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50 melhores escolas do mundo: conheça a escola de Cabrobó, no Sertão de Pernambuco, uma das finalistas

Escola de Referência em Ensino Fundamental Evandro Ferreira dos Santos, de Cabrobó, é finalista do Prêmio Melhores Escolas do Mundo

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Margarida Azevedo

Publicado em 13/06/2022 às 20:27 | Atualizado em 13/06/2022 às 21:07
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Em plena pandemia de covid-19, mães que aprenderam a ler e escrever na mesma escola que seus filhos estudam. Ou que foram estimuladas a seguirem seus sonhos. Foi com esse objetivo que nasceu o projeto “Distantes sim, desconectados não! Família e escola projetando sonhos, promovendo a inclusão”, na Escola de Referência em Ensino Fundamental Evandro Ferreira dos Santos. A unidade de ensino, que faz parte da rede municipal de Cabrobó, no Sertão de Pernambuco, é uma das 50 escolas finalistas do Prêmio Melhores Escolas do Mundo (“World’s Best School Prizes em inglês).

Organizada pela instituição britânica T4 Education, em parceria com Fundação Lemann, Fundação Templeton World Charity, Accenture, American Express e Yayasan Hasana, a premiação escolheu 50 escolas em todo o mundo, em cinco categorias: inovação, colaboração comunitária, ação ambiental, superação da adversidade e apoio a vidas saudáveis. As unidades se candidataram no início deste ano e passaram por uma seleção. O resultado saiu no início deste mês.

A escola de Cabrobó concorre na categoria superação da adversidade. Outros dois colégios brasileiros integram a lista das 50 melhores no planeta: uma escola da rede estadual de Pernambuco, a Etepam, localizada no Recife, na categoria inovação. E outra da rede municipal da cidade gaúcha de Novo Hamburgo, na categoria colaboração comunitária. As demais finalistas são unidades de países como Chile, Japão, Reino Unido, África do Sul e Jamaica, Quênia, Nigéria, Malásia e Austrália, entre outros.

PANDEMIA

A Escola Evandro Ferreira dos Santos fica na periferia de Cabrobó, no bairro Santa Rita. É a única de ensino integral da rede municipal. A maioria dos alunos é de famílias de baixa renda.

Os 144 estudantes são de turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Eles chegam na escola às 7h30 e largam às 15h. A escola só abre vagas para novatos do 6º ano. Em média são oferecidas 80 vagas, com preenchimento por ordem de chegada.

Ano passado, quando a pandemia de covid-19 ainda estava em alta, as escolas municipais de Cabroró só abriram para aulas presenciais em setembro. Mas a Evandro Ferreira dos Santos manteve aula remota todo o ano letivo porque o prédio da escola estava em reforma.

"Passamos o ano distribuindo kit de merenda, tarefas para os alunos. As famílias, principalmente as mães dos alunos, vinham até a escola buscar. Percebemos que muitas não assinavam a ficha comprovando que haviam recebido o material porque não sabiam ler e escrever", conta a diretora Elineide Alves. "Também notamos uma desmotivação das mães. Foi quando surgiu o projeto de juntar uma ação de alfabetização e motivação das mães", diz Elineide.

PARTICIPAÇÃO

No final de julho começou o projeto com a participação de 20 mães. Duas vezes por semana, à tarde, elas foram até a escola para ter aulas por 2 horas. "As que não sabiam ler e escrever aprenderam. As que já sabiam foram estimuladas a resgatar seus sonhos, projetá-los e ir em busca da realização deles", explica a diretora. A ação acabou no final do ano com 10 alunas. Foi retomada em abril deste ano e está com a mesma média de participantes, 20 mulheres.

"Além do investimento na educação e autoestima das mães, melhoramos o desempenho dos filhos delas pois muitas passaram a se interessar mais pelos estudos das crianças. E conseguiram ajudar os filhos nas tarefas", comemora a gestora da escola. Uma das ações para assegurar a presença delas foi a oferta, no mesmo horário do projeto, de aulas de reforço para os estudantes.

SONHOS

Uma mãe contou que tinha vergonha porque sua carteira de identidade tinha que ela era analfabeta. Aprendeu a escrever no projeto. Tirou uma nova carteira esse ano e está muito feliz, segundo Elineide. Ano passado o projeto foi conduzido pela professora Fernanda Sheilânia, contratada especialmente para a iniciativa.

Diana Maria Linhares da Silva, 47 anos, foi umas participantes do ano passado. Mãe de quatro filhos (17, 15, 13 e 11 anos), ela concluiu o magistério em 2005, quando teve o primogênito. Nunca mais voltou pra sala de aula nem tinha conseguido emprego formal. Agora, depois do projeto, é funcionária da escola onde seus dois filhos caçulas estudam.

"Acabei o magistério e passei a cuidar dos filhos, do marido, da casa. Trabalhei na roça, fiz muita faxina para ganhar dinheiro. Mas nunca tinha trabalhado com contrato assinado. Participei do projeto, fui muito incentivada pelas professoras e pela diretora", diz Diana. Seu sonho era justamente trabalhar. No início deste ano foi chamada pela direção da escola para ser auxiliar de serviços gerais.

RESULTADO

A premiação terá mais duas etapas. Em setembro serão anunciadas as três melhores escolas de cada categoria. Já as vencedoras vão ser conhecidas durante a Semana Mundial da Educação, em outubro. Cada escola vencedora receberá prêmio de 50 mil dólares.

A escola de Cabrobó concorre com projetos de escolas do Quênia, Nigéria, Jamaica, África do Sul, Uganda, Índia, Malásia e  Austrália. A África do Sul tem dois colégios na final da premiação.

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