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Demissões, menos bolsas e interrupção de projetos: o impacto do corte de verbas na UFPE e UFRPE

Gestões das universidades tiveram que ajustar contas para se adequar à diminuição do repasse de recursos pelo governo federal

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Margarida Azevedo

Publicado em 27/06/2021 às 7:00 | Atualizado em 27/06/2021 às 10:59
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Demissão de funcionários terceirizados, não abertura de novas bolsas de assistência estudantil, redução de bolsas de extensão, não aquisição de novos equipamentos e montagem de laboratórios, paralisação de obras e interrupção de projetos. Com menos dinheiro para bancar custeio e manutenção, essas foram algumas das ações adotadas nas Universidades Federal de Pernambuco (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) diante do corte, por parte do governo federal, no orçamento das instituições federais de ensino do País. A diminuição dos recursos causou impacto em praticamente todas as áreas das duas universidades e obrigou as gestões a ajustarem seus planejamentos a fim de garantir a continuação das atividades acadêmicas, de pesquisa e de extensão.

Na UFPE, o orçamento previsto para 2021 era de R$ 130 milhões, mas 13,8% estão bloqueados, o que representa R$ 19 milhões a menos no que a universidade esperava receber. Vale destacar que o montante desde ano é menor que o de 2020, que foi R$ 160 milhões.

Com a reorganização interna na distribuição das verbas, o reitor Alfredo Gomes informa que os 13 centros que compõem a universidade receberam, cada um, menos 25% do total que iam ganhar para pagamento de despesas como manutenção dos prédios, por exemplo. Entre as oito pró-reitorias, seis amargaram um corte de 20% nos seus orçamentos. Na Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (Propesqui), a diminuição foi menor, 10%, enquanto a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) o ajuste foi maior, 25%.


"Definimos o que era prioritário, onde poderíamos cortar. Mas mantemos a luta para recompor integralmente o que estava previsto pois são R$ 19 milhões a menos de um orçamento que já é defasado em relação ao ano passado", destaca o reitor da UFPE, Alfredo Gomes. "Não teremos condições, infelizmente, de abrir novos editais para bolsas de assistência estudantil", lamenta Alfredo.

O que a atual gestão conseguiu foi assegurar dinheiro para pagar, somente por mais três meses (até setembro, portanto), as bolsas de quem já está incluído em algum dos programas. Há hoje 5.449 estudantes bolsistas, nos três câmpus (Recife, Caruaru e Vitória de Santo Antão). No total a UFPE paga 8.347 bolsas de assistência estudantil (alguns estudantes acumulam mais de um benefício).

Emanuel George Bezerra da Silva, 24 anos, vai iniciar o curso de publicidade e propaganda no segundo semestre letivo, previsto para começar em janeiro de 2022, já que o calendário de aulas atrasou devido à pandemia de covid-19. Ele espera que até lá a situação financeira da UFPE esteja melhor pois precisará receber bolsa de assistência estudantil.

Morador de Paulista, no Grande Recife, Emanuel terá que pegar três ônibus para chegar na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife, e mais três para voltar para casa. "Meu pai é eletricista autônomo e ganha menos de um salário mínimo por mês. Ele me ajuda como pode, mas não vai ter como bancar minhas passagens. Atualmente as aulas estão remotas, mas será que em janeiro já não voltarão a ser presenciais? Não sei como farei", afirma Emanuel. "O pior é que não sou muito otimista e acho que as universidades federais ainda vão sofrer com mais cortes nesse governo", comenta o futuro publicitário.

DEMISSÕES

Na UFRPE, o orçamento de 2021 para despesas discricionárias era de R$ 58,7 milhões (um corte de 21% se comparado com 2020). Inicialmente foram bloqueados pelo governo federal 13,8%, o que representa cerca de R$ 8 milhões a menos. Na semana passada houve a liberação de R$ 3,3 milhões (5,8% que estavam retidos). Resta, portanto, receber R$ 4,7 milhões (8%), além do corte de 21%, que permanece sem perspectiva de reversão ou alteração.

Com menos verba, uma das saídas que a atual gestão adotou foi demitir 10% dos trabalhadores terceirizados, o que representou 70 pessoas. "Com exceção dos cargos de vigilância, cortamos nos quadros de pessoal da limpeza, de manutenção predial e de apoio administrativo. São pessoas que infelizmente perderam seus empregos e que não vão ter como levar alimento para suas famílias. Mas não tivemos outra saída", lamenta o pró-reitor de administração da UFRPE, Mozart Oliveira. Ele estima que os recursos para manter a Rural funcionando serão suficientes até novembro, no máximo.

"Não esperava ser demitida. Além de dificultar o orçamento da casa pois agora estou desempregada, mexeu muito com o meu emocional. Estou com receio de entrar em depressão", diz Ábia Mendes, 52 anos, que trabalhou como auxiliar de serviços gerais terceirizada na UFRPE por 26 anos. Ela foi desligada no início deste mês de junho.

"A universidade está crescendo e por isso nossas despesas aumentam ano a ano, enquanto o orçamento só faz cair. Prestamos serviços de extrema relevância para a sociedade e não queremos perder a qualidade. Mas com cortes e bloqueios isso vem ficando cada vez mais complicado", observa a pró-reitora de Planejamento, Carolina Raposo.

 

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