede estadual decidiram entrar em estado de greve. Quarta-feira (30) realizam assembleia para decidir se decretam a paralisação. Mas a categoria já anunciou que não atenderá a convocação da Secretaria de Educação de Pernambuco para estar nas escolas a partir desta semana. E que poderá judicializar a questão. Amanhã a direção do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) tem nova reunião com o secretário estadual de Educação, Fred Amancio (houve uma quinta-feira passada).
Na rede particular, os professores têm a mesma preocupação e também fazem assembleia virtual na quarta (30) para decidir se iniciam o estado de greve. Segundo o sindicato da categoria, nem todas as unidades de ensino estão prontas para voltar. Há 28 mil docentes em escolas privadas de Pernambuco.
“Somos professores. Gostamos de estar na sala de aula. Não somos contra o retorno presencial, desde que haja segurança sanitária. Entendemos que não há condições de voltar agora. A escola é um local vivo, com crianças e adolescentes. É diferente de um shopping, onde as regras podem ser seguidas mais facilmente”, ressalta a vice-presidente do Sintepe, Valéria Silva.
“É injusto dizer que não queremos ensinar. Com o ensino remoto estamos trabalhando muito mais, nos esforçando para que, mesmo em situações adversas, os alunos aprendam”, observa.
Presidente da União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Umes) e vice-presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) no Estado, Kelvin Rodrigues concorda com a não retomada das aulas presenciais neste momento.
EXCLUSÃO DIGITAL
“A maioria das escolas não tem estrutura adequada. Ao mesmo tempo queremos que haja controle do ensino online. O governo estadual deu internet, porém muitos alunos não conseguem acessar porque não possuem equipamentos. A exclusão digital é um problema sério”, diz Kelvin. “Vamos propor a criação de uma comissão para fiscalizar a educação a distância. Também pretendemos denunciar aos Conselhos Tutelares e Conselho Estadual de Educação a violação do direito à educação”, informa.
No interior do Estado, além da preocupação com o cumprimento dos protocolos, há a necessidade de garantir o transporte escolar com segurança. Na maioria das cidades, o ensino médio é ofertado em escolas urbanas. Os estudantes que moram na zona rural utilizam ônibus contratados pelas prefeituras para levá-los às escolas municipais, que ainda estão
sem previsão de retorno.
LEVANTAMENTO
A 10 dias para a volta das aulas presenciais para turmas do 3º ano do ensino médio, marcada para 6 de outubro, a Secretaria de Educação de Pernambuco não sabe exatamente ainda quantos professores do seu quadro possuem comorbidades e que, portanto, precisarão permanecer em casa por serem do grupo de risco da covid-19. Segundo a pasta, vem sendo realizado um levantamento por meio de autodeclaração, mas os dados são preliminares.
“Com o retorno dos professores esta semana, poderá ser realizada uma verificação mais específica”, informa a secretaria. Embora os alunos só voltem dia 6, os docentes foram convocados para já comparecerem às unidades. A rede estadual tem cerca de 575 mil alunos, sendo 290 mil no ensino médio, distribuídos em 758 escolas. O órgão não soube informar quantos docentes lecionam nessa etapa.
Caso o professor necessite continuar no trabalho remoto, deverá apresentar atestado médico justificando o não retorno à escola. As situações de docentes que convivem com familiares com comorbidades serão avaliadas caso a caso.
Questionada se será feita testagem em massa do corpo docente e demais funcionários da rede, a pasta informa que “não existe nenhuma indicação científica nem faz parte do protocolo dos órgãos de saúde brasileiros e internacionais a testagem prévia em todos os profissionais”
A secretaria, localizada no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, terá um centro de testagem que funcionará mediante marcação e é exclusiva para profissionais da educação. No caso de resultado positivo, familiares deles terão direito ao teste. Mas o órgão ressalta que há outros locais no Estado disponíveis para realização do exame.
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