Relator do Novo Ensino Médio vê como positiva a percepção dos jovens ingressantes sobre a flexibilidade na escolha das disciplinas
A pesquisa realizada pelo Datafolha foi encomendada pela ONG Todos Pela Educação e ouviu 462 pessoas de 14 e 16 anos, de escolas públicas e privadas, em todas as regiões do país
A preferência de 65% dos estudantes ingressantes do ensino médio por um currículo flexível, nesta etapa da vida escolar, segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha, foi vista com bons olhos pelo deputado federal Mendonça Filho (União-PE).
O parlamentar, que é relator do Projeto de Lei 5230/23, do governo federal, que propõe alterações nas diretrizes do modelo implementado desde 2022, afirma que o levantamento reforça a vontade dos jovens estudantes de quererem protagonizar os seus próprios projetos de vida, atrelado ao desejo de poderem cursar o ensino técnico de forma integrada e com qualidade.
"A reforma foi modernizadora e importante para o Brasil. Sem dúvida eles [os dados do Datafolha] vão reforçar o meu relatório. Eu cedi ao MEC, busquei o meio termo, mas não vou relatar um projeto para rasgar os pressupostos do novo ensino médio que estabelece flexibilidade curricular, protagonismo do jovem, e integração com a educação técnica profissionalizante", explicou Mendonça Filho à coluna Enem e Educação, do Jornal do Commercio.
A pesquisa realizada pelo Datafolha foi encomendada pela ONG Todos Pela Educação e ouviu 462 pessoas de 14 e 16 anos, de escolas públicas e privadas, em todas as regiões do país. As entrevistas foram realizadas entre 29 de janeiro e 9 de fevereiro de 2024. A margem de erro é de cinco pontos percentuais (para mais ou para menos), com nível de confiança de 95%.
No estudo, foi perguntado aos jovens que mostraram interesse em fazer um curso técnico integrado ao ensino médio se eles desistiriam dessa opção caso tivessem menos aulas de disciplinas que caem nas provas do Enem e de vestibulares. Para essa questão, 77% indicaram que ainda escolheriam fazer o técnico, e 21% disseram que desistiriam da opção.
"Só quem é contra isso são setores atrasados da educação, que não querem modernizar a educação brasileira. O mundo todo já pratica isso há muito tempo e nós só temos 10% das matrículas em educação de nível médio integrada com o ensino técnico. Na Europa, isso representa mais de 40%, então nós estamos muito distantes. Educação técnica gera empregabilidade, melhora da renda, e o jovem compreende isso", defendeu Mendonça Filho.
DISCUSSÃO RERQUER URGÊNCIA
O presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Arthur Lira (PP-AL) fixou o prazo de votação do projeto da reforma do novo ensino médio para até o fim deste mês de março. Especialistas em educação defendem que as alterações do novo ensino médio possam ser definidas com celeridade, já que o modelo aprovado em 2017, no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), passou a vigorar nas escolas em 2022, último ano da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"O substitutivo que apresentei preserva a reforma de 2017, contempla algumas preocupações do atual governo, mas não rasga e não desfaz a reforma do ensino médio como propôs a gestão atual do PT, que queria uma revogação. Essa pesquisa do Datafolha é insuspeita e mostrou que a proposta petista e de setores à esquerda está na contramão do desejo dos jovens", disparou Mendonça Filho.
Para a Socióloga e titular da Catedra Instituto Ayrton Senna e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães, a pesquisa Datafolha/Todos Pela Educação mostra que os alunos têm uma visão mais clara dos benefícios do novo ensino médio e que, a partir desse entendimento, se faz urgente definir o que vai acontecer com o futuro desta etapa da educação básica.
"No ano passado, no inicio do governo Lula quando houve uma portaria do ministro da Educação suspendendo as mudanças do novo ensino médio e abrindo consulta pública, gerou uma grande insegurança nas escolas, nos estudantes. Houve uma grande imprevisibilidade até do ponto de vista jurídico sobre o que iria acontecer com o novo ensino médio", afirmou a professora Maria Helena Guimarães em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, desta terça-feira (12).
A docente defende que para que a reforma possa obter o êxito esperado, é importante ter um olhar atento a capacitação dos professores. "A preparação dos professores para a implementação da reforma é um dos aspectos mais importante para que a reforma funcione, para que os alunos aprendam e para que o ensino médio avance. Não tem outra alternativa. Sem uma formação, sem a preparação adequada dos professores não tem como dar certo", frisou.
O QUE DIZ O SUBSTITUTIVO?
No substitutivo apresentado pelo relator da proposta, o deputado Mendonça Filho, alguns pontos foram acatados conforme sugeridos pelo governo federal, por meio do Ministério da Educação.
No texto, os pontos acatados são: os componentes curriculares; ampliação progressiva da carga horária (tempo integral); reconhecimento de aprendizagens, competências e habilidades em experiências
extraescolares; manutenção da BNCC; ensino presencial - admite excepcionalmente, ensino mediado por tecnologia para a oferta de EJA, de educação do campo, indígena, para os vazios demográficos etc; aprimoramento dos itinerários formativos para estabelecer uma oferta mais equânime; diretrizes nacionais de aprofundamento das áreas de conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências sociais), por parte do MEC, com participação assegurada dos sistemas estaduais e distrital de ensino.
O principal ponto de divergência está na carga horária. O parlamentar estabeleceu um teto de 2,1 mil horas para a formação geral básica, enquanto o Ministério da Educação defende que sejam 2,4 mil horas, com 600 horas para as matérias optativas, e com a possibilidade de que a educação técnica cumpra apenas 2,1 mil horas.